artigo publicado hoje, seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado.
Dois pesos, duas medidas, palavras semelhantes ,em duas
histórias que, aparentemente, nada têm a
ver,
História 1:
Dilma
Roussef, a presidente do Brasil, reconhecida heroína da luta contra o regime
militar, no ultimo dia 10 recebeu da Comissão da Verdade o relatório final.
(Comissão da
Verdade? Não soa estranho esse nome de
Comissão da Verdade? Será que existiu ou existirá, algum dia, uma Comissão da Mentira?
Vai ver que a escolha do nome deu-se porque no Brasil, onde existe tanta
comissão de mentirinha, essa teve que se pré-anunciar da verdade, ou de verdade,
para ter credibilidade).
Pois bem, ao
receber o relatório final, Dilma Roussef a nossa heroína da luta contra o golpe militar
disse: “Nós que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua
para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger
nas sombras do silêncio e da omissão”. Muito emocionada, Dilma chorou ao dizer
que o Brasil merecia conhecer a verdade sobre a ditadura militar. “Sobretudo”,
continuou ela, “merecem a verdade
aqueles que perderam familiares e parentes e que continuam sofrendo como se
eles morressem de novo e sempre a cada dia”. Em voz embargada, teve de interromper
o discurso por causa do choro, enquanto era ovacionada, com justiça.
História 2:
Esta outra história,
que agora segue secundando a primeira, teria de ser completamente diferente,
até mesmo porque só se parece com a primeira nas palavras e no choro, não nos
personagens:
A primeira
história tem uma heroína reconhecida e idealista, alguém que venceu na vida, sendo
eleita pela segunda vez presidente, mesmo quando a corrupção campeou na empresa
mais forte e mais simbólica do patriotismo empreendedor brasileiro, mostrando-se
uma mandatária que não reconhece erro nos seus auxiliares próximos, mesmo quando
estes são acusados e delatados. À Dilma, jamais ocorreria chorar por Zé da
Rosca, alcunha de Jose Felisberto Patriota (de patriota só tem o nome, e de
feliz menos ainda) modesto operário que
aplicou todo o seu FGTS na Petrobrás e já perdeu mais da metade do dinheiro que
guardou a vida inteira, porque meliantes aconchegados ao poder um dia
resolveram meter a mão na sua grana, honestamente conquistada.
Pois Zé da Rosca,
de fato, não tem nada de herói. É mais um pobre brasileiro, sua história não é
de luta armada, mas a de luta pacífica debaixo de trens, de viadutos,
construindo plataformas em alto mar. Zé
da Rosca também sabe chorar, não consegue controlar suas lágrimas quando isso
acontece pela perda do trabalho de toda uma vida, aplicado na Petrobrás, por
influência da propaganda do Governo. ( Não é que Zé da Rosca aplicou 25 % do seu FGTS na Petrobrás quando
isso tinha limite e depois todo o restante, no Pré-Sal, demonstrando uma ingenuidade maior
que os estrangeiros que aplicaram seu dinheiro na Petrobrás? A diferença é que
os gringos vão botar a Petrobrás na justiça, e pelas leis internacionais serão
ressarcidos. Zé da Rosca, porém, coitado, a quem vai
reclamar se os que estão mandando no governo e no partido da presidente, juram que nada
aconteceu?)
Eis que Zé
da Rosca, depois que o seu dinheiro virou cinza hoje acompanha todos os dias o
noticiário sobre as ações da Petrobrás. Foi aconselhado por alguém, mais entendido nessas coisas, a esperar. Está tal e qual aquele Pedro Pedreiro da música de
Chico Buarque: esperando, esperando, esperando trem... que nunca vem. “Não tira
seu dinheiro agora Zé, não vale a pena, já que virou cinza, espera pelo menos
virar pó”, disse – lhe o amigo.
O certo é
que, forçado pelas circunstâncias, Zé da Rosca politizou-se um pouco e estava, no
mesmo dia 10, perto de uma manifestação de rua, quando foi surpreendido por um
repórter, que lhe perguntou a opinião sobre o que está acontecendo na
Petrobrás. Zé da Rosca não se deu por
achado, precisava mesmo reclamar para alguém da perda dos seus anos de trabalho
por causa dos ladrões de terno e gravata e acabou dizendo: “Nós, que
acreditamos na verdade, esperamos que o relatório final das investigações
contribua para que fantasmas de um presente doloroso e triste não possam mais
se proteger nas sombras do silêncio e da omissão.”
O repórter
se surpreendeu com a fala parecida com a da presidente: “Fantasma, você quer
dizer...?”
“Isso mesmo,
o tal do Cerveró não parece um fantasma com aquele olho no canto da boca?”,
respondeu Zé da Rosca. “Tem que ser preso. Ele e mais uma penca.”
Muito
emocionado, Zé acabou chorando em frente às câmeras e, ao dizer que todos mereciam
a verdade sobre o episódio, com plena
punição aos culpados, prosseguiu à la
Dilma:
“Sobretudo, merecem a verdade todos aqueles que perderam o
dinheiro com que ajudariam familiares e parentes, e que continuam chorando cada vez que se ouve
mais uma história do roubo sem fim na Petrobrás” Com a voz embargada, quis continuar, mas não
conseguiu. Ao contrário do que aconteceu na primeira história, não foi
ovacionado e nem se sabe se alguém riu.
Os
personagens das duas histórias, portanto, são muito diferentes: o peso, a
medida, o choro e a repercussão. Mas as
palavras...
Por que se
parecem tanto?
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