artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje sábado
Dentre as
publicações previstas para este ano, a
reboque da Copa de 2014 no Brasil, uma
delas é o Guia Politicamente Incorreto do
Futebol, como já ocorreu com a
História do Brasil e outros. Como se sabe, essas edições tentam desmitificar
lendas e histórias que se criaram em torno de personagens, fatos etc. Como apreciador
do futebol bem jogado confesso que estou
curioso pelo conteúdo do livro, permitindo-me
nesta crônica, antecipar temas futebolísticos que foram, a meu ver, sedimentados erroneamente no
imaginário popular. (Será que estarão no livro?)
1.A
“fantástica” (?)seleção de 1982.
Sem dúvida,
era muito boa essa seleção brasileira de 1982, que tinha Zico, Falcão e
Sócrates, mas, teria sido mesmo essa seleção tão fantástica assim? Causa espécie ainda hoje que, nas costumeiras
discussões futebolísticas, alguns apressadinhos surjam para concluir que essa
seleção foi a melhor de todos os tempos, sobrepujando – pasmem! – a de 1970 ou
a de 1958. Baseiam-se no fato de que, ao assistirem filmes dos jogos dessas
épocas, estranhem o futebol praticado pela seleção de 1970, cadenciado e lento
para os padrões atuais, escusando-se de atentar para a excepcional qualidade técnica
dos jogadores de então, o que é independente do estilo de jogo.
Quando colocam a seleção de 1982 em nível superior
à de 1970, certamente não se deram ao trabalho sequer de ver (ou rever) o jogo
Itália x Brasil de 82, que eliminou o Brasil e causou comoção nacional. Nessa época,
ninguém admitia que a seleção brasileira, com tantos craques, viesse a perder para
a Itália, uma seleção que não vinha bem na Copa, esquecendo-se, contudo, de
observar que, do lado de lá, havia também uma grande seleção, como comprova o
jogo repassado pela ESPN, Brasil na série “Os grandes jogos da Copa”. Revendo a
partida chega-se facilmente à conclusão de que foi criado no Brasil o mito de
uma seleção invencível, (que teria
perdido unicamente por descuido, ou para ela mesma) o que não se comprova no
jogo. Ao contrário, com uma atuação impecável a Itália sobrepujou o Brasil, na
bola, e não por causa de uma falha fortuita de Toninho Cerezo, como faz parte
do mito.
Enfim, a seleção de 1982, mesmo sendo boa, ficou
longe de atingir o ápice daquela de 1970
e qualquer comparação com a mesma só é admissível para neófitos ou brincalhões:
não só pela maior qualidade técnica dos
jogadores de 70 (havia não só um rei, Pelé, como todo um principiado) como em termos de resultados
práticos: a classificação do Brasil na
Copa de 1982 foi uma das piores de uma seleção brasileira em todos os tempos.
2.O escrete canarinho, quase sempre muito melhor ,
foi injustiçado e “roubado”(?) muitas vezes.
Desde quando a
transmissão era radiofônica criou-se o mito de que os árbitros tinham uma
predisposição de prejudicar o Brasil nas Copas, o que nem de longe condiz com a
realidade.
Pelo contrário, a seleção brasileira foi
beneficiada muito mais do que
prejudicada. Pouca gente( mesmo
os mais antigos) sabem desse detalhe, mas na Copa de 1962 ( que eu escutei pelo
rádio, morando em Guimarães)a Espanha foi tão clamorosamente espoliada no jogo
contra o Brasil, que é difícil acreditar na honestidade do juiz desse jogo, de
especial tragicidade e emoção, e fundamental para que o Brasil viesse a ganhar a
Copa.
O Brasil havia
perdido Pelé, contundido, e dependia de Amarildo ( um novato) para enfrentar a famosa
seleção da Espanha, com base no Real
Madrid, que tinha Puskas , Di Stefano ( que não jogou) e outros
estrangeiros repatriados. Pois o árduo resultado final de 2 x 1 saiu não apenas às custas do talento de
Amarildo e da esperteza de Nilton Santos, que deu um passo à frente e se
antecipou ao pênalti que havia cometido e que nos desgraçaria. Houve mais,
muito mais. A Espanha teve um gol de Puskas, magnífico, diga-se de passagem, cuja anulação
corresponde a uma das decisões mais descaradas que se tem notícia em matéria de
futebol. O placar ‘moral’ seria, portanto,
Espanha 3 x 2 ( quando o empate já classificaria a Espanha).
Felizmente que
assim aconteceu, digo hoje, e que o juiz roubou a “Fúria”, porque senão teria roubado, por sua vez, uma
das maiores alegrias que um garoto teve na infância, no caso eu, a sair
gritando de alegria pela praça Luis Domingues com demais torcedores , adultos e
crianças, após a reação gloriosa de um Brasil que começara jogando muito mal e perdendo, apesar dos arroubos patrióticos do
narrador .
Com a chegada
da televisão, outros “enganos” vieram a acontecer para
eliminar de vez o mito criado, pelos narradores de futebol, de que os juízes
faziam tudo para prejudicar o Brasil. Muito pelo contrário, fizeram ‘tudo’ para dar uma mãozinha ao Brasil . Desde
o lance de um pênalti claríssimo não marcado contra a França na Copa de 1986, (
o Brasil viria a perder nos pênaltis) até o gol de mão de Luis Fabiano , na
Copa recente, a história está repleta de lances assim e essa história de que o ‘Brasil é prejudicado em Copas’, não passa de uma grande invenção
dos Galvões Buenos, da vida ,que fazem do seu desmesurado patriotismo de araque
uma forma de ganhar dinheiro fácil.
Assim o que
não falta é mito, como aquele que se criou de que o Brasileiro já nasce com o
talento nato para o futebol ( o que é uma deslavada invenção se compararmos à
quantidade de grandes craques nascidos na Argentina , proporcionalmente à
população); como também o de que gostamos tanto assim de futebol ( se isso é verdade porque os estádios ficam
vazios?), etc. Ou seja, se é para ser politicamente incorreto , assunto existe,
mas deixemos para o livro que terá muito mais espaço, ainda mais que se refere, acho , ao futebol do planeta todo.
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