sábado, 14 de julho de 2018

FIM DE COPA. VITÓRIA DO VIRA-LATA





artigo publicado no jornal O estado do Maranhão


Em 1958 quando o Brasil conquistou a sua primeira Copa do Mundo de futebol o escritor Nelson Rodrigues anunciou como definitivamente sepultado o que chamou Complexo de Vira-Lata, a seu ver um tipo de psique predominante nas mentes brasileiras, decorrente de auto depreciação, por sua vez decorrente de subdesenvolvimento e falta de perspectiva. No seu entendimento, a vitória  da Copa do Mundo mostrava pela primeira vez ao mundo o que os brasileiros eram capazes de fazer.
            De fato, embora muita gente ainda insista em relevar o futebol  a um degrau secundário toda a ressonância mundial em torno do mito/evento futebolístico com participação globalizada, hoje, 50 anos após , mostra que o cronista estava certo. Aliadas a outras conquistas, as vitórias nos campos de futebol fazendo do Brasil o primeiro Tri trouxeram visibilidade e autoestima favoráveis à Nação: agora tínhamos o primeiro Rei mundial, o incontestável Pelé.
            O complexo de vira-lata parecia definitivamente enterrado.
            O tempo passou o Brasil virou o decantado País do Futebol  Mesmo sem a exuberância do passado, o Brasil conquistou mais duas Copas. Ainda que  aos trancos e barrancos o futebol parecia estar aí para balizar o futuro de uma grande Nação.
            Até que uma tragédia futebolística aconteceu 4 anos atrás,  a partir da falta de planejamento e do endeusamento midiático de profissionais incapazes (Felipão, um técnico arrogante e tosco),  refletindo o que acontecia na administração pública: o 7 a 1, vergonhoso e acachapante, inibiu  a trajetória crescente de esperança  no rumo de uma nação do primeiro mundo  em paralelo a outras  forças negativas que se juntaram para espezinhar o orgulho popular,  quando muitos líderes  brasileiros foram presos ou suspeitos de transações corruptas.
            O que se esperava era que, após isso, a derrota servisse de farol para uma mudança de rumo. Como apreciador do  futebol apontei, antes desta Copa, como nocivo o endeusamento prematuro do técnico da seleção Tite.  Cheguei a ser contestado por leitores e amigos  e bem  que gostaria que não tivesse tido razão.
            Como todos sabem a seleção fracassou com um desempenho pífio. Mais lamentável, porém,  é que, logo após a derrota iniciou-se o processo de blindagem do técnico da seleção, na base “Uma vez feito santo, tem de continuar santo” num processo de aceitação da derrota que não enxerga os erros técnicos e táticos que foram cometidos, aos quais se adiciona  alguns detalhes inusitados e extravagantes. Basta elencar o  que a Tite foi concedido : desde o salário mais alto entre todos os técnicos  de seleções a até poder se acompanhar de seu grupo de auxiliares do Corinthians, inclusive o filho (25 pessoas). Convocou quem quis e bem quis, transformando a seleção numa espécie de sucursal do Corinthians. Por último, segundo o jornalista Mauro César, da ESPN, teve um privilégio jamais  concedido a outro: o de escolher seu próprio chefe: o Sr. Edu Gaspar, também corintiano, entronizado como diretor de futebol.
            Ora, tudo isso poderia ser aceitável tivesse havido uma contrapartida à altura. Ganhar de times fracos às  custas do talento individual de jogadores não configura meritocracia alguma. No único confronto mais difícil levou um baile tático do treinador da Bélgica para, após, voltar com a aura de puro (como cabe aos santos) e sorridente, como  se nada tivesse acontecido.







            Ora, o técnico Tite já demonstrou  ser um profissional  capaz e inteligente o suficiente para aprender com os erros e continuar. O deplorável é essa tentativa (sua, inclusive) de lustrar a participação da seleção brasileira como coisa digna, na base do “Se não perdeu de 7 a 1, está bom”,  o que configura uma aceitação de perdedor, de leniência com o fracasso e de tapar o sol com a peneira,  que tem o seu equivalente político no ‘rouba mas faz’.  Enfim, esse arsenal de pensamentos complacentes que um dia fez parte do imaginário coletivo da Nação.
            É o velho complexo de vira-lata que está de volta, rondando o país e nossas mentes.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis



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