sábado, 22 de março de 2014

O QUE FOI FEITO DO BOEING 777?




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado

O QUE SOMOS, DE ONDE  VIEMOS,   PARA ONDE VAMOS? Seria essa questão - que  marca o destino humano como uma solução insondável  para a filosofia e a ciência -, diferente daquela que estamos fazendo,  a todo instante, a propósito do desaparecimento do Boeing   777 que ia da Malásia para a China e que bruscamente, desapareceu há mais de uma semana com 232 pessoas a bordo? O que  aconteceu com eles, para onde foram, onde estão agora?
Lamentavelmente, é nessas horas que a monumental fragilidade do ser humano,  expõe a face mais aguda de nossa impotência, quando o avanço tecnológico de que  tanto nos orgulhamos revela  sua insuficiência mais cruel: aquela incapaz de  impedir  que  seres humanos permaneçam sem saber se seus parentes queridos estão mortos ou não. É quando a morte, flagelo de nossa própria existência, surge como porto seguro de nossas  angústias : “Ah, se pelo menos dissessem que estão mortos e nos entregassem seus corpos para serem velados!” Nesse caso, fazendo  eco à questão primordial citada acima,  que tanto torturou artistas como Gauguin, filósofos, e cientistas.


                                          

 
As sucessivas reportagens da imprensa e tevê, ao transmitirem as vãs tentativas de esclarecimento do episódio, expõem a ignorância de quem deveria dar a resposta, a estupefação da população e a revolta desesperada daqueles que tem laços afetivos com os que estão desaparecidos. De repente (como já aconteceu outras vezes) 232 pessoas embarcadas em uma cápsula gigantesca jogada aos céus (um avião, claro) desaparecem e ninguém sabe onde estão.  É como se também se dissipassem, num  segundo, não só a tal gigantesca cápsula, concebida com o que de melhor a inteligência de nossa  raça produziu, como também todo um aparato tecnológico de comunicação que deveria, no mínimo, ser capaz de dizer o que aconteceu a  essas infortunadas  pessoas.
Nessas horas, como são de mísera valia os  resultados estatísticos que comprovam (?)   que o avião é o meio de transporte mais  seguro que existe!  Basta que nos coloquemos, por alguns segundos, nas mentes dos que sofrem pelos entes desaparecidos e que não querem saber de estatísticas. Para estes, como a mãe de um deles, a coisa é simples: “Então, compro uma passagem caríssima para um filho meu, que decide viajar perto das nuvens para chegar mais rápido. Como foi prometido o melhor da segurança tecnológica para acompanha-lo pude ficar relativamente tranquila quanto a isso, embora saiba que riscos sempre  haverão.  Eis que acontece um acidente dentro dessa margem improvável de falha, só que seria um pouco menos doloroso se me dissessem que meu filho morreu por isso ou por aquilo, mas o que impressiona e entristece muito mais é que  com toda a tecnologia hoje disponível no mundo, ninguém consegue sequer dizer o que aconteceu com ele. Meu  Deus! Que raios de segurança é essa?”



                                          



Conversava  uma semana atrás sobre esse acidente com alguns amigos, e o assunto era a segurança dos voos quando comparada a outros meios de transporte. Baseando-se nos dados acima  alguém disse que o medo de viajar de avião não faz sentido, por ser essa uma forma de viajar mais segura, quando comparada, por exemplo,  ao transporte terrestre. Sem tomar partido no debate me passou pela cabeça  a ideia de que, quando estamos em baixo, é um pouco mais fácil nos iludirmos em acreditar que sabemos   o que somos , de onde viemos e para onde vamos, porque estamos em nossa própria estrada . No avião, sequer essa ilusão é possível, ao nos defrontarmos, nas nuvens, com a realidade frágil de que estamos numa estrada a mais de 12 mil metros de altura, que nunca mais veremos da mesma forma, ainda que voltemos à  mesma rota mil vezes.  
Na sexta-feira passada um radar detectou um tremor de águas nos mares entre a Malásia e o Vietnã, sugerindo a possibilidade de que o avião tenha findado nessas águas. Lembrei então do belo hai-kai de um poeta chinês inspirado na contemplação posterior do palco de uma sofrida batalha: “O verdor do verão foi tudo  o que restou do sonho dos guerreiros mortos.”


                                           
                                    


Torçamos então, se ainda houver tempo, para que um tremor  de águas não seja tudo o que restou do sonho de 232 pessoas e  para que as empresas milionárias de aviação (fabricantes e transportadores) se empenhem, doravante,  em pelo menos responder  o elementar “para onde vamos” , nas viagens que estiverem  sob suas responsabilidades.
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

                                                               http://www.joseewertonneto.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário