artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão, hoje, sábado
“Livre pensar, é só pensar”, escrevia o humorista Millor
Fernandes. Com um pouco mais de otimismo ou pessimismo, o certo é que nossa
sina de seres humanos nos dará sempre catástrofes a escolher. (Isaac Asimov, o
escritor e cientista, escreveu Escolha a Catástrofe oferendo variadas
opções de fim de mundo).
Em relação à
nossa querida ilha, por exemplo, baseado no que se vê, o leitor poderá escolher
as suas, ou poderá adaptar o otimismo (ou pessimismo) do cronista, simplesmente
ajustando o passar de anos. Fácil, não?
1.Daqui a 10
anos se levará uma manhã inteira para ir de qualquer bairro ao centro, devido
ao trânsito congestionado. Ao chegar, uma tarde inteira será necessária, por
sua vez, para se estacionar um carro. Não haverá vagas. Onde havia antigos
estacionamentos estarão uma placa de
proibido, um guarda, um cone, ou vinte motos. Uma multa voará por perto em
algum lugar. Sem outra alternativa a
visita ao Centro ficará para depois, depois e depois...
Com isso:
As lojas
comerciais que sobraram na Rua Grande e arredores estarão ou fechadas ou vazias, porque sem clientes, claro, não haverá vendas.
Na periferia, ninguém lembrará ou saberá onde fica o centro da cidade. O
circuito de divertimento preferido de todo mundo será Bairro-Shopping e
vice-versa. As instituições públicas que há doze anos ainda permaneciam no Centro terão se transferido para
outros lugares. João Lisboa será muito mais uma estátua, perdida no meio de
fumadores de crack, do que uma praça.
2.Daqui a
cinco anos os grupos mais disputados de
bumba-boi desfilarão no São João com uma penca de índios seminus fazendo
gatimonhas em número maior que as índias.
(olha aí o começo da catástrofe!). E dançarão e rebolarão cantando músicas
sertanejas de Luan Santana e Gusttavo Lima, adaptadas ao ritmo de bumba-boi (Eis a hecatombe!)
3.Daqui a 8
anos, os edifícios que invadiram a praia
da Ponta D’Areia e a transformaram numa
pontinha de areia , avançarão por todo o litoral da ilha. São Luís passará a ser
melhor
definida como uma ilha cercada de
edifícios por todos os lados e duas ou três lagoas de água salgada. (O que só dará
para ser visto através dos condomínios de edifícios – isso se os síndicos permitirem) . Sem planejamento
ambiental ou urbano ou qualquer ordenação que caracterize o mínimo de respeito
à população ou à natureza , os são-luisenses
, terão direito, contudo, a alguns metros cúbicos de água salgada dessas
pequenas lagoas fazendo flutuar um festival de cocôs -egressos dos edifícios mais
próximos.
Com isso:
O calor será
progressivamente cada vez maior e insuportável porque os edifícios obstruirão
totalmente os ventos que sopram do mar em direção ao continente. São Luis terá
uma população em permanente estado de fusão (confusão, também) comprimida e barulhenta. Estará em vias de ser
considerada a cidade de maior calor
humano do mundo, porque sua população estará naturalmente com febre. E à beira
de um ataque de nervos.
4. Daqui a quatro anos, o Sampaio Correa ainda estará disputando a
Série B, mas, definitivamente incorporado à mesma, estará disputando a final do
campeonato com o Flamengo, que terá sido
rebaixado pela ruindade continuamente
aprimorada do seu time. O estádio do
Castelão estará lotado, mas a maioria dos torcedores se esgoelará mais pelo
time do Rio (isso é que é catástrofe!)
do que pelo time de casa.
5.Daqui a nove
anos, os buracos de rua estarão incorporados
definitivamente à paisagem natural da ilha. Incapazes de tapá-los nas
esporádicas e cada vez mais raras operações tapa-buracos, sempre na véspera do
período eleitoreiro, os administradores da cidade chegarão à conclusão de que
São Luís tem uma população definitivamente adaptada aos buracos e, além disso,
muito compreensiva em relação à sua proliferação, tanto assim que parou de
reclamar faz séculos.
Tão integrados estarão os buracos ao cotidiano da cidade que
um brilhante vereador lançará a ideia de interliga-los com a rede subterrânea
de Pedrinhas, construída dia após dia, noite após noite, com o know
how profundo (bote pro fundo, nisso)
dos presidiários. Que continuarão fugindo de lá todos os dias.
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