terça-feira, 28 de julho de 2009

OS CÃES NOS VENCERAM

Artigo publicado no jornal O Estdo do Maranhão, sabado passado


OS CÃES NOS VENCERAM


ewerton.neto@hotmail.com
artigo publicado na coluna Hoje é dia de, Estado do Maranhão, sábado



Um dos maiores orgulhos da raça humana é a crença de que, por ter sobrevivido até hoje, o homem é superior e distinto das demais espécies. Engano crasso, pois aí estão outros animais que sobreviveram melhor aos séculos como ratos, mosquitos e... cachorros. Poucos duvidam que, depois que a raça humana se for, restarão para sempre os indefectíveis mosquitos, ratos e baratas. E os cachorros, sobreviverão? Não interessa, o que importa é que hoje vivem muito melhor que os seres humanos conforme mostra recente reportagem da revista Veja, desta semana. Eis alguns breves tópicos dessa trajetória vitoriosa:

1. Os cães eram lobos há muitos anos. Ninguém sabe como é
que se adaptaram à convivência humana. Provavelmente, logo viram que a proximidade lhes era providencial para ganhar comida, cama e roupa lavada em troca de um servicinho aqui, outro ali. Se com isso perderam características como a intrepidez natural, de animais selvagens, em compensação as substituíram pelo arsenal de qualidades oportunistas dos seres humanos: dissimulação, vaidade, covardia e... Eis que sobreviveram e estão aí até hoje. Enquanto isso, seus ancestrais, os lobos...

2. Os cães levaram uma grande vantagem, ao longo dos
séculos, com essa história de melhor amigo do homem. Ora, se os humanos jamais praticaram e entenderam esse negócio de amizade, cedo haveria de surgir um vácuo de carência afetiva, onde colocariam a primeira raça que deles se aproximasse. O fato de que, vez por outra, atitudes caninas de lealdade sejam registradas e louvadas, não seria apenas porque estas sejam tão raras no gênero humano? Por outro lado, quantas e quantas vezes crianças e velhinhas não foram trucidadas por cães? Que história é essa de melhor amigo? Isso mais parece história para boi dormir, ou melhor, para cachorro cochilar. Na poltrona do papai.

3. Igualmente muito espertos, jamais quiseram aprender a
linguagem humana. Cedo aprenderam que a origem de todos os problemas humanos nasceu com a linguagem: casamentos que não sobrevivem, amizades que não duram, leis que não funcionam etc. tudo por causa do excesso de palavras. Daí que se até hoje os cães latem, isso é para que os seres humanos jamais saibam o que estão pensando, demonstrando assim que se especializaram ao longo dos séculos em usar a incompreensão e o silêncio em proveito próprio. Com isso se tornaram melhores filhos, melhores amigos e até melhores amantes que os seres humanos. Não é isso mesmo, peruas carentes?

4. Eternamente empolgados consigo mesmos eis que, completados 40 anos da conquista da lua (?), os homens se esqueceram de que quem primeiro saiu da órbita terrestre não foi um homem, o russo Gagarin, mas a cachorrinha Laika, hoje esquecida e injustiçada. A diferença é que os cachorros, mais sábios, nunca mais se prestaram a aventuras inúteis, enquanto os homens continuaram insistindo com elas, gastando rios de dinheiro para encontrarem pedaços de rochas, mais devastadas que as do sertão do Ceará. Cães, aliás, sempre foram muito mais pragmáticos: a única viagem em que embarcam, sem lucro à vista, é a do próprio enterro.

5. Hoje os cachorros gozam de privilégios que os humanos não têm. Existe 1 pet-shop para cada conjunto de 1200 cães, enquanto o número de farmácias é de uma para cada 2600 humanos. Cães desfilam de um lado para outro em carrinhos de bebês, vão para cabeleireiro, dormem no sofá de analistas e dia virá em que a grande preocupação da comunidade científica será tentar descobrir onde é que fica o ponto G das cadelas. Outra grande diferença se refere à assistência médica. Enquanto as carteirinhas dos planos de saúde dos humanos não dão direito a nada, um cão é atendido rapidamente em clínicas especializadas sem que seja preciso apresentar sequer carteira de identidade.

6. Nada porém é mais emblemático da vitória dos cães do que
o cocô. Enquanto os humanos têm nojo das próprias fezes e, quando vêem um igual defecando na rua, chamam a polícia e lhe atiram pedras, quando se trata de um cão, riem, fazem gracinhas e só faltam cantar parabéns para cada monturo que aparece. Seus donos fazem fila para assisti-los defecar nas praças, com o mesmo prazer que estivessem assistindo ao show do funeral de Michael Jackson. Quando os animais terminam, lá permanecem as fezes, enfeitando os caminhos como se fossem flores ao nível do chão. Ninguém limpa, ninguém acha que isso seja falta de educação; o que nos leva a uma curiosidade final. Será que se ao invés, o cachorro é que fosse o dono e levasse o humano para passear, não saberiam ter a educação de limpar seus dejetos?
Possivelmente não, embora isso pudesse ter acontecido muito tempo atrás, quando os cães ainda tinham educação. Agora é tarde, eles já aprenderam com os seres humanos.

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