segunda-feira, 17 de maio de 2010

DUNGA AFRONTA O BRASIL

Texto publicado no jornal
O Estado do Maranhão, último sábado,
seção Hoje é dia de...


DUNGA AFRONTA O BRASIL


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com



Dunga, “o técnico que veste a camisa”, resolveu enfrentar o torcedor brasileiro e já venceu sua primeira batalha: convocou onze “Dungas” para a seleção. O jogador tipo Dunga, para quem não sabe, é o protótipo de atletas à imagem e semelhança do nosso atual treinador, idealizados por ele como heróis, com vaga garantida no time que dirige para que possam ser exaltados em suas características: esforçados, medíocres, patriotas – no sentido oportunista da palavra – para quem no futebol o importante é ter raça e ser craque é um detalhe de somenos.
Vencida a primeira batalha contra o torcedor brasileiro ele se prepara para ganhar a segunda. Quer, agora, vencer o que mais o incomoda: o craque, ou seja, aquilo que ele nunca conseguiu ser. Para isso espera ganhar a Copa 2010, certo de que o torcedor brasileiro endeusará facilmente um time que não jogue bonito, mas que seja capaz de trazer o caneco.
Coerente com seu propósito, nosso técnico supervaloriza os feitos da seleção de 1994 quando, como cabeça-de-área, foi exaltado como um dos seus baluartes. Pouco importa se aquela não passou de uma fortuita conquista de um time medíocre, que ganhou a copa nos pênaltis, e só conseguiu chegar à final graças a Romário, o único jogador fora de série da equipe, que ficava na frente para decidir e salvar a seleção do fiasco a que estava condenada.
Mais ou menos como ele pretende que aconteça agora com a seleção de 2010: um bando de trogloditas lá atrás, dando coice para tudo quanto é lado ( como ele e Mauro Silva fizeram ) deixando Kaká e Luis Fabiano no ataque para resolverem a parada. Precavendo-se de uma eventual contusão de Luis Fabiano, Dunga já encomendou Grafite que, embora sem brilho técnico, é um goleador capaz de fazer um ou dois gols chorados quando o empate se anunciar, certo de que a retranca brasileira vai segurar a barra lá atrás e os descuidados adversários em algum momento entregarão a rapadura. Estará certo o seu raciocínio?
Certíssimo, o que é pior. (Ou o melhor, para quem tenha o propósito único de vencer, mesmo sem jogar bem). Como todo mundo sabe, jogar bonito hoje em dia já não garante a vitória de nenhum time como são fartos os exemplos: sendo o mais recente a derrota do Barcelona (com o melhor jogador do mundo, Messi) para o retrancado Inter, nas semifinais da Copa da Europa.. Mesmo o Santos, o time com o futebol mais bonito do Brasil nos últimos dez anos, está sujeito a levar a qualquer momento um chega pra lá de um time de brutamontes como o Grêmio e outros, tanto é assim que esteve na iminência de perder para os carniceiros do Santo André, não fossem os dois jovens ( Neymar e Ganso) craques verdadeiros, muito acima da média. No futebol dito moderno onde reina a pancadaria sob a vista grossa de juizes corruptos e técnicos que mandam bater, jogar bonito é bom de se ver, mas, o que garante?
Mais arrogante ainda do que prepotente e mais esperto ainda do que pedante, Dunga joga sua grande cartada certo de que tem tudo para se dar bem. Seu sonho é ser o Filipão da vez avaliando que tudo o que venha a acontecer, mesmo uma eventual derrota, acabará no lucro para quem era há pouco tempo atrás um ex-jogador de passado medíocre, condenado ao total esquecimento. Foi sacado de sua inatividade pelo esperto Ricardo Teixeira que o elegeu para fugir da responsabilidade no fracasso da última copa e para simbolizar – na falta de outra opção - a fajutice tão decantada do amor à camisa, que todo mundo fala mas ninguém sabe exatamente o que é.
Fiel à sua cartilha, sua seleção de “Dungas” se deu bem nas eliminatórias e tem tudo para se dar bem na competição que em breve se inicia. Afinal de contas, os brasileiros são os melhores craques do mundo e as demais seleções – tirando a Argentina e a Itália que, por sorte, só poderão nos enfrentar na última fase – têm verdadeiro pavor de nos enfrentar Ao rejeitar - e humilhar - craques virtuosos e geniais do quilate de Ronaldinho Gaúcho, Ganso e Neymar, Dunga sabe perfeitamente que sua seleção dá para o gasto e deve ser suficiente para lhe garantir o que considera mais importante: não dividir com ninguém os louros da vitória. Sem os ídolos acima referidos Dunga não terá competidores no Brasil: a vitória será só sua, o idolatrado será ele, e, de quebra, terá toda uma nação submissa à “era Dunga” que é o que mais importa para sua vaidade.
Como o patriotismo brasileiro não passa de um sentimento com hora marcada para aflorar de 4 em quatro anos, o que nos resta a fazer senão torcer pela seleção - não brasileira, mas de Dunga? Claro, ela está longe de ser a melhor, mas quem disse que queremos a melhor? Pensando pragmaticamente, o importante é torcer e não vibrar, é ganhar, não é jogar bem. Como dizia o personagem de Machado de Assis em seu livro Quincas Borba “Ao vencedor as batatas!”. Torçamos então, resignadamente, para que em breve, no final da copa, com um copo de cerveja na mão, possamos brindar também: “Para Dunga: as batatas.” Já para os que gostam de futebol bonito: o que sobrar das batatas.”

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