domingo, 8 de março de 2020

EITA, PALAVRA CHATA!






A palavra TOP foi considerada a palavra mais chata do ano que passou. A segunda colocação ficou com a palavra COACH. A essas se seguiram várias igualmente chatas, tão chatas que se pudessem falar reclamariam por não terem ficado na pole position.
Isso segundo uma pesquisa da Internet, portanto, o júri está longe de ser confiável. Menos confiável que pesquisa da net só mesmo as notas das competições de Escolas de Samba, onde os jurados confiam tanto nos seus próprios tacos que são   capazes de dar uma nota de 9,955  para uma escola e 9, 96  para outra em determinado quesito. (A julgar por essa precisão de milésimos, provavelmente os olhos clínicos dos especialistas são capazes de descobrir até  as imperfeições existentes no silicone enfiado no bumbum de uma porta- bandeira).   
Tempos atrás escrevi um artigo neste jornal intitulado Com quem  se parecem as palavras, cujo texto foi incorporado ao livro O ABC bem humorado de São Luís, cuja terceira edição estará saindo em breve . Na referida crônica, eu chamava a atenção para o fato de que certas palavras (na verdade,  seres vivos, como dizia Vítor Hugo) não só têm vida própria como são autônomas e independentes não só do contexto em que foram inseridas como até do significado que lhes foi imposto.
No artigo citei as  palavras Vândalo e Lúcifer, como exemplo de palavras que  persistem sonoramente bonitas, distanciando-se, a meu ver,  da semântica a que estão associadas. Propus então que a palavra Lúcifer, nome do anjo rebelde que se transformou no demo, caso não tivesse tido a  triste sina de ser associado ao mal  hoje seria nome próprio de muito mais gente do que certas escolhas que proliferam por aí.  Na conjuntura atual eu acrescentaria  também a palavra Feminicídio,   que me parece soar muito suave para representar as atrocidades que se cometem contra as mulheres. Tenho a impressão de que chamar um troglodita desses,  que aterrorizam suas fêmeas,  de feminicida ao invés de monstro, é uma forma de afagar a crueldade dos mesmos e estimular novos crimes.
Mas, independente da pesquisa, seria mesmo a palavra top realmente chata? Chatíssima, eu diria,  chatérrima,  diriam outros, mas, preferencialmente,  ambos,  já que uma só palavra parece insuficiente para qualificar expressão tão antipática. Nada soa tão perturbador e incômodo como o uso desenfreado e proposital  de uma expressão  estrangeira,  quando sua própria língua dispões de termos equivalentes, preciosos,  e que significam a mesma coisa. Neste caso, a palavra TOP ( coitada, não tem culpa), mas acaba se parecendo com a pessoa que a utiliza , com sua vaidade e seu exibicionismo.
O mesmo ocorre  como a palavra COACH que, assim como  uma verdadeira avalanche de termos da língua inglesa, é  frequentemente usada no jargão empresarial, soando à empáfia e à arrogância daqueles que a utilizam  para se doarem uma credibilidade inexistente ,  ao se socorrerem de palavras desconhecidas ou pomposas para esse fim.
                               P.S.  Finalizada a coluna, como sempre,  terão os leitores a possibilidade de se manifestar, apreciando ou não o que foi escrito. Só pediria que, na mais remota hipótese de gostarem, jamais  digam que ela é top. Deus me livre! 


José Ewerton Neto é autor de O ABC
bem humorado de São Luís , breve em
terceira edição. 



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