A palavra TOP
foi considerada a palavra mais chata do ano que passou. A segunda colocação
ficou com a palavra COACH. A essas se seguiram várias igualmente chatas, tão
chatas que se pudessem falar reclamariam por não terem ficado na pole position.
Isso segundo
uma pesquisa da Internet, portanto, o júri está longe de ser confiável. Menos
confiável que pesquisa da net só mesmo as notas das competições de Escolas de
Samba, onde os jurados confiam tanto nos seus próprios tacos que são capazes de dar uma nota de 9,955 para uma escola e 9, 96 para outra em determinado quesito. (A julgar
por essa precisão de milésimos, provavelmente os olhos clínicos dos especialistas
são capazes de descobrir até as imperfeições
existentes no silicone enfiado no bumbum de uma porta- bandeira).
Tempos atrás
escrevi um artigo neste jornal intitulado Com
quem se parecem as palavras, cujo
texto foi incorporado ao livro O ABC bem humorado de São Luís, cuja terceira
edição estará saindo em breve . Na referida crônica, eu chamava a atenção para
o fato de que certas palavras (na verdade, seres vivos, como dizia Vítor Hugo) não só têm
vida própria como são autônomas e independentes não só do contexto em que foram
inseridas como até do significado que lhes foi imposto.
No artigo
citei as palavras Vândalo e Lúcifer, como
exemplo de palavras que persistem
sonoramente bonitas, distanciando-se, a meu ver, da semântica a que estão associadas. Propus então
que a palavra Lúcifer, nome do anjo rebelde que se transformou no demo, caso
não tivesse tido a triste sina de ser
associado ao mal hoje seria nome próprio
de muito mais gente do que certas escolhas que proliferam por aí. Na conjuntura atual eu acrescentaria também a palavra Feminicídio, que me
parece soar muito suave para representar as atrocidades que se cometem contra
as mulheres. Tenho a impressão de que chamar um troglodita desses, que aterrorizam suas fêmeas, de feminicida ao invés de monstro, é uma forma
de afagar a crueldade dos mesmos e estimular novos crimes.
Mas,
independente da pesquisa, seria mesmo a palavra top realmente chata?
Chatíssima, eu diria, chatérrima, diriam outros, mas, preferencialmente, ambos,
já que uma só palavra parece insuficiente para qualificar expressão tão
antipática. Nada soa tão perturbador e incômodo como o uso desenfreado e
proposital de uma expressão estrangeira, quando sua própria língua dispões de termos
equivalentes, preciosos, e que
significam a mesma coisa. Neste caso, a palavra TOP ( coitada, não tem culpa),
mas acaba se parecendo com a pessoa que a utiliza , com sua vaidade e seu
exibicionismo.
O mesmo ocorre
como a palavra COACH que, assim como uma verdadeira avalanche de termos da língua
inglesa, é frequentemente usada no
jargão empresarial, soando à empáfia e à arrogância daqueles que a
utilizam para se doarem uma
credibilidade inexistente , ao se
socorrerem de palavras desconhecidas ou pomposas para esse fim.
P.S.
Finalizada a coluna, como sempre, terão os leitores a possibilidade de se
manifestar, apreciando ou não o que foi escrito. Só pediria que, na mais remota
hipótese de gostarem, jamais digam que
ela é top. Deus me livre!
José Ewerton Neto é autor de O ABC
bem humorado de São Luís , breve em
terceira edição.
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