artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje sábado.
Estranho que no dia dos Namorados
nenhum casal tenha se lembrado de que havia logo ali, num pomar da cidade, o
melhor presente que alguém poderia ter dado a seu parceiro apaixonado: o original,
simbólico e espiritual -porque
ressuscitou - maracujá-pênis. Ao invés de exaurir suas economias num
restaurante da Lagoa ou da Litorânea (capazes de exaurir também qualquer tesão) era melhor ter escolhido esse fruto de
mão dupla . Se ofertado pela moça, para lembrar as obrigações sexuais do rapaz, tantas vezes
esquecidas. Se da parte dele, para insinuar uma renovadora motivação amorosa.
Ninguém
levou isso conta, mas também pudera!: A volta do maracujá-pênis não foi festejada pela grande mídia a não ser em
uma pequena notícia de canto de jornal. Lembro que um dia escutei, em um belo
filme, uma frase, nunca olvidada, sobre
um personagem: “muito passado, pouco presente, nenhum futuro”. Certamente o
contrário da sina do novo maracujá-pênis
: “pouco passado, muito presente , vasto futuro”.
1.O PASSADO.
Para quem não se recorda, vale a pena lembrar. O maracujá-pênis surgiu há cerca
de dois anos atrás, num sítio de Ribamar. Imponente, bizarro e sedutor logo virou celebridade, bombando na
Internet e nas Redes Sociais e deixando para trás gente famosa nesse ramo, como
um rapaz maranhense de Sicupira do
Norte, que tem o maior pênis do mundo. As
ribamarenses, excitadíssimas, logo começaram a alterar seus hábitos
alimentícios: o suco de açaí foi preterido pelo de maracujá, o feijão com arroz pelo sorvete do fruto e a tradicional sobremesa de doce de leite foi
superada pelo mousse da fruta amarelinha. Estrangeiros, vindos sabe-se lá de onde, começaram a
aparecer no sítio de dona Marta, lembrando uma súbita invasão dos sem-terra. Incomodada
em sua quietude, Dona Marta, claro, passou a cobrar pela visão do fruto. Sim,
porque até o clima mudara com a chegada do fenômeno: por conta das fantasias sexuais
das ribamarenses, especialistas começaram a detectar um aumento da umidade
relativa do ar no entorno da região.
Mas, como
tudo que é bom dura pouco, um belo dia,
de repente, o fruto se desfez, se foi, escafedeu-se. Para tristeza de todas e
felicidade geral dos homens (cada vez mais comprimidos diante da festiva concorrência)
o fruto morreu, ninguém sabe como e por quê. Sua curta trajetória parecia ser coisa de um passado
definitivamente enterrado.
2.O PRESENTE.
Mas eis que o fruto se fez de volta, anunciado esta semana para o mundo inteiro,
não mais em Ribamar, mas em São Luis. Como se lê na reportagem: “Pé de Pirocujá
( apelido carinhoso do fruto) retorna,
com força total na Ilha do Amor. “ A reportagem acrescenta anda que o Pirocujá renasceu no bairro do Calhau,
num sítio em frente à casa de um famoso
cantor maranhense, que inclusive postou fotos do fruto na Internet para que
ninguém duvidasse. (Teria sua
ressurreição a ver com a qualidade da melodia
executada no interior da casa, e o
ambiente musical ao redor?)
Isso não
importa, o que interessa é que o Pirocujá (ex-maracujá-pênis) está de volta, sintomaticamente,
mais uma vez na Ilha do Amor. Se o amor é eterno, nada mais justo que um fruto
que guarda em seu bojo uma representação natural do amor esteja destinado a
vida eterna.
3.O FUTURO.
Apesar de toda essa sina heróica e romanesca não custaria nada aos políticos
darem uma mãozinha em prol da confirmação
do Pirocujá como um novo símbolo da
cultura local. Se, conforme noticiado, existe
vereador propondo a instalação de um impostômetro em praça pública (o povo
preferiria, com certeza, um corruptômetro)
por que não uma estátua do Piro...em praça pública, para felicidade
geral da nação, e das mulheres em especial? A essas alturas, já não deveria
estar na pauta dos representantes da população demandas para implantação de estudos
científicos que garantissem a subsistência do fruto, evitando, assim, riscos de
outra debandada do mesmo, causada sabe-se
lá por quê?
Uma coisa é
certa. Se comprovado, como sugerido acima, que o maracujá-pênis precisou para se
desenvolver e frutificar de uma boa música popular maranhense, se não houvesse
outras razões, já haveria um bom motivo.
ewerton.neto@hotmail.com http://www.joseewertonneto.blogspot.com
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