Quem - de verdade -
encara sua própria verdade? Isso é muito raro, esta é a verdade.
E nem mesmo isso
acontece porque o conceito de verdade seja complicado. Lembremos Jesus Cristo
diante de Pilatos. O tribuno romano lhe perguntou: Quem é você? – Eu sou a
verdade – respondeu Cristo. Pilatos retrucou: - E o que é a verdade? – Jesus
Cristo, silenciando, nada disse.
Podem-se imaginar diversas soluções para a resposta silenciosa daquele
que se intitulava filho de Deus. Desde a de que ele se calou porque não sabia o
que era a Verdade ( o que seria absurdo para um farsante que se quisesse passar
por filho de Deus ) até a mais razoável, que é a de que a Verdade não necessita de
explicação. Ou em outras palavras, a verdade mais profunda e essencial dispensa
palavras.
Talvez, por outro lado, quisesse também insinuar, como
consequência, que esse negócio de verdade
não se deve cutucar com vara curta porque pode sair caro para aquele pergunta. Muito
antes de Cristo, Confúcio, o filósofo chinês ensinava: “Conhece-te a ti mesmo”
o que, em verdade significa: “Conhece a tua verdade”. Porém, nos dias que
correm, em que as pessoas se amontoam à procura dos outros , fugindo de si
mesmas (no Brasil em shows de música sertaneja de qualidade paupérrima , na
mais desgraçada das ilusões), quem quer saber disso?
Estaríamos vivendo a plenitude de uma era em que as verdades manipuláveis
e coletivas tornaram-se mais
interessantes em desfavor das verdades individuais e suas completudes? Deduz-se
que sim, porque as verdades não estão ocultas, pelo contrário estão facilmente ao
alcance das multidões ainda que estas não queiram pensar nisso Os políticos em
sua maioria escancaram suas verdades (o tirar proveito a qualquer custo) mas mesmo assim se confia e se vota neles; os jogadores de futebol não ocultam as suas ( a
obsessão pela grana, sem comprometimento com a camisa que vestem –que se
reflete no fato de que nenhum jogador do Flamengo, por exemplo, levantou a voz
para se solidarizar com as famílias dos jovens
assassinados no ninho do Urubu) mas, mesmo assim, há quem se engalfinhe e morra por
eles. As celebridades da mídia, por sua vez exibem as suas ( a venda de suas felicidades baratas
está na ordem do dia, mas mesmo assim há multidões dispostas a brigar nas redes
sociais pela escória dessas felicidades ).
A verdade incomoda os seres humanos não de agora, mas nunca
foi tão de somenos como hoje. Não é à toa que
gente sábia cravou que um ser humano não passa da soma de suas ilusões e
que não suporta a verdade.
Tanto não suporta a realidade que até hoje os seres humanos
se recusam a reconhecer gorilas e chimpanzés como do mesmo tronco ancestral que
iniciou sua caminhada neste planeta. E que
são capazes de tratar os demais animais com torturante crueldade para se alimentar numa matança desumana e cruel ( sem
sequer amenizar seus sofrimentos) como
mostra uma edição da revista Superinteressante, numa verdade que jamais seria
exposta no Fantástico, por exemplo, pois tem que ser evitada para não
ensombrecer as delícias dos churrascos, comilanças e comemorações.
Verdades? Pra que elas servem ou serviram um dia? Ora, deixar
a verdade pra lá sempre foi muito melhor. Se
ainda houver verdades nesta terra quem quiser que procure a sua. E que morra com
elas!
José Ewerton Neto é autor de O ofício de matar suicidas, que na primeira
edição se chamava O Prazer de matar
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