artigo publicado na seção Hoje é dia de..
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Quem
apreciava cinema na década de sessenta (e quem não?) lembra, certamente, do sucesso
do filme O Prisioneiro de Alcatraz, com Burt Lancaster. Poucas cadeias no
mundo exerceram esse mito de fortaleza inexpugnável ( para os
internos), como aliás, deveria ser a vocação de toda cadeia que se preze, a bem
do cidadão honesto e da sociedade. Três fatores garantiam essa justificada
fama: a localização do presídio, suas rígidas regras disciplinares e a grande quantidade
de guardas. "Alcatraz é uma ilha rodeada por águas muito frias e fortes
correntes marítimas” - isso dificultava as fugas. Porém, mais importante era o número de guardas, numa
proporção muito maior que a de outras prisões. A prisão funcionava na ilha
situada na baía de São Francisco, na Califórnia, a 2 quilômetros da costa. A
história dessa fortaleza mitológica ganhou força em 1934, ano em que Alcatraz
virou uma penitenciária de segurança máxima, recebendo os bandidos mais
violentos dos Estados Unidos.
Esta introdução e a motivação para escrever esta crônica veio
depois de um comentário que ouvi em um terminal de ônibus, quando um taxista
comentou com outro: “Sabe a diferença de Pedrinhas para Alcatraz? De Alcatraz
ninguém pode sair, nessa daqui só fica quem não tem pra onde ir.” E, enquanto
explicava ao colega o que era Alcatraz, omitindo o fato de que essa cadeia não
existe mais, achei oportuno verificar o que podem ter em comum ambas, cuja
única semelhança talvez esteja em se intitularem cadeias.
EM
ALCATRAZ Seis torres de vigia,
feitas de aço e vidro à prova de balas, foram instaladas em pontos estratégicos
da ilha. De lá, guardas armados controlavam 24 horas por dia o movimento de
Alcatraz. Para não distrair sua atenção, eles eram proibidos de ler ou ouvir
rádio em serviço.
EM PEDRINHAS Pelo que saiu
na imprensa essa semana, uma das formas
de sair da cadeia mais utilizadas era ‘falar com o diretor’, mais ou menos na
base de ( dois presos conversando): “
Tô de saco cheio com isso aqui e também tô com preguiça de cavar túnel pra sair
daqui.” “Ora, fale com o diretor.” “Simples assim?” “Quer dizer... você tem que
soltar uma grana, mas depois vai pra
casa e só volta (se quiser) no dia da revista.” “ Beleza!”
EM
ALCATRAZ Guardas que
trabalhavam com os presos não carregavam armas para evitar que elas caíssem em
poder dos detentos. Mas, nas extremidades do prédio principal havia galerias
elevadas, com policiais armados que podiam abrir fogo numa emergência.
EM PEDRINHAS Nada de galerias
elevadas, com guardas, mas imensas e subterrâneas, lotadas de presos,
confeccionando, a cada dia, novos túneis. A rede subterrânea de galerias, por
enquanto, é usada preferencialmente por presos, para saírem da cadeia. Admite-se,
no entanto, na tecnocracia administrativa da cidade, que o V.L.T de São Luís , hoje abandonado num
galpão, possa ter finalmente garantida sua serventia futura em uma dessas
complexas redes subterrâneas.
EM ALCATRAZ Nos fins de semana e feriados, presos
com bom comportamento frequentavam um pátio de cimento cercado por paredes de
quase 6 metros de altura e arame farpado. Lá, eles passavam várias horas
jogando damas, dominó ou esportes, como beisebol ou basquete.
EM
PEDRINHAS Presos com bom comportamento
passam várias horas jogando damas, dominó, ou esportes, como futebol, mas, de preferência, em casa, ou nos campinhos
do bairro de origem, se quiserem. Já os de mau
comportamento ( se é que se pode chamar assim ) costumam se divertir saindo da cadeia de
carreta. Sim, porque não há ronda policial com que se preocupar. Primeiro, a
carreta se aproxima do muro da prisão e depois o coloca em baixo como se o muro
fosse de papel, como aconteceu esta semana, quando os prisioneiros saíram pelo
ladrão ( sem trocadilhos) Simples assim.
EM
ALCATRAZ Trabalhar era um “privilégio” para os presos com bom comportamento -
quem não trabalhava passava o dia inteiro trancado na sua cela, saindo só para
as refeições. Boa parte do trampo rolava na lavanderia, onde os presidiários
lavavam roupas da prisão e de militares.
EM PEDRINHAS Como no Brasil trabalhar nunca foi considerado um
privilégio, muito menos para presos, em Pedrinhas o único trabalho permitido sempre foi o de
cavar túneis. Ou seja, os presos sempre decidem quando, onde, como e para quê querem
trabalhar. Mas, alguns interpretam isso como uma diversão, ou brincadeira, até mesmo para evitar que as organizações de
direitos humanos interfiram na festa. Como se sabe, para o entendimento dessas
organizações, e baseadas nas leis
brasileiras, um prisioneiro pode fazer
tudo na vida, menos trabalhar, porque isso compromete a sua ‘dignidade’ humana.
Dá pra acreditar?
Jose
Ewerton Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário