artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Em 1958
quando o Brasil conquistou a sua primeira Copa do Mundo de futebol o escritor Nelson
Rodrigues anunciou como definitivamente sepultado o que chamou Complexo de
Vira-Lata, a seu ver um tipo de psique predominante nas mentes brasileiras,
decorrente de auto depreciação, por sua vez decorrente de subdesenvolvimento e
falta de perspectiva. No seu entendimento, a vitória da Copa do Mundo mostrava pela primeira vez ao
mundo o que os brasileiros eram capazes de fazer.
De fato, embora muita gente ainda
insista em relevar o futebol a um degrau
secundário toda a
ressonância mundial em torno do mito/evento futebolístico com participação
globalizada, hoje, 50 anos após , mostra que o cronista estava certo. Aliadas a
outras conquistas, as vitórias nos campos de futebol fazendo do Brasil o
primeiro Tri trouxeram visibilidade e autoestima favoráveis à Nação: agora
tínhamos o primeiro Rei mundial, o incontestável Pelé.
O complexo de vira-lata parecia
definitivamente enterrado.
O tempo passou o Brasil virou o decantado
País do Futebol Mesmo sem a exuberância do passado, o Brasil conquistou
mais duas Copas. Ainda que aos trancos e
barrancos o futebol parecia estar aí para balizar o futuro de uma grande Nação.
Até que uma tragédia futebolística
aconteceu 4 anos atrás, a partir da
falta de planejamento e do endeusamento midiático de profissionais incapazes (Felipão,
um técnico arrogante e tosco), refletindo o que acontecia na administração
pública: o 7 a 1, vergonhoso e acachapante, inibiu a trajetória crescente de esperança no rumo de uma nação do primeiro mundo em paralelo a outras forças negativas que se juntaram para
espezinhar o orgulho popular, quando muitos
líderes brasileiros foram presos ou
suspeitos de transações corruptas.
O que se esperava era que, após
isso, a derrota servisse de farol para uma mudança de rumo. Como apreciador do futebol apontei, antes desta Copa, como nocivo
o endeusamento prematuro do técnico da seleção Tite. Cheguei a ser contestado por leitores e amigos e bem que gostaria que não tivesse tido razão.
Como todos sabem a seleção fracassou
com um desempenho pífio. Mais lamentável, porém, é que, logo após a derrota iniciou-se o
processo de blindagem do técnico da seleção, na base “Uma vez feito santo, tem
de continuar santo” num processo de aceitação da derrota que não enxerga os
erros técnicos e táticos que foram cometidos, aos quais se adiciona alguns detalhes inusitados e extravagantes. Basta
elencar o que a Tite foi concedido : desde
o salário mais alto entre todos os técnicos
de seleções a até poder se acompanhar de seu grupo de auxiliares do Corinthians,
inclusive o filho (25 pessoas). Convocou quem quis e bem quis, transformando a
seleção numa espécie de sucursal do Corinthians. Por último, segundo o
jornalista Mauro César, da ESPN, teve um privilégio jamais concedido a outro: o de escolher seu próprio
chefe: o Sr. Edu Gaspar, também corintiano, entronizado como diretor de futebol.
Ora, tudo isso poderia ser aceitável
tivesse havido uma contrapartida à altura. Ganhar de times fracos às custas do talento individual de jogadores não
configura meritocracia alguma. No único confronto mais difícil levou um baile tático
do treinador da Bélgica para, após, voltar com a aura de puro (como cabe aos
santos) e sorridente, como se nada
tivesse acontecido.
Ora, o técnico Tite já demonstrou ser um profissional capaz e inteligente o suficiente para aprender
com os erros e continuar. O deplorável é essa tentativa (sua, inclusive) de
lustrar a participação da seleção brasileira como coisa digna, na base do “Se
não perdeu de 7 a 1, está bom”, o que
configura uma aceitação de perdedor, de leniência com o fracasso e de tapar o
sol com a peneira, que tem o seu
equivalente político no ‘rouba mas faz’. Enfim, esse arsenal de pensamentos complacentes
que um dia fez parte do imaginário coletivo da Nação.
É o velho complexo de vira-lata que
está de volta, rondando o país e nossas mentes.
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis
Nenhum comentário:
Postar um comentário