artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Nunca se falou tanto em felicidade. O
brasileiro, por exemplo, se considera feliz e, nesse campeonato, mundial, está
em primeiro lugar. Em outro campeonato, porém, também de felicidade, ocupa
apenas um modestíssimo 46º lugar. Pode?
Acontece que o primeiro é baseado em
respostas pessoais, o entrevistado abre a boca e diz o que quer, já no segundo
a felicidade é medida segundo critérios pelos quais não o indivíduo, mas as nações, são avaliadas e ranqueadas por 89 indicadores
em oito categorias, como educação, governo e economia. Ou seja, tem gente que está
se julgando feliz sob uma condição paupérrima e das duas uma: ou a felicidade é
do tamanho da boa vontade que alguém tem para com ela ou tem gente que não sabe
sequer o que é felicidade.
Mas, será que alguém
sabe? Se isso fosse fácil os filósofos não teriam quebrado a cabeça a vida
inteira para tentar defini-la sem chegarem a um resultado razoável. Até hoje, a
melhor definição de felicidade que já vi, não foi de um filósofo, mas de uma
atriz, a sueca Liv Ullmann, quando a definiu, eivada do pragmatismo sueco e, possivelmente,
sob os resquícios da convivência com o seu mórbido, mas genial marido Ingmar
Bergman: “Felicidade é saúde e péssima memória.” Quem dá mais?
Foi pensando nessa
dificuldade de definição que cerca de cinco
anos atrás ousados psicólogos britânicos acusaram ter descoberto, afinal, a
fórmula:
FELICIDADE=
P + (5E) +(3H).
Pronto! Aí estava a
felicidade, finalmente accessível, separada de nossos anseios apenas por um
sinal de igualdade, (sinal este, aliás, facilmente usurpável , principalmente em nosso país, do ‘jeitinho
brasileiro’, onde até a matemática pode ser corrompida, não é mesmo?) Quer melhor que isso? Bonitinha, mas
ordinária, cômica se não fosse trágica se, além de tudo, não estivessem
enfiados na sua vizinhança o P o E e o H para complicarem nossas aspirações ainda
mais. Pois o tal do P se refere a pessoas (com seus n fatores intrínsecos à
personalidade, entre os quais otimismo nas adversidades); o tal do E se refere
à estabilidade; emprego, saúde e dinheiro ( ah, o tal dinheiro!); e H ao senso de humor, a auto-estima e as
ambições.
Complicou ainda mais,
certo? Tivesse algum ser humano nascido com tudo isso e nem precisaria de
felicidade. Não moraria nesta Terra, mas no Paraíso com direito a beijos de
Elizabeth Taylor ao acordar e a dar pontapés em Pedro Álvares Cabral, em nossos
heróis de araque e em Janio Quadros por tudo que nos fizeram.
Como essa alternativa,
infelizmente, não passa de mais uma relativização impossível, mesmo com toda boa
vontade de Einstein, o mais racional seria pensarmos, a bem de nossa saúde, que,
de fato, o problema da felicidade não é só que todo mundo quer ter uma a seu
bel prazer, mas que ela, talvez, sequer exista. O que, pensando bem, seria
melhor para todo mundo, porque só assim se deixaria de pensar na mesma como se fosse um alvo de loteria, plenamente
alcançável à custa de alguns realzinhos, um lance de sorte e muita paciência numa
fila de otários.
Se lembrarmos que uma
semana atrás Nicólas Maduro, herdeiro de Hugo Chávez criou na Venezuela o
Ministério da Suprema Felicidade; que Naldo Dinheiro, o “cantor” brasileiro disse
que “Dinheiro traz tanta felicidade que iria colocá-lo no sobrenome”; e que onze
entre cada dez peruas-celebridades brasileiras se perguntadas se são felizes,
respondem afirmativamente e tentam exibi-la na face como se fosse um adorno (com
um sorriso que só não vai mais longe porque o botox não deixa), dá até vontade
de ser infeliz, não é mesmo?
Pois se existe
felicidade em escutar música sertaneja (a preferida por mais da metade dos
brasileiros); em cantar hino nacional em tudo quanto é jogo de futebol de
segunda, e em sair gritando de alegria e chamando “Vai Curíntia” depois de ter
sido roubado para o Governo poder enfiar 500 milhões na construção de um
estádio de futebol para esse time, que raios de felicidade medíocre será essa?
Vá lá, FELICIDADE = P +
(5E) +(3H) e estamos conversados. A matemática que nos salve de tanta felicidade, se puder!
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