sábado, 29 de maio de 2010

A FAVOR DOS BURROS E DAS CARROÇAS

Texto publicado na seção Hoje é dia de...
O Estado do Maranhão, hoje

A FAVOR DAS CARROÇAS E DOS JUMENTOS

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Em nome de uma possível melhora no “endemoninhado” trânsito maranhense, eis que se anuncia uma lei, já aprovada pelos vereadores, para expulsar os carroceiros e seus abnegados jumentos das pistas
Responda depressa, leitor. Quem atrapalha mais o trânsito de nossa cidade: as poucas carroças que circulam pelas ruas ou os inumeráveis carrões particulares que de um certo tempo para cá invadiram as estreitas ruas de nossa cidade? Somente seus embotados motoristas ainda não atentaram para o fato, óbvio, de que esse tipo de veículo não é apropriado para as vias estreitas de São Luis, mas sim, para grandes estradas e avenidas típicas dos paises em que foram fabricados. Que tipo de jumento causa, então, maior transtorno ao trânsito? O paciente animal que, prestativo e heróico, se dispõe a ajudar seu dono na labuta para ganhar seu pão ou o ser humano que age como um irracional, ao dirigir, solitário, um imenso veículo, pouco se lixando para o fato de estar incomodando a si e aos outros?
Estão com toda a razão os humildes carroceiros, ao clamar por seus direitos, principalmente quando soa muito estranho que a preocupação das autoridades em relação ao trânsito se direcione apenas para coibir os humildes. Se é para punir o transtorno, que tal punir também motoristas insensíveis que dirigem carros do tamanho de vans ou de ônibus, ocupando vagas e obstruindo vias, sem a correspondente utilidade pública?
Como sói acontecer neste nosso país, onde a lógica das leis não obedece ao bom senso, carece lembrar - pela ultima vez - algumas das inúmeras vantagens das carroças movidas a jumento em relação a outros meios de locomoção:

1. O motor é simples, mas potente. Ao invés de vários cavalos tem um burro só.

2. A sua descarga é antipoluente e, normalmente se processa a intervalos
regulares. Não emite CO2, portanto não contribui para o aquecimento global.

3. Proporciona maior economia de combustível pois é movida a água, capim e
paciência ( não maior, contudo, que a normalmente exigida para enfrentar buracos, guardas de trânsito, motoqueiros etc. ).

4. Nunca fica no prego. Às vezes fica com o prego, mas essa visão não chega a
ser constrangedora, desde que as mulheres saibam disfarçar e não interrompam seus afazeres para apreciar a robustez do dito cujo.

5. A velocidade é facilmente controlável. Raramente é necessário apelar para
berros e xingamentos. Quando um ou outro jumento se comporta de forma esquizofrênica no trânsito( coisa rara se comparada à freqüência humana) não é nada que um chicote não resolva facilmente. Dá para imaginar que larga economia em termos de barreiras eletrônicas, sensores etc.

6. É um veículo perfeito para o trânsito de São Luis, conhecido por ser o único no
mundo onde existe mais buraco do que asfalto e mais barreira eletrônica do que buraco. O jumento, como se sabe, prescinde de radares e de sensores pois tem a atávica sabedoria de só entrar em buraco se sentir o ( mal) cheiro antes.

7. O jumento não causa poluição sonora. Mesmo gostando de forró e funk – embora prefira Bach - tem suficiente educação, refinada e de berço, para jamais ofender os tímpanos do vizinho, coisa que muito animal de duas pernas por aí não tem. Perto das hordas de energúmenos que circulam de um lado para o outro carregando um trio elétrico nas costas, seu zurrar soa inofensivo. E muito mais harmonioso e agradável.

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