artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
De algum tempo para cá a pergunta sobre o rumo de personagens
interessantes gerou talentosas obras de arte. Assim surgiram Por onde andará Stephen Fry, de Zeca
Baleiro e, mais recentemente, Onde andará
Willi Ronis?, do companheiro de espaço neste caderno, Joaquim Itapary.
Ora, se a
indagação sobre o misterioso destino de um personagem foi capaz de inspirar
músicos ou escritores, que obra de arte seria mais apropriada para expressar o mistério que paira sobre o que
aconteceu com este personagem, tão famoso, quanto bizarro , chamado VLT? Mais
precisamente, o VLT de São Luís?.
Desconfio que
uma composição musical se adapte melhor a esse mister. Afinal, nestes tempos de
eleição, (em que proliferam em nossos ouvidos grotescos sons de exaltação a
políticos, estes mais ridículos até que suas músicas), que poderia haver de
mais oportuno do que uma música que
lembrasse, para todo mundo, o que
aconteceu com o VLT? Sim porque – pasmem!-
o VLT também quer se eleger. Pelo menos, foi isso o que ele nos disse quando
fomos entrevista-lo.
-Olá VLT.
Como estás indo?
-Mais
esquecido do que chave de casa em bolso de bêbado. Só me visitam hoje em dia,
formigas, baratas, morcegos e Fe2O3.
-Fe2O3?
-Sim amigo,
mais conhecido como Ferrugem, ou esqueceu
que sou de ferro? Mas, a que devo a honra dessa sua visita?
-Bem, outro
dia foi publicada neste jornal uma reportagem que nos intrigou. Por onde
andaria você, VLT, e quais seriam suas expectativas diante do futuro. Imagino
que sejam poucas, nesse galpão de
sucata.
- Agradeço
pela visita até porque ela veio muito a calhar.
Quero ser candidato. Vejo isso como uma salvação, a única saída para o meu
abandono.
- Candidato?
Desculpe VLT, mas não entendi.
- Candidato
sim. Tenho experiência política porque já fui saudado em praças e avenidas pelo
povo, e já fui rodeado de políticos
importantes . Foi há quatro anos, lembra? O fato de ter ficado entocado nesse
galpão por 4 anos é a meu ver, um atributo. Não é assim que procedem os políticos,
que vivem entocados em suas mansões, e só
aparecem de 4 em 4 anos, em véspera de eleições?
-Mas, que
realizações você pode apresentar ao seu eleitor além de ser um trem
desempregado? Ao que eu saiba VLT, desculpe lhe dizer, mas nunca foi eleito um
ferro-velho em qualquer eleição do Brasil. Sinto também que você parece não
estar a par do mecanismo que vence as eleições. E a grana? Como você vai
comprar votos prometendo uma bolsa aqui, outra ali? A única bolsa que os
políticos de hoje ainda não prometeram ao povo foi a bolsa vaginal, porque toda
mulher já nasce com uma. Mas qualquer dia a prometerão de graça aos travestis....
-Prometerei
a bolsa FERRO-VELHO. Quem votar em mim terá direito a um pedaço de sucata, um
prego aqui, outro ali, meus trilhos também são de boa qualidade.
- Hum,
hum...Sei não, VLT.
- Só sinto
falta de quem faça a minha música, mas se ninguém surgir posso usar aquela do Raul Seixas.
Lembra?: “Oi, oi o trem, vem surgindo por trás das montanhas azuis, óia o
trem...” Não tem tudo a ver com um trem da esperança, como eu já fui?
VLT estava
mesmo entusiasmado, deu para perceber que seus olhos (quer dizer, faróis) brilhavam
por trás do ambiente de apatia e solidão. Quis ser sincero e dizer-lhe que, a
julgar pelo que praticam os políticos, ele não andou, não anda, e nem andará
nunca. Achei-o um grande sonhador mas era
muito cruel, para mim, essa capacidade de iludi-lo.
Além de
tudo, VLT, que além de traído, foi sempre um sujeito honesto, parecia não
perceber que esses seus mais elogiáveis requisitos nunca foram qualidades apreciadas pelo povo, na hora de eleger um político.
Nenhum comentário:
Postar um comentário