sábado, 20 de setembro de 2014

ALCATRAZ X PEDRINHAS






artigo publicado na seção Hoje é dia de..
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado

Quem apreciava cinema na década de sessenta (e quem não?) lembra, certamente, do sucesso do filme O Prisioneiro de Alcatraz, com Burt Lancaster. Poucas cadeias no mundo  exerceram esse  mito de fortaleza inexpugnável ( para os internos), como aliás, deveria ser a vocação de toda cadeia que se preze, a bem do cidadão honesto e da sociedade. Três fatores garantiam essa justificada fama: a localização do presídio, suas rígidas regras disciplinares e a grande quantidade de guardas. "Alcatraz é uma ilha rodeada por águas muito frias e fortes correntes marítimas” - isso dificultava as fugas. Porém,  mais importante era o número de guardas, numa proporção muito maior que a de outras prisões. A prisão funcionava na ilha situada na baía de São Francisco, na Califórnia, a 2 quilômetros da costa. A história dessa fortaleza mitológica ganhou força em 1934, ano em que Alcatraz virou uma penitenciária de segurança máxima, recebendo os bandidos mais violentos dos Estados Unidos.
            Esta introdução e a  motivação para escrever esta crônica veio depois de um comentário que ouvi em um terminal de ônibus, quando um taxista comentou com outro: “Sabe a diferença de Pedrinhas para Alcatraz? De Alcatraz ninguém pode sair, nessa daqui só fica quem não tem pra onde ir.” E, enquanto explicava ao colega o que era Alcatraz, omitindo o fato de que essa cadeia não existe mais, achei oportuno verificar o que podem ter em comum ambas, cuja única semelhança talvez esteja em se intitularem cadeias.

            EM ALCATRAZ            Seis torres de vigia, feitas de aço e vidro à prova de balas, foram instaladas em pontos estratégicos da ilha. De lá, guardas armados controlavam 24 horas por dia o movimento de Alcatraz. Para não distrair sua atenção, eles eram proibidos de ler ou ouvir rádio em serviço.

                                                        



            EM PEDRINHAS          Pelo que saiu na imprensa essa  semana, uma das formas de sair da cadeia mais utilizadas era ‘falar com o diretor’, mais ou menos na base de ( dois presos conversando):          “ Tô de saco cheio com isso aqui e também tô com preguiça de cavar túnel pra sair daqui.” “Ora, fale com o diretor.” “Simples assim?” “Quer dizer... você tem que soltar uma grana, mas depois  vai pra casa e só volta (se quiser) no dia da revista.” “ Beleza!”
            EM ALCATRAZ  Guardas que trabalhavam com os presos não carregavam armas para evitar que elas caíssem em poder dos detentos. Mas, nas extremidades do prédio principal havia galerias elevadas, com policiais armados que podiam abrir fogo numa emergência.
            EM PEDRINHAS Nada de galerias elevadas, com guardas, mas imensas e subterrâneas, lotadas de presos, confeccionando, a cada dia, novos túneis. A rede subterrânea de galerias, por enquanto, é usada preferencialmente por presos, para saírem da cadeia. Admite-se, no entanto, na tecnocracia administrativa da cidade,  que o V.L.T de São Luís , hoje abandonado num galpão, possa ter finalmente garantida sua serventia futura em uma dessas complexas redes subterrâneas.


                                                        




            EM ALCATRAZ            Nos fins de semana e feriados, presos com bom comportamento frequentavam um pátio de cimento cercado por paredes de quase 6 metros de altura e arame farpado. Lá, eles passavam várias horas jogando damas, dominó ou esportes, como beisebol ou basquete.
            EM PEDRINHAS          Presos com bom comportamento passam várias horas jogando damas, dominó, ou esportes, como futebol,  mas, de preferência, em casa, ou nos campinhos do bairro de origem, se quiserem. Já os de mau  comportamento ( se é que se pode chamar assim )   costumam se divertir saindo da cadeia de carreta. Sim, porque não há ronda policial com que se preocupar. Primeiro, a carreta se aproxima do muro da prisão e depois o coloca em baixo como se o muro fosse de papel, como aconteceu esta semana, quando os prisioneiros saíram pelo ladrão ( sem trocadilhos)  Simples assim.

                                                                      



            EM ALCATRAZ Trabalhar era um “privilégio” para os presos com bom comportamento - quem não trabalhava passava o dia inteiro trancado na sua cela, saindo só para as refeições. Boa parte do trampo rolava na lavanderia, onde os presidiários lavavam roupas da prisão e de militares.
            EM PEDRINHAS Como  no Brasil trabalhar nunca foi considerado um privilégio, muito menos para presos, em Pedrinhas  o único trabalho permitido sempre foi o de cavar túneis. Ou seja, os presos sempre decidem quando, onde, como e para quê querem trabalhar. Mas, alguns interpretam isso como uma diversão, ou brincadeira,  até mesmo para evitar que as organizações de direitos humanos interfiram na festa. Como se sabe, para o entendimento dessas organizações,  e baseadas nas leis brasileiras,  um prisioneiro pode fazer tudo na vida, menos trabalhar, porque isso compromete a sua ‘dignidade’ humana. Dá pra acreditar?
                                                                                              Jose Ewerton Neto
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

                                                                       http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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