artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
“Caminhemos, talvez nos vejamos depois. Vida comprida, estrada
alongada...” Erivelto Martins
O Caminhemos, de Vanusa Santos Flores,
a Vanusa, chegou para mm pela primeira vez em forma de balada-rock , ao invés
de samba-canção tradicional composto por Erivelto Martins. A cantora, que
começou a fazer sucesso na esteira da jovem- guarda , teve a feliz idéia de
incluir Erivelto em seu repertório (gravou também Mensagem, sucesso anterior de
Isaurinha Garcia, na mesma época e estilo).
Claro que ambas as músicas
tornaram-se um dos alvos de aprendizado para mim, que aprendia violão,
estimulado por meu pai, que tocava esse
instrumento musical muito bem, me ensinava,
e me iniciou no rico repertório e
no conhecimento de Erivelto Martins, até então um compositor desconhecido para
mim.
Não
que eu tenha me tornado um ardoroso fã de Vanusa , embora dela
apreciasse algumas canções. Vanusa era
uma cantora que parecia estar sempre a meio caminho, sem jamais despertar
arroubos incondicionais de seus fãs. Não tinha aquela palpitação que distingue
os grandes artistas e que, muitas vezes se associa a um destino trágico, como
acontece com alguma freqüência em talentos especiais que se dilaceram pela
arte. Não era uma Amy Whinehouse ou Billie Holliday, nem uma Elis Regina ou
mesmo Cássia Eller.
Era bonita, mas não formosa ou
deslumbrante. Cantava bem, mas não beirava as melhores artistas da época.
Selecionava algumas boas canções, mas seus discos eram irregulares, vendia
discos, mas nunca teve um sucesso arrebatador. E, assim, ela foi traçando a sua
trajetória cada dia mais arrefecida até
falecer esta semana, com a notícia de sua morte ganhando as redes sociais, sua partida
chegando de longe como se seu Caminhemos na vida houvesse findado faz tempo.
Sem despertar o choro e a comoção devotadas
a um grande ídolo.
No auge do sucesso Vanusa foi
atriz também, chegou a protagonizar a novela Cinderela 77 exibida pela TV Tupi,
com o cantor Ronnie Von, que sobre ela se pronunciou após sua morte: “Para mim é a perda da minha princesa, da minha Cinderela 77.
Uma época em que nós confidenciamos uns aos outros, nossas alegrias e nossos
momentos emocionais.” Foi casada com o cantor galã Antonio Marcos (que
morreu cedo e teve problemas com o álcool em cuja data de aniversário partiu,
coincidentemente) e, a partir daí, tem-se
a impressão de que Vanusa passou a alimentar a cena artística mais por sina do
que por prazer.Sofria de demência e morreu num asilo para onde foi encaminhada
por seus familiares o que motivou as habituais comentários nas redes criticando
a postura da família e o distanciamento a que foi relegada.
Porém, ainda que se queira estabelecer seu fim em um asilo como um contraponto cruel a quem foi tão famosa, a verdade é que essa circunstância nada tem a ver, ainda que minimamente, com sua trajetória artística. Tem a ver mesmo com o fato de sermos humanos, demasiadamente humanos e, como tais, tantas vezes desprovidos de humanidade, especialmente para com os idosos, quando estes precisam de nós, mais da gente que a gente deles.
ewerton.neto@hotmail.com
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