(Do livro Cidade Aritmética, prêmio Souzândrade´, poesia,
de 1996, São Luís, edições FUNC)
TANGENTE
O mar era ainda mais
o mar
e o palpitar de tudo
o que era vida
batia no muro do céu
e se refletia
em sua amplidão e
superfície
Um pássaro que
sobrevoava
a longa calma em azul
sobre a marinha
tombou
e do céu caiu
oblíquo, projétil carnal de luz,
ponte pênsil entre as
amarras de espuma
e nuvem, pedra dura
em rota marítima
pouca
de destino
mas, a medida que
afundava
as ondas se
infestavam dos fantasmas
dos seus ossos,
aquosos, cintilando
entre as espumas como
vagas ou centelhas
Um músculo do mar
moveu-se então
como um murmúrio da
história
arrancado de entre as
águas, ponto de ardor
pleno de morte,
partícula de sal tocada
pela
dor
e o pássaro continuou
então sua trajetória
de onde há pouco pousara
por descuido
por um instante
tangente
à
superfície do mar.
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