Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
O fim de ano chegou e, com ele, as confraternizações. É
confraternização que não acaba mais: do setor onde se trabalha, do departamento onde se trabalha e
da empresa, onde se trabalha. Da igreja
(sua e da mulher - o que nem sempre coincide), do clube do bairro, do
time de futebol, dos amigos de infância e do condomínio. E ainda tem gente fazendo do Mês
de dezembro também o mês das noivas e dos casamentos. Já pensou?
Enfim, é
como se você disputasse um campeonato de confraternizações, cujo primeiro turno são as do trabalho, o segundo são as extraprofissionais , até culminar
na disputa final , que chega no Natal, com direito à grande prorrogação: o
Reveillon. Se você vai ser campeão ou
não, nunca saberá, mas chegará facilmente à conclusão de que foi um vencedor. Você
não havia prometido que mudaria como
pessoa a partir do próximo ano? Pois é,
você agora será outro: estará mais
gordo.
Não há como evitar, contudo, aquela sensação de “salve as comemorações!”, não havendo outra saída senão tomar algumas
precauções para se salvar. Eis algumas essenciais:
1.A bebida é
de graça, mas nem tudo é graça.
Certo, a
empresa paga a bebida, afinal de contas, precisa dar a impressão universal de
que se todos não são iguais perante o uísque, pelo menos são diante da cerveja Schin, mais barata. O problema é o excesso. Entende-se como excesso
( mais ou menos quinze minutos depois do início da festa), fazer de conta que já se está bêbado o
suficiente para chamar o garçom de meu chefe. Ao final da festa , contudo, o
conceito de excesso terá evoluído tanto a ponto de não se considerar excesso chamar o chefe de meu
garçom.
2.Falar mal
também é de graça, mas...
Falar mal,
como todo trabalhador sabe, é o passatempo preferido de qualquer organização, imagine
em festa de fim de ano! A gerente de RH, por exemplo, que sempre pareceu com a Graça
Foster, da Petrobrás, agora com essa maquilagem, que lhe destaca o olho esquerdo, está mais parecida com o Nestor Cerveró . Já a nova secretária da
presidência que parecia a Anitta antes
das cinquenta plásticas agora está mais parecida com a Suzana Viera , sem botox
e photoshop. E assim por diante...
3.É bom
“segurar” o strip-tease.
Certo, tudo
vai terminar em strip-tease, mas é de bom som, não antecipar. Como seria bom se
a mulherada procurasse se comportar, inspirada na velha lei do poeta do “que
não seja inacessível posto que é mulher, mas espere pelo menos estar duro”, mas
não é isso o que ocorre. A questão é que elas, que se sentem verdadeiros aviões
nesses dias, já querem aterrissar arrasando. Da estagiária do recém-criado departamento
da Transparência, até a assessora do financeiro todas estão irreconhecíveis.
“Quem é aquela de calcinha verde transparente, não é a mulher do Renato?” “Que
nada, rapaz, aquela é a namorada do Gumercindo!” “Já atentou bem para a
tatuagem sexy na coxa dela?” “Cara, agora estou reconhecendo. É a vagabunda da
minha ex- mulher. Conheço bem a tatuagem”
4.Subir na
mesa, só para a Diretoria.
Subir na
mesa é uma aventura que muita gente tenta a partir do quinto copo, mas nem
sempre é muito seguro. A primeira tentativa nessa direção, geralmente malsucedida,
é de um monte de braços de um monte de gente em direção a um pedaço de picanha.
Lá pelo meio da festa a tentativa é do filhinho do Carlão, operário-padrão da
companhia. Fazer Carlinhos, de 8 anos, pular em cima da mesa, por incrível que
pareça, foi a única opção encontrada pelos pais para mantê-lo quieto. Vai daí que quando o
presidente sobe na mesa para fazer o discurso ninguém estranha. Primeiro porque
essa é a única opção de escutá-lo, segundo porque é a única de derrubá-lo. O
pior é que a toalha da mesa é incapaz de deslizar, as tentativas dão em nada e o jeito vai ser ter que escutá-lo até o
fim.
5.Sensualizar
é permitido, mas...
Inibições
superadas a partir do sétimo copo, dançar virou o esporte preferido de todo
mundo. O diretor presidente dança com a recepcionista, o chefe de segurança
dança com a avó de alguém e sua mulher com um dos garçons. Até a moça do
cachorro-quente do portão da fábrica, que apareceu sem ter sido convidada, está
ensinando cacuriá para um gringo. Tão animados ficam que são poucos a perceber
que Mirtes, a médica da empresa, com fama de sapatão, não está apenas dançando com um dos
enfermeiros, mas transando. “Ah, se eu
fosse médica e sapatão”, lamentam as
menos afortunadas.
6.A difícil
hora de ir embora.
Várias
razões existem para que se adie a hora prevista de ir embora: cerveja no balde
e gelada, o chefe animado e, melhor que isso, bêbado. Já faz algum tempo que a
frase mais escutada em todo canto é: “Traz mais uma saideira”, inclusive no
meio do discurso de um vereador sindicalista, descoberto meio por acaso, em uma
das mesas. Já que ninguém vai embora mesmo, a decisão de debandar só acontecerá
por motivo de força maior (e bote força maior nisso!). Como, por exemplo, a
Hilux do diretor presidente que acaba de achatar no estacionamento , o fiat uno de Brandão,
operário do setor de despachos, que é DJ nas horas vagas e que abrilhantou a
festa. “Pode deixar que eu pago o som!”, diz o diretor. “Como só o som? E o meu
carro, chefe?” “Problema seu, Brandão. Quem manda surripiar o uísque da
diretoria e vir tomar escondido, justo
no caminho da Hilux do seu diretor? Feliz Ano-Novo e estamos conversados”.
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