artigo publicado hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão
Semana passada, a crônica São Luis aos 4 cantos, encantos e
desencantos , não foi bem recebida por um leitor que, embora tenha apreciado
o tom irreverente da mesma, acredita que se deveria realçar ‘apenas’ os aspectos
positivos da cidade, para que os turistas passem a se entusiasmar mais por
ela.
Em atenção ao mesmo, segue esta Declaração dos Direitos do
Sanluisense que talvez lhe diga alguma coisa do que deve ser pensado
a respeito:
1.O sanluisense de verdade tem o
direito de pleitear que as benfeitorias feitas em sua cidade visem aos
turistas, mas, sobretudo a ele mesmo, pois o que for feito em seu nome beneficiará
os turistas que vão e vêm. Lembrando que nem os olhos dos turistas enxergam
mais longe que os seus, nem seus narizes são mais sensíveis. E que a vocação da
cidade deve ser pelo bem-estar de todos os que cruzam suas ruas, independente
da sola dos seus sapatos e dos lugares
por onde passaram.
2. O sanluisense de verdade tem o
direito a não gostar de shopping-centers, de suas promoções fajutas, vidraça, gente e produto caro. Lembrando
que é melhor pagar cinqüenta centavos para um flanelinha, no
Centro, do que dois ou mais reais por
uma vaga no shopping ( que, aliás, deveria ser gratuita por um mínimo de
consideração). E que, se ainda faltarem
razões para preferir o Centro lembrar de que é apenas lá que se sente a
pulsação da cidade e onde se defronta com a beleza imemorial de suas ruas.
3.O sanluisense de verdade tem o
direito de acreditar que se, como disse o poeta, todo homem é uma ilha, toda
ilha também pode ser um ser um homem, ou, preferencialmente, uma mulher a desfilar de braços dados com o mar.
4.O sanluisense de verdade tem o
direito de acreditar que esta ilha é - e ainda permanecerá por muito tempo - a
Atenas Brasileira. E de lembrar todo santo dia que suas referências literárias
são Aluisio Azevedo, Josué Montello ou Ferreira Gular e não Paulo Coelho,
Augusto Cury ou Chico Buarque.
5.O sanluisense de verdade tem o
direito de não ter dúvidas de que a mulher sanluisense é a mais bonita do
Brasil. Ao contrário do que disse um pseudo-cantor chamado Xandy e do que imaginam
as crioulas da cidade, a pintar seus cabelos para imitar as louras insossas do
Rio Grande do Sul, travestidas de modelos em competições de quilos de osso a
menos. E de lembrar que mulher bonita
não tem nada a ver com o epíteto “gente bonita” das colunas sociais dos
jornais, mas com a morena que mora no subúrbio, trabalha numa loja do Centro,
tem filho sem pai, dá uma de Mama África (de Chico César) e ainda conserva sua
beleza desfilando pela Praça Deodoro para pegar buzu.
6.O sanluisense de verdade tem o
direito de chamar açaí de juçara, craviola de jacama e fecho-éclair de ri-ri.
Há algum tempo sabedor de que já não tem o melhor Português do Brasil ( já não
existe isso, a televisão globalizou o que há pior), faz questão, no entanto, de preservar suas próprias expressões, entre
elas aquelas em que evidencia sua simpatia pelos animais como “Egua!”,
interjeição que serve para tudo e “Pai D`´egua” um elogio ‘arretado’.
7.O sanluisense de verdade tem o
direito de lamentar que ainda haja conterrâneos com o ‘complexo de vira-lata’
maranhense . E que assim que ponham os pés no exterior corram para as páginas
sociais dos jornais para exibir fotografias por lá tiradas como se isso fosse
grande coisa. Idiotamente agindo, sob ilusão desmedida, como se não houvesse por
aqui mesmo, em sua própria ilha, belezas muito mais deslumbrantes e
recompensadoras.
8.O sanluisense de verdade tem o
direito de gostar do “calor” de sua cidade entremeado com a brisa da ilha, e de detestar qualquer tipo de frio - de
pessoas a de ambiente. E de “achar uma fria” que a mídia nacional se disponha a
exaltar com tanto deslumbramento a chegada da neve em algumas cidades
brasileiras como se isso fosse coisa que o valha. Lama por lama ( como
consideram a neve os europeus que com ela convivem) é preferível as que acobertam nossos
deliciosos caranguejos.
9.O sanluisense de verdade tem o
direito de gostar mais do Sampaio Correia – ou do Maranhão A.C. - do que de Coríntians, Flamengo ou Fluminense.
Lembrando que o Sampaio Correia tem proporcionalmente, no Maranhão, uma torcida
muito maior do que jamais almejaram Coríntians ou Flamengo em seus estados. Que
o Sampaio Correia é o único time do país
que possui o título nacional em três divisões , e que o maior ponta-esquerda
que houve no futebol nacional era maranhense e chamava-se Canhoteiro (comparado
a Garrincha por grandes jogadores que o marcavam como o grande Djalma Santos,
morto semana passada). E que, mais injustamente do que a Garrincha, não tem sequer
uma referência à sua memória em
qualquer estádio sanluisense, o que, a seu ver, deveria ser reparado imediatamente.
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