sábado, 6 de dezembro de 2014

ILHA DE SÃO LUIS; ESCOLHA A CATÁSTROFE




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão, hoje, sábado


Livre pensar, é só pensar”, escrevia o humorista Millor Fernandes. Com um pouco mais de otimismo ou pessimismo, o certo é que nossa sina de seres humanos nos dará sempre catástrofes a escolher. (Isaac Asimov, o escritor e cientista,  escreveu Escolha a Catástrofe oferendo variadas opções de fim de mundo).




                                                           





            Em relação à nossa querida ilha, por exemplo, baseado no que se vê, o leitor poderá escolher as suas, ou poderá adaptar o otimismo (ou pessimismo) do cronista, simplesmente ajustando o passar de anos. Fácil, não?

            1.Daqui a 10 anos se levará uma manhã inteira para ir de qualquer bairro ao centro, devido ao trânsito congestionado. Ao chegar, uma tarde inteira será necessária, por sua vez, para se estacionar um carro. Não haverá vagas. Onde havia antigos estacionamentos estarão  uma placa de proibido, um guarda, um cone, ou vinte motos. Uma multa voará por perto em algum lugar. Sem outra  alternativa a visita ao Centro ficará para depois, depois e depois...
            Com isso:
            As lojas comerciais que sobraram na Rua Grande e arredores estarão ou  fechadas ou vazias,  porque sem clientes, claro, não haverá vendas. Na periferia, ninguém lembrará ou saberá onde fica o centro da cidade. O circuito de divertimento preferido de todo mundo será Bairro-Shopping e vice-versa. As instituições públicas que há doze anos ainda  permaneciam no Centro terão se transferido para outros lugares. João Lisboa será muito mais uma estátua, perdida no meio de fumadores de crack,  do que uma praça.

            2.Daqui a cinco anos os grupos  mais disputados de bumba-boi desfilarão no São João com uma penca de índios seminus fazendo gatimonhas  em número maior que as índias. (olha aí o começo da catástrofe!). E  dançarão e rebolarão cantando músicas sertanejas de Luan Santana e Gusttavo Lima, adaptadas  ao ritmo de bumba-boi  (Eis a hecatombe!)





                                                     





            3.Daqui a 8 anos,  os edifícios que invadiram a praia da Ponta D’Areia e a transformaram  numa pontinha de areia , avançarão por todo o litoral da ilha. São Luís passará a ser  melhor  definida como  uma ilha cercada de edifícios por todos os lados e duas ou três lagoas de água salgada. (O que só dará para ser visto através dos condomínios de edifícios – isso  se os síndicos permitirem) . Sem planejamento ambiental ou urbano ou qualquer ordenação que caracterize o mínimo de respeito à população ou à  natureza , os são-luisenses , terão direito, contudo, a alguns metros cúbicos de água salgada dessas pequenas lagoas fazendo flutuar um festival de cocôs -egressos dos edifícios mais próximos. 




                                                            





            Com isso:
            O calor será progressivamente cada vez maior e insuportável porque os edifícios obstruirão totalmente os ventos que sopram do mar em direção ao continente. São Luis terá uma população em permanente estado de fusão (confusão, também) comprimida  e barulhenta. Estará em vias de ser considerada  a cidade de maior calor humano do mundo, porque sua população estará naturalmente com febre. E à beira de um ataque de nervos.

            4. Daqui a quatro  anos,  o Sampaio Correa ainda estará disputando a Série B, mas, definitivamente incorporado à mesma, estará disputando a final do campeonato com o Flamengo,  que terá sido rebaixado  pela ruindade continuamente aprimorada  do seu time. O estádio do Castelão estará lotado, mas a maioria dos torcedores se esgoelará mais pelo time do  Rio (isso é que é catástrofe!) do que pelo time de casa.




                                                        





            5.Daqui a nove  anos,  os buracos de rua estarão incorporados definitivamente à paisagem natural da ilha. Incapazes de tapá-los nas esporádicas e cada vez mais raras operações tapa-buracos, sempre na véspera do período eleitoreiro, os administradores da cidade chegarão à conclusão de que São Luís tem uma população definitivamente adaptada aos buracos e, além disso, muito compreensiva em relação à sua proliferação, tanto assim que parou de reclamar faz séculos.




                                                           






 Tão integrados estarão os buracos ao cotidiano da cidade que um brilhante vereador lançará a ideia de interliga-los com a rede subterrânea de Pedrinhas, construída dia após dia, noite após noite,  com o know how profundo (bote pro fundo, nisso)  dos presidiários. Que continuarão fugindo de lá todos os dias.
                                                                       ewerton.neto@hotmail.com

                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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