‘Os Filmes mais Tristes da História do Cinema’ é um título
demasiado imponente para uma seleção sujeita, como toda lista, a controvérsias. Claro, essa coisa de aquilatar
sentimentos e emoções diante de uma obra de arte é influenciada pela personalidade
de cada um e, tantas vezes, independe até
mesmo da obra e de sua absorção pelo receptor. Uma pessoa em estado excepcional
por razões fortuitas e alheias à sua vontade pode se sensibilizar com algo que em
outra ocasião não a deixaria em tal estado.
Confesso que
sou fascinado por listas e sou vítima de sua sedução irrecusável. Guardo, com
desvelo, dois volumes iguais de O Livro das Listas de Irving / Amy Wallace, o
segundo adquirido porque imaginei haver perdido o primeiro. Diante do assunto
desta crônica, testemunhado em um jornal, constatei que só havia presenciado a um
filme da citada seleção: À espera de um
milagre (Frank Daraboni, 1999); Amor
(Michael Haneke, 2012); Hotel Ruanda
(Terry George, 2004); O Garoto
(Charlie Chaplin) ; O Campeão (Franco
Zeffireli, 1979) e O Menino do Pijama Listrado
(Mark Herman 2008). Vi O Campeão e, talvez, o filme de Chaplin (O ‘talvez’
acontece porque minha memória não distingue um Chaplin de outro, tão marcantes
são as suas interpretações).
O
interessante é que O Campeão não me marcou com uma carga particular de
melancolia ou tristeza. Ao perscrutar a motivação dos demais a partir de suas resenhas
lembrei já haver estabelecido empatia com o tema de O Amor, de 2012, que ganhou o Oscar de melhor filme
estrangeiro. A narrativa é centrada em um casal de idosos, que vivem momentos
difíceis quando a mulher (Anne) se submete a uma cirurgia e tem metade do corpo
paralisado. Mesmo não tendo visto o filme faço ideia da carga emocional
envolvida que, certamente, o colocou lista. É um desses filmes que sacam o Amor
de sua redoma cosmética e comercial para coloca-lo na vala comum dos
sentimentos de dedicação e afeto necessários
para se continuar existindo, porque não há outra saída.
Os momentos
mais tristes que guardo do cinema, curiosamente, nem sempre estão ligados aos
filmes anunciados como tais São algumas cenas deslocadas em seu contexto, a
reboque do inesperado, que nos arrebatam da nossa tranquilidade e se tornam
marcantes pela comoção que nos assalta,
de repente. Lembro, sem rastrear a memória, que dos tantos filmes
que assisti uma das cenas mais pungentes foi a do filme A escolha de Sofia, no
momento crucial em que a personagem tem de escolher, entre os dois filhos que tanto ama, aquele que entregará ao seu algoz para morrer.
Outras cenas
tristes e marcantes das quais me lembro, surgem curiosamente, vindos da minha
memória de infância e adolescência, talvez porque as emoções estivessem mais à
flor da pele, ainda não cristalizadas pelas perdas futuras e irremediáveis de
entes queridos. Nelas porfiam o momento em que o príncipe Ben-Hur, em
desesperada busca de sua mãe e irmã escravizadas, as encontra num vale de leprosos, com os rostos desfigurados que tentam
esconder, em vão, entre lágrimas.
A despedida
do ET, do famoso filme, também foi um momento tocante que emociona pela forma
como o diretor soube expressar a, tão
bela quanto triste, arquitetura do sentimento dolorido da separação.
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