sábado, 31 de agosto de 2019

TUDO É MENTIRA. NADA É VERDADE





Quem -  de verdade - encara sua própria verdade? Isso é muito raro, esta é a verdade.
E nem mesmo   isso acontece porque o conceito de verdade seja complicado. Lembremos Jesus Cristo diante de Pilatos. O tribuno romano lhe perguntou: Quem é você? – Eu sou a verdade – respondeu Cristo. Pilatos retrucou: - E o que é a verdade? – Jesus Cristo, silenciando, nada disse.
Podem-se imaginar diversas  soluções para a resposta silenciosa daquele que se intitulava filho de Deus. Desde a de que ele se calou porque não sabia o que era a Verdade ( o que seria absurdo para um farsante que se quisesse passar por filho de Deus ) até a mais razoável,  que é a de que a Verdade não necessita de explicação. Ou em outras palavras, a verdade mais profunda e essencial dispensa palavras.
Talvez, por outro lado, quisesse também insinuar, como consequência,  que esse negócio de verdade não se deve cutucar com vara curta porque pode sair caro para aquele pergunta. Muito antes de Cristo, Confúcio, o filósofo chinês ensinava: “Conhece-te a ti mesmo” o que, em verdade significa: “Conhece a tua verdade”. Porém, nos dias que correm, em que as pessoas se amontoam à procura dos outros , fugindo de si mesmas (no Brasil em shows de música sertaneja de qualidade paupérrima , na mais desgraçada das ilusões), quem quer saber disso?
Estaríamos vivendo a plenitude de uma era em que as verdades manipuláveis e coletivas tornaram-se  mais interessantes em desfavor das verdades individuais e suas completudes? Deduz-se que sim, porque as verdades não estão ocultas, pelo contrário estão facilmente ao alcance das multidões ainda que estas não queiram pensar nisso Os políticos em sua maioria escancaram suas verdades (o tirar proveito a qualquer custo)  mas mesmo assim se confia e se vota neles;  os jogadores de futebol não ocultam as suas ( a obsessão pela grana, sem comprometimento com a camisa que vestem –que se reflete no fato de que nenhum jogador do Flamengo, por exemplo, levantou a voz para se solidarizar com as famílias dos  jovens assassinados no ninho do Urubu) mas,  mesmo assim, há quem se engalfinhe e morra por eles. As celebridades da mídia, por sua vez  exibem as suas ( a venda de suas felicidades baratas está na ordem do dia, mas mesmo assim há multidões dispostas a brigar nas redes sociais pela  escória  dessas felicidades ).
A verdade incomoda os seres humanos não de agora, mas nunca foi tão de somenos como hoje. Não é à toa que  gente sábia cravou que um ser humano não passa da soma de suas ilusões e que não suporta a verdade.
Tanto não suporta a realidade que até hoje os seres humanos se recusam a reconhecer gorilas e chimpanzés como do mesmo tronco ancestral que iniciou sua caminhada neste planeta.  E que são capazes de tratar os demais animais com torturante crueldade para se  alimentar numa matança desumana e cruel ( sem sequer amenizar seus sofrimentos)  como mostra uma edição da revista Superinteressante,  numa verdade que  jamais  seria exposta no Fantástico, por exemplo, pois tem que ser evitada para não ensombrecer as delícias dos churrascos, comilanças  e comemorações.
Verdades? Pra que elas servem ou serviram um dia? Ora, deixar a verdade pra lá sempre foi muito melhor.   Se ainda houver verdades nesta terra quem quiser que procure a sua. E que morra com elas!
                                                                       ewerton.neto@hotmail.com


José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas, que na primeira
edição se chamava O Prazer de matar


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