sábado, 15 de junho de 2013

A VOLTA DO MARACUJÁ-PÊNIS



artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje sábado.


Estranho que no dia dos Namorados nenhum casal tenha se lembrado de que havia logo ali, num pomar da cidade, o melhor presente que alguém poderia ter dado a seu parceiro apaixonado: o original, simbólico e espiritual  -porque ressuscitou - maracujá-pênis. Ao invés de exaurir suas economias num restaurante da Lagoa ou da Litorânea (capazes de exaurir também qualquer  tesão) era melhor ter escolhido esse fruto de mão dupla . Se ofertado pela moça, para lembrar  as obrigações sexuais do rapaz, tantas vezes esquecidas. Se da parte dele, para insinuar uma renovadora motivação amorosa. 

                Ninguém levou isso conta,  mas  também pudera!: A volta do maracujá-pênis  não foi festejada pela grande mídia a não ser em uma pequena notícia de canto de jornal. Lembro que um dia escutei, em um belo filme, uma frase, nunca olvidada,  sobre um personagem: “muito passado, pouco presente, nenhum futuro”. Certamente o contrário da sina do  novo maracujá-pênis : “pouco passado, muito presente , vasto futuro”.
                                                       

1.O PASSADO. Para quem não se recorda, vale a pena lembrar. O maracujá-pênis surgiu há cerca de dois anos  atrás,  num sítio de Ribamar. Imponente, bizarro  e sedutor logo virou celebridade, bombando na Internet e nas Redes Sociais e deixando para trás gente famosa nesse ramo, como um rapaz  maranhense de Sicupira do Norte,  que tem o maior pênis do mundo. As ribamarenses, excitadíssimas, logo começaram a alterar seus hábitos alimentícios: o suco de açaí foi preterido pelo de maracujá,  o feijão com arroz pelo sorvete do fruto  e a tradicional sobremesa de doce de leite foi superada pelo mousse da fruta amarelinha.  Estrangeiros,  vindos sabe-se lá de onde, começaram a aparecer no sítio de dona Marta, lembrando uma súbita invasão dos sem-terra. Incomodada em sua quietude, Dona Marta, claro, passou a cobrar pela visão do fruto. Sim, porque até o clima mudara com a chegada do fenômeno: por conta das fantasias sexuais das ribamarenses, especialistas começaram a detectar um aumento da umidade relativa do ar no entorno da região.   
Mas, como tudo que é bom  dura pouco, um belo dia, de repente, o fruto se desfez, se foi, escafedeu-se. Para tristeza de todas e felicidade geral dos homens (cada vez mais comprimidos diante da festiva concorrência) o fruto morreu, ninguém sabe como e por quê. Sua curta trajetória  parecia ser coisa de um passado definitivamente enterrado.

                                            

2.O PRESENTE. Mas eis que o fruto se fez de volta, anunciado esta semana para o mundo inteiro, não mais em Ribamar, mas em São Luis. Como se lê na reportagem: “Pé de Pirocujá ( apelido carinhoso do fruto)  retorna, com força total na Ilha do Amor. “ A reportagem acrescenta  anda que o Pirocujá renasceu no bairro do Calhau,  num sítio em frente à casa de um famoso cantor maranhense, que inclusive postou fotos do fruto na Internet para que ninguém duvidasse.  (Teria sua ressurreição  a ver com a qualidade da melodia executada no interior da casa,  e o ambiente musical ao redor?)
Isso não importa, o que interessa é que o Pirocujá (ex-maracujá-pênis) está de volta, sintomaticamente, mais uma vez na Ilha do Amor. Se o amor é eterno, nada mais justo que um fruto que guarda em seu bojo uma representação natural do amor esteja destinado a vida eterna.                                

3.O FUTURO. Apesar de toda essa sina heróica e romanesca não custaria nada aos políticos darem uma mãozinha em prol da  confirmação do  Pirocujá como um novo símbolo da cultura local. Se, conforme noticiado,  existe vereador propondo a instalação de um impostômetro em praça pública (o povo preferiria, com certeza, um corruptômetro)  por que não uma estátua do Piro...em praça pública, para felicidade geral da nação, e das mulheres em especial? A essas alturas, já não deveria estar na pauta dos representantes da população  demandas para implantação de estudos científicos que garantissem a subsistência do fruto, evitando, assim, riscos de outra debandada do mesmo,  causada sabe-se lá por quê?


                                         


Uma coisa é certa. Se comprovado, como sugerido acima,  que o maracujá-pênis precisou para se desenvolver e frutificar de uma boa música popular maranhense, se não houvesse outras razões,  já haveria um bom motivo.
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                                   http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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