artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão
Ah, os personagens das marchinhas de
carnaval e dos sambas que fizeram a alegria de tanta gente! Como eram
simpáticos, divertidos e... eternos, tanto é assim que continuam fazendo
sucesso. Mas, será mesmo que continuam iguais? Não precisariam reagir ao mundo
atual? Como estarão se comportando?
1.A jardineira. “OH, jardineira
porque estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a Camélia que caiu
do galho, deu dois suspiros e depois morreu”.
A jardineira, que já não gosta de ser
chamada de jardineira e prefere ser chamada
de Graziela, Cacau ou Sabrina, faz tempo que não liga para Camélia, sua
amiguinha da infância que preferiu estudar e ser professora. Essa, coitada, tá
cheia de filho e pegando buzu todo dia, rezando para não ser queimada a qualquer
hora. Jardineira, ou melhor Graziela,
preferiu ser burra mesmo, participar do BBBrasil e se envolver com Sérgio
Justus, um coroa empresário podre de rico e de botox , de quem virou
‘ficante’ e que lhe paga uma faculdade, onde ela não precisa se formar, mas se informar.
Mas, não é que esse coroa, que quebrava seus galhos, acabou
de ter um infarto, deu dois suspiros e depois morreu? Não é para chorar mesmo?
Chora jardineirinha!
2.O mendigo. “Ei, você aí, me dá um
dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Não vai dar, não vai dar não, você vai ver a
grande confusão. Eu vou fazer beber até cair, me dá, me dá me dá, oi, me dá um
dinheiro aí.”
Como todos sabem, já não existem mais
mendigos neste país, existem pedintes, ou melhor, mandantes já que os mendigos de hoje não pedem, ordenam.
Por isso mesmo o mendigo dessa música virou guardador de carro, jamais pede um
dinheirinho aí, e, pelo contrário, ordena é que lhe passem logo os cinco
realzinhos, senão...
3.O que adora mamar. “Vestiu uma camisa
listrada e saiu por aí. Em vez de tomar
chá com torrada ele bebeu Parati. Levava uma canivete no cinto e um pandeiro na
mão e saiu dizendo: Mamãe eu quero mamar , mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero
mamar”.
A camisa pode até ser de listinhas,
mas por cima dela, agora o mamador veste um terno. Não, nada de chá com
torradas ou de beber para ti. Ele bebe é para si mesmo, uma dose de Buchanan’s que ninguém é de ferro. Daqui a pouco tem
votação na Assembleia para aprovarem mais uma lei de aumento do próprio
salário, portanto, mais um carnaval por lá.
Só que, ao sair, ele continua dizendo
como antes “Mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar!” ao
que a mãe, complacente com o caráter ‘edificante’
do filho responde: “Vai meu filho que eu
quero mamar também.”
4.O Selecionador. “Solteira, eu não quero, casada traz complicação, a viúva tem
saudades, a desquitada é a minha solução.”
Desquitada, que diabo é isso? Nos
dias atuais em que no perfil do Facebook existem 52 variedades de opções
sexuais para que alguém possa definir a sua, entre as centenas de tipos de
relacionamentos possíveis o melhor que existe para homem, só pode ser gigolô de
perua, de preferência da Globo.
Certo, ter de aguentar Suzana Vieira,
Ana Maria Braga etc., de noite, na cama, é uma hora extra que precisa de
indenização trabalhista muito além de periculosidade, mas há uma vantagem
inegável: a aposentadoria será precoce porque o futuro do empregador é menor ainda.
5.A máscara negra. “Quanto riso, oh,
quanta alegria, mais de mil palhaços no salão, Arlequim está chorando pelo amor
de Colombina [...] Na mesma máscara negra que esconde teu rosto, eu quero matar
a saudade...”
A única máscara negra que existe hoje prefere matar gente do que saudade. Virou black-bloc. Ao invés de
riso, tiro; ao invés de alegria, reclamação. Os palhaços, presos em seus
automóveis, são aqueles retidos pelas manifestações. Se você quer mesmo se
apaixonar por ela é problema seu, mas, por segurança, prenda-a não no seu
coração, mas na cadeia porque do que menos ela está a fim, é de beijo, paz e
amor.
6. Vocação. “Mamãe eu vou ser soldado de Israel. Não tem água no
cantil, mas tem mulher no quartel. Além
disso guerra é guerra , mamãe, e vai ser sopa no mel”.
Faz muito tempo que ser soldado por aqui deixou de ser aspiração, que dirá em Israel. O que dá vontade mesmo de ser é
laranja de traficante e componente de gangue. O futuro é garantido. Na
cadeia não tem água (mas isso é em todo
lugar) e mulher por lá é o que não falta, com a vantagem de que você pode ficar
com a mulher bonitona de outro preso mais fraco, numa suruba bem melhor do que
aquelas do BBBrasil que passam, ao vivo para criancinhas, na rede Globo.
Quanto à sopa no mel só se você for
preso como mensaleiro.
Mas aí já é querer demais!
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