sábado, 13 de dezembro de 2014

O CHORO DE DILMA, VERSÃO ZÉ DA ROSCA



artigo publicado hoje, seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado.


Dois pesos, duas medidas, palavras semelhantes ,em duas histórias que, aparentemente,  nada têm a ver,

História 1:

            Dilma Roussef, a presidente do Brasil, reconhecida heroína da luta contra o regime militar, no ultimo dia 10 recebeu da Comissão da Verdade o relatório final.
            (Comissão da Verdade? Não soa estranho  esse nome de Comissão da Verdade? Será que existiu ou existirá, algum dia, uma Comissão da Mentira? Vai ver que a escolha do nome deu-se porque no Brasil, onde existe tanta comissão de mentirinha, essa teve que se pré-anunciar da verdade, ou de verdade, para ter credibilidade).
            Pois bem, ao receber o relatório final, Dilma Roussef  a nossa heroína da luta contra o golpe militar disse: “Nós que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão”. Muito emocionada, Dilma chorou ao dizer que o Brasil merecia conhecer a verdade sobre a ditadura militar. “Sobretudo”, continuou ela,  “merecem a verdade aqueles que perderam familiares e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia”. Em voz embargada, teve de interromper o discurso por causa do choro, enquanto era ovacionada, com justiça. 

  
História 2:




                                         






            Esta outra história, que agora segue secundando a primeira, teria de ser completamente diferente, até mesmo porque só se parece com a primeira nas palavras e no choro, não nos personagens:
            A primeira história tem uma heroína reconhecida e idealista, alguém que venceu na vida, sendo eleita pela segunda vez presidente, mesmo quando a corrupção campeou na empresa mais forte e mais simbólica do patriotismo empreendedor brasileiro, mostrando-se uma mandatária que não reconhece erro nos seus auxiliares próximos, mesmo quando estes são acusados e delatados. À Dilma, jamais ocorreria chorar por Zé da Rosca, alcunha de Jose Felisberto Patriota (de patriota só tem o nome, e de feliz menos ainda)  modesto operário que aplicou todo o seu FGTS na Petrobrás e já perdeu mais da metade do dinheiro que guardou a vida inteira, porque meliantes aconchegados ao poder um dia resolveram meter a mão na sua grana, honestamente conquistada.
            Pois Zé da Rosca, de fato, não tem nada de herói. É mais um pobre brasileiro, sua história não é de luta armada, mas a de luta pacífica debaixo de trens, de viadutos, construindo plataformas em alto mar.  Zé da Rosca também sabe chorar, não consegue controlar suas lágrimas quando isso acontece pela perda do trabalho de toda uma vida, aplicado na Petrobrás, por influência da propaganda do Governo. ( Não é que Zé da Rosca  aplicou 25 % do seu FGTS na Petrobrás quando isso tinha limite e depois todo o restante,  no Pré-Sal, demonstrando uma ingenuidade maior que os estrangeiros que aplicaram seu dinheiro na Petrobrás? A diferença é que os gringos vão botar a Petrobrás na justiça, e pelas leis internacionais serão ressarcidos.   Zé da Rosca, porém, coitado, a quem vai reclamar se os que estão mandando no governo e no  partido da presidente, juram que nada aconteceu?)




                                                     





            Eis que Zé da Rosca, depois que o seu dinheiro virou cinza hoje acompanha todos os dias o noticiário sobre as ações da Petrobrás. Foi aconselhado por alguém, mais  entendido nessas coisas, a esperar. Está tal  e qual aquele Pedro Pedreiro da música de Chico Buarque: esperando, esperando, esperando trem... que nunca vem. “Não tira seu dinheiro agora Zé, não vale a pena, já que virou cinza, espera pelo menos virar pó”, disse – lhe o amigo.  
            O certo é que, forçado pelas circunstâncias, Zé da Rosca politizou-se um pouco e estava, no mesmo dia 10, perto de uma manifestação de rua, quando foi surpreendido por um repórter, que lhe perguntou a opinião sobre o que está acontecendo na Petrobrás. Zé da Rosca não  se deu por achado, precisava mesmo reclamar para alguém da perda dos seus anos de trabalho por causa dos ladrões de terno e gravata e acabou dizendo: “Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que o relatório final das investigações contribua para que fantasmas de um presente doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão.”





                                                 






            O repórter se surpreendeu com a fala parecida com a da presidente: “Fantasma, você quer dizer...?”
            “Isso mesmo, o tal do Cerveró não parece um fantasma com aquele olho no canto da boca?”, respondeu Zé da Rosca. “Tem que ser preso. Ele e mais uma penca.”
            Muito emocionado, Zé acabou chorando em frente às câmeras e, ao dizer que todos mereciam a verdade  sobre o episódio, com plena punição aos culpados,  prosseguiu à la Dilma:
            “Sobretudo,  merecem a verdade todos aqueles que perderam o dinheiro com que ajudariam familiares e parentes,  e que continuam chorando cada vez que se ouve mais uma história do roubo sem fim na Petrobrás”  Com a voz embargada, quis continuar, mas não conseguiu. Ao contrário do que aconteceu na primeira história, não foi ovacionado e nem se sabe se alguém riu.
            Os personagens das duas histórias, portanto, são muito diferentes: o peso, a medida, o choro e a repercussão.  Mas as palavras...
            Por que se parecem tanto?
                                                                       ewerton.neto@hotmail.com

                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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