Artigo publicado na seção Hoje é dia de..Caderno Alternativo,
jornal O Estado do Maranhão, hoje, sábado.
VIDA QUE SEGUE MARINANDO, E O CENTRO
Eis que na capa da Revista Isto É
surge mais um neologismo: Marinar. Porém, nada a ver com o que a ressonância do nome sugere de marina, mar, onda e água.
Marinar, desta vez, significa apoiar a candidata Marina, ter
esperança nessa mulher acreana, miúda, franzina e que ainda tem, além de
Marina, um Os-mar-ina no nome comprido.
Uma mulher cuja biografia tem todos os ingredientes para criar o mito da mulher
batalhadora, quase heroica, que, por ter
sido analfabeta até os dezesseis anos e
chegar aonde chegou, só pode ter algo de
especial.
Mas o que seria esse algo especial:
sorte, estar no lugar certo na hora certa, ou ser uma pessoa hábil para lidar
com os ingredientes escusos do meio político (à la Lula)? É fácil explicar, do ponto de vista do povo, esse Marinar que está indo além de uma
primitiva onda. Desiludidos com a corrupção desenfreada, que Dilma, a
durona, tentou afrontar no início, mas
sucumbiu à pressão, o povo sonha substituir a durona, (mas frágil de convicção), Dilma, pela frágil
fisicamente , mas dura de quebrar ( como fez na vida) Marina, como se evocasse
o credo revolucionário embutido nas palavras do utópico, embora embusteiro, Che
Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin
perder a ternura, jamás”. Ternura, muita ternura, mas também dureza, muita
dureza, é isso que está faltando, no imaginário popular, para erradicar a
corrupção deste país. A poesia, aderida à utopia de que isso aconteça, vem de quebra.
E dá-lhe Marina, pelo menos até que
tome posse e depare com os problemas de administrar uma nação contaminada. Só
então se poderá saber se Marina (quem duvida de que será eleita?) será capaz de
cumprir a promessa de endurecer sem perder a mira de sua ternura pelos fracos, num
sonho popular que, de tão utópico, chega
a tanger, para os céticos, a fronteira do messiânico.
2. E São Luís, esta semana , mais uma vez sofreu com a falta d’água porque,
pela enésima vez se rompeu uma tubulação do Sistema Italuís, o que motiva uma
boa pergunta.
O que é mais frequente no
cotidiano desta nossa cidade : O sol nascer; um túnel ser aberto por marginais
nas cadeias; ou um cano do Sistema Italuís
a rebentar? Considerando que, de saída,
o alvorecer não encara essa disputa, a vitória fica para as opções que sobraram.
O páreo é duro!
3.Se você
ainda alimenta expectativas de ir,
qualquer dia, ao centro da cidade no seu carro, fique certo de que a
administração pública lhe doará um kit de
permanência, assim que chegar lá: um
guarda para cada pneu do seu carro, uma placa de ‘proibido estacionar’ até onde
for o alcance do seu olhar; um batalhão de motos enfileiradas do seu lado direito e um cone de proibido (
maior do que seu carro) do lado esquerdo. Ou seja, a essas alturas você já desconfiou
de que é melhor não olhar pra cima porque deve ter mais... E tem: um sinal de trânsito, pronto para lhe enfiar
mais uma multa.
O que motiva
uma singela pergunta: o que será que os administradores têm contra o Centro? E
porque, mesmo nas suas boas-intenções (como regular o trânsito) a alternativa é
sempre buscar o lado mais fácil que é o de proibir, punir, punir e punir? Ora, se você vai ao Centro da cidade, e depois
de duas horas não consegue estacionar seu carro, que lhe resta a fazer senão voltar
para casa ou fugir para os shopping-centers? Com isso, condena-se o centro da cidade ao que há muito se está
vendo: lojas quebrando por falta de clientes, comércio às baratas e ruas
desertas de pessoas.
O lado pragmático
(para não dizer outra coisa) desse pessoal em relação ao Centro sempre tem sido
esse: se os carros são causadores do
trânsito caótico, elimine-se os carros. Se as pessoas, não podem mais chegar ao
centro, eliminem-se as pessoas. Se as casas estão caindo, derrubem-se as
mesmas.
Dia virá em
que só restará indagar à irremediável solidão do célebre escritor João
Francisco Lisboa, cuja estátua é, por assim dizer, o centro do centro da cidade: Quando não
houver mais ninguém no centro da cidade, para onde você irá? Provavelmente,
fazer companhia a Aluísio Azevedo que, depois de morto, expulsaram de sua própria
casa. (Como bem denunciou, há duas
semanas, neste jornal em oportuna crônica, o escritor Antonio Carlos Lima).
Nenhum comentário:
Postar um comentário