sábado, 16 de novembro de 2013

A HISTÓRIA CURIOSA DO GARFO E FACA



artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


Eis que se aproximam as festas de fim de ano, os comes e bebes e, com eles, o reinado do garfo e faca. Reinado? Eu disse reinado, mas desses reinados  ocultos à sombra de  outro: no caso, da comida e da fartura, já que todos estarão mais preocupados em enfiar  comida goela abaixo, pouco se lixando para o que lhes terá tornado tudo isso possível. Alguém já imaginou o que  seria de uma ceia de natal sem garfo e faca? E já se perguntou como tudo começou?                                          


1.O garfo só chegou ao Ocidente  pelos idos de 1004, no casamento que uniu o Império Bizantino com a República de Veneza. Na ocasião, a futura rainha levou uma caixa com os talheres. A estranheza deve ter sido tanta que muita gente pensou que o garfo era para enfiar no príncipe caso ele não cumprisse seu papel de esposo. (Lembremos de que nessa época tão distante nem tevê havia, com suas exibições de sexo explícito ao vivo, para estimular a fantasia sexual das mulheres).
Explicações iniciais à parte, mesmo assim os religiosos vieram a considerar esse negócio de talheres uma heresia e o utensílio foi banido por séculos.  Como se sabe, se nessa época ainda não havia lei seca,  o que não faltava era lei do cão: usar garfo, só era permitido ao demônio.

                                               


2.Por volta de 1500, a faca de caça e defesa pessoal ganha espaço à mesa das classes mais nobres. Elas eram de prata e tinham a lâmina afiada e pontuda. Além de cortarem serviam para espetar a comida e levá-las a boca, o que significa dizer que possivelmente, nessa época,  morria mais gente por falta de dentes do que de peste , pois como será que faziam para engolir os pedaços mais duros? Vai ver que  quem tinha dentes mastigava para o outro engolir, o que não deixava de ser outra espécie de morte.


                                            

3.No casamento real entre Catarina de Médicis, da Itália, e Henrique II da França, eis que o garfo faz nova tentativa de aparecer e se implantar pros lados de 1533. Era de ouro e prata, tinha apenas dois dentes e, como é fácil deduzir, tinha especial predileção por ambientes nobres, já que só aparecia em casamento de rico. Embora já  tivesse essa queda por casamentos, nessa época  ainda não pensava em se casar,  por sua vez, com a faca.                                                     

4.Isso só aconteceu em 1633, quando o rei britânico Charles I decretou: “ È decente sim, usar o garfo”, assim permitindo  o casamento em definitivo dos dois. Daí em diante seu uso se popularizou e o garfo passou a fazer par para o resto da vida  com a faca. Chegavam até a  dançar como bons namorados , veja só, não apenas nas carnes de algum  leitão como também na barriga de algum brigão impertinente, porque as contendas, como ritual inseparável da cerimônia dos jantares foram ficando muito comuns. 


                                                     


5.Não demorou muito e o cardeal Richelieu, o homem forte dos reinados franceses  à sua época, sugeriu a criação de facas arredondadas, para que os convidados não as usassem para palitar os dentes. O cardeal devia estar cansado de comer restos de comida misturados com pedaços de gengiva do rei e não devia estar nem um pouco satisfeito com isso. Como o rei fazia tudo o que ele mandava,   proibiu de vez as lâminas pontudas com o pressuposto de coibir os casos de violência entre os comensais. Essa modificação, definitivamente, foi de muita valia até hoje. Caso não tivesse sido inventada, podemos imaginar o que ainda estaria acontecendo nas filas de self-service dos nossos  natais:


                                        


- Quero aquele pedaço de leitão, ali.
- Qual?
- O que está perto da azeitona preta.
- Desculpe, mas vai ter que escolher outro. Eu também quero esse e estou à sua frente!
- Tem certeza? Saiba que a minha faca é mais pontuda que a sua.
-É mesmo?
-E agora, deu pra perceber?
-Meu Deus, ai minha bunda! Sangue! Chame a polícia.

6.Só no século dezoito o garfo ganhou o terceiro e o quarto dentes, tornando tudo muito mais fácil. Agora já era possível carregar a comida e não apenas espetá-la. A imaginação fez o resto e surgiram modelos específicos para ostras, peixes, saladas etc. Veio o aço inoxidável barateando a produção em larga escala em 1914 e em 1919 nascia a faca de pão. Ano passado surgiu o Hapifork, um garfo eletrônico que registra os hábitos alimentares do dono, a duração da refeição e o total de garfadas, passando a informação, via USB, para planilhas eletrônicas.
Só falta inventarem um que transfira os arrotos.
                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                               http://www.joseewertonneto.blogspot.com

                                                                                              A história curiosa do garfo e faca

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