sábado, 8 de setembro de 2012

SE SÃO LUIS...




Se São Luiz fosse uma mulher 
ainda assim  seria uma ilha.  Vá lá, o poeta disse que nenhum ser humano é uma ilha, mas São Luis teria de ilha o que somente certas mulheres têm: o comportamento reservado e especial, a pose paradisíaca, a aura oceânica cercando-a por todos os lados como  se dela pudesse jorrar, de repente...uma fantasia amorosa. Já repararam na reverência que salta aos olhos de quem observa uma mulher-ilha se aproximar?
                        Sendo ilha (o que nem de longe significaria que fosse orgulhosa ou inacessível) teria forçosamente também os braços longos, que avançam em direção ao resto do mundo. Pois é, suas pontes seriam seus braços e que braços! Acordam abraçando o alvorecer como a uma criança, seguindo depois para o quotidiano  e o que vier.
                        Sua cabeça - e com certeza São Luis não seria uma dessas mulheres espevitadas e sem cabeça – teria tudo para ser a mesma do poeta Gonçalves Dias, pequenina lá do alto em sua praça, contemplando o mar e a poesia.
                        Seu coração, quer queiram quer não, teria de estar no centro. Como todo mundo sabe, existe uma turma de administradores arvorados a  seus donos, que tudo fazem para remover seu coração dali. Ora, mais que insensíveis são, sem dúvida, péssimos cirurgiões, pois o coração de uma cidade, como o de uma mulher-ilha, é ‘intransplantável’. Alguns anos atrás, a cidade foi atendida em uma cirurgia que lhe reabilitou o coração, numa operação muito propriamente chamada Reviver. Ultimamente, alguns de seus administradores tem tido a iniciativa de revitalizar certas ‘artérias’ que inflamam seu coração. Demoraram a aprender que não há porque maltratar o coração de uma mulher que precisa, ao contrário, ser tratado com muito carinho. Pode-se dizer que esse coração, apesar de tantos maus-tratos acumulados ao longo de sua vida, resistiu à passagem dos séculos  e resistirá à dos milênios.   
                  Seus olhos, claro, não se parecem nem um pouco com os semáforos e as barreiras eletrônicas que ficam espiando qualquer distração do cidadão, para calcar-lhes uma multa. (Isso se chama extorsão). Muito ao contrário, seus olhos são vigias noturnos de sua tranqüilidade: movem-se como os vaga-lumes, e dia claro, já estão nos raios de sol que descendo  do céu clareiam a vida da cidade e sua paisagem.
               Seus ouvidos continuam imunes a todas as perturbações que a velhice, se é que podemos falar assim, lhe impõe. Aprenderam a ouvir de tudo: forró, reggae, trovões nas tempestades, foguetes no Reveillon etc., mas nada lhe causa mais incômodo do que propaganda de político. É impressionante como estes, que dela se propõem a cuidar,  sejam os primeiros a não terem dó dos seus ouvidos.  Imperturbável, ela sequer se protege com fone de ouvido, espera pacientemente pelo som da maresia batendo nos arrecifes quando chega a madrugada e pronto, está disposta para um novo dia. Além de bela: heróica e elegante.
            Quanto a seus pés, prefere andar descalça. Isso para não tropeçar nos buracos que seus administradores lhe impõem. Um buraco ali, outro ali, ela se fere acolá, mas jamais perde a elegância. Para isso  tem as pernas grossas de tanto subir as ladeiras  que a levam do centro à Praia Grande, seu roteiro preferido.

                                                                          

            Por fim, sua boca. Ah, sua boca, que não se parece nem um pouco com a de Angelina Jolie, ou de Carolina Dickman, e nem precisa! Parece-se isto sim com a da mulata faceira e sensual do grande escritor maranhense, e que se alimenta, além de beijos, de um bom  arroz de cuxá e peixe frito, no intervalo de um caranguejo e outro. Só não me pergunte onde, para não despertar ciúmes de donos de restaurantes. Aliás, essa mulher não é chegada a restaurantes pseudo-chiques do Calhau e adjacências. Já foi encontrada para os lados do Quebra-Pote, na Raposa, no Araçagi ou em qualquer lugar onde a poesia se misture com a comida. Já não se disse que o vinho é o prato intelectual da comida? Pois é, São Luis é o prato intelectual de qualquer restaurante da ilha, e, como o vinho, quanto mais velha melhor e mais saborosa para todo aquele que tenha o mínimo de refinamento cultural.
            Alguém a encontrou por aí? Por favor, dêem-lhe os parabéns por mim, e não se esqueçam de dizer-lhe que, mesmo quatrocentona, continua cada vez mais jovem e mais bela!

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
                                                           http://www.blogspot.com.br

            

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