É ela, a
Rotina. Lá vem ela de novo, a pecadora
de todos nós. Oscar Wilde dizia que não existe pecado maior que o tédio. Existe
sim, aquela que é a mãe do tédio: A ROTINA. A desvairada, a contínua, a
perturbadora, a insistente. Eu não a
quero, você não a quer, ninguém a quer, mas ela vem, ela vem, ela vem...
Por que nunca se renova, essa bruxa
persistente? Ao invés disso prefere se disfarçar de Deus, das horas, do tempo.
Traz todos os dias o mesmo café, o mesmo
sol, o mesmo trabalho, a mesma urgência das coisas. Talvez por ter parte com a
eternidade, além de tudo é intrometida: mete-se na nossa comida (é péssima
cozinheira e se um dia comemos algo maravilhoso, lá pela terceira vez ela chega para botar gosto ruim). Mete-se em
nossa vida particular, até no nosso amor ela tenta se imiscuir como um cupim e
transforma paixão em sensaboria. Ela é
tão terrível que faz o danado do cupim virar rotina em nossos móveis, nas
páginas de nossos livros.
Alguém disse que todo dia é uma nova
vida para aquele que sabe viver. Bonito pensar assim, mas todos sabemos que a vida humana é apenas um breve
relâmpago e que, para fazê-la brilhar você tem que aprender que “saber viver não é
tão fácil assim”. Como sentencia de novo Oscar Wilde (já virando rotina): a
maioria das pessoas apenas existe, viver é para poucos. Claro, porque quem sabe
viver não viveria com políticos como esses, com um engarrafamento desses, com músicas
de duplas sertanejas fajutas como essas, com corruptos assim. A dona Rotina é uma
implicante tão contumaz que possui um
relógio infalível chamado tempo que, como uma arma, vive apontando para nossas
cabeças. E inda tem a coragem de nos perguntar: “E aí, se já cansou de mim, que
tal um suicídio?”
Uma dúvida permanece. Por que não a
expulsamos de vez?
Poderíamos dar um grito de liberdade
a cada segundo e isso seria suficiente para espantá-la, pois a única coisa que
teme é a liberdade. A liberdade de pensar, de agir, de renovar-se a cada
momento pela imaginação, a única forma de superar as mais tediosas realidades. Mas preferimos nos agarrar à
escravidão que ela nos traz: às opiniões alheias, ao inconsciente coletivo, ao
politicamente correto, à mesmice das competições bobas da tevê, aos celulares carentes de emoções.
Ou será que, no fundo, gostamos um
pouco dela? Do que ela tem de constante e exato? Do seu jeito de nos despertar
e adormecer sempre da mesma forma? Quantas vezes nos apegamos tanto a ela que
ao invés de ela ser o nosso cupim nós é que como cupins, a alimentamos, pois,
de repente, já nem sabemos o que fazer sem a sua companhia. Quando ela nos
falta logo pensamos: tem alguma coisa estranha no ar. Está faltando uma lâmpada
ali, um cigarrinho aqui, está faltando aquele sofá onde sento e durmo, aquele som do aparelho, está faltando o
ar. Talvez porque saibamos que um
dia morreremos e então mudará a rotina. Ou por julgarmos que por pior que seja
a nossa rotina, isso ainda é melhor que o
desconhecimento ou o nada.
No fundo, gostaríamos que ela viesse
sempre para, agradecidos, dizermos: Bendita rotina da vida!
José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas
Nenhum comentário:
Postar um comentário