Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
A coisa se dá mais ou menos assim: se o argumento é falso e inconsistente, nada como tentar dourar o que se diz com uma
palavra de origem inglesa. E pronto, entende-se
que mensagem esteja sendo dada , sabe-se
lá como, porque o mais difícil é que
alguém a entenda.
É fácil
imaginar a enxurrada de palavras de uma grande corporação como, por exemplo, a
Petrobrás: Meritocracia, benchmarking, endomarketing, expertise, empowerment, atiradas
nos ouvidos de engenheiros e peões no chão de fábrica, para conseguirem, um
barril a mais de petróleo, enquanto nos altares da hierarquia político-administrativa
os mesmo jargões voam para lá e para cá,
só que , nesse caso, para embotarem a realidade dos milhares de toneladas de barris perdidos em negociatas escusas.
Triste função essa, a das palavras em
uma corporação dominada pelo vício: a de tornarem-se hipócritas para poderem suportar
a hipocrisia ainda maior de suas diretorias.
Mas, o que é
mesmo que esses jargões corporativos tentam significar?
1.Agregar valor. Aparentemente significa incorporar
ao trabalho algo que o qualifique ou o torne mais sofisticado.
Depende. Se
for para o peão, agregar valor ao próprio trabalho significa suar mais a camisa
e morrer o mais rápido possível, de preferência. Já se for para os executivos significa
agregar mais valores ao próprio bolso. Seja lá como for.
2.Douwnsize. Encolhimento. Técnica que
tem por objetivo a redução dos níveis hierárquicos de uma organização.
Por incrível
que possa parecer admite-se que, quando você diz a alguém que vai levar um pé
na bunda devido a um douwnsize, este deva
sair dando pulos de alegria, o que não
daria se se tivesse falado em encolhimento. É o tal de racismo de linguagem!
3.Brainstorm. Termo que, em inglês
significa tempestade cerebral; representa uma oportunidade para expor ideias
livremente.
Já pensou numa
corporação como a rede Globo, um brainstorm com a participação de Faustão, Ana
Maria Braga e Luciano Hulk? O que sobraria depois de uma tempestade
(cerebral) dessas?
4.Brilho no olho. Expressão para
caracterizar profissional motivado ou muito empenhado.
Por que será
que ninguém atentou antes, na Petrobras, para o formidável brilho do olho torto
de Cerveró? Quanto brilho no olho! Quanta motivação e empenho! Só poderia dar
no que deu.
5.Está no DNA. Diz-se do modelo de
atuação já incorporado à cultura da empresa e ao modo de a organização atuar.
Se o PT
fosse uma corporação (será que não é?) a
culpa poderia ser do DNA, não é mesmo, Dilma? E estaríamos conversados.
6.Pensar fora de caixa. Ter ideias
diferentes das convencionais, propor soluções nunca testadas.
O Brasil tornou-se
um país tão pobre de ideias que os
únicos que conseguem pensar fora da Caixa, são justamente os da Caixa Econômica
Federal.
7.Outsourcing. Mão de obra terceirizada
com o intuito de reduzir os custos internos.
Na prática
significa demitir os operários com carteira assinada , contratando-se uma empresa terceirizada
que contrata peões. Esta, por sua vez, contrata outra terceirizada que contrata
miseráveis e assim por diante, até que
os contratados remanescentes estejam mais
para animais escravos do que para seres humanos. Mas por favor, não
confunda! Outsourcing nada tem a ver com
terceirizar os lucros. Esses não!
8. Workaholic. Pessoa viciada em trabalho.
A expressão,
de origem inglesa, nada tem a ver, com
trabalhador viciado em álcool, como sua
sonoridade poderia sugerir, à primeira vista. Como se sabe o trabalhador viciado em álcool pelo menos
encontrou o que fazer. Já um workaholic dificilmente encontrará o que fazer na vida, além de puxar
saco.
9.Mentoring. Acompanhamento de um
profissional mais experiente (mentor) para dar conselhos e orientar a carreira.
Será mesmo
que alguém precisa disso para ter sucesso hoje em dia? Já pensou mentoring de Ex-BBB, a
profissão mais almejada pelos jovens desta nação? Ou mentoring de cantor de
música sertaneja? Na antiga Grécia, só para recordar, tal tipo de coisa dava em pedofilia, e só raramente dava realmente em carreira (quando
o rapaz tinha de sair correndo antes que fosse tarde).
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