sábado, 13 de junho de 2015

CASADOS HOJE, SEPARADOS AMANHÃ





texto publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado

É de Scott Fitzgerald um conto, que virou filme,  em que a vida se passa de trás pra frente: primeiro a velhice, depois a maturidade, a adolescência, a infância etc. Se Fitzgerald tivesse passado dos cem anos teria comprovado  que não precisaria ter recorrido à ficção no tocante às relações amorosas.  O tempo e a modernidade se encarregaram de mostrar que os experimentos sentimentais seguem hoje o caminho inverso de alguns anos atrás. Antes: convívio, conhecimento, namoro, noivado e  casamento  Hoje: casamento, namoro, conhecimento, convívio  e separação. 
            Foi baseado nisso que um amigo meu, psicanalista, emitiu há poucos dias um juízo cínico: Por que um homem perderia seu tempo em se casar,  hoje em dia, se as mulheres já entregam, de mão beijada ( e etc. etc.) ,  o que de melhor um casamento pode oferecer? Se os casais jovens já estão se casando e morando na casa dos pais – da moça - antes até de serem namorados?
            Cinismos masculinos à parte, a verdade é que uma pesquisa recente veio confirmar a nossa cidade de São Luis como campeã em mais uma modalidade, além dos buracos de rua e manifestações de protesto: casais separados. Dificilmente se encontra, hoje em dia, um casal com mais de dois anos de convivência em que pelo menos um dos dois não esteja separado (o outro não precisa saber, necessariamente).




                                            






            Embora se possa justificar o fato de raramente serem vistos casais juntos em São Luis  pelo fato de as calçadas serem tão estreitas que não cabem os dois e, por outro lado, se andarem pelo meio das ruas fatalmente um deles cairá num buraco ou será atropelado por uma moto, existem , na realidade alguns fatores preponderantes para essa alarmante estatística, que tornaram nossa cidade capaz de rivalizar proporcionalmente com outros centros mais badalados. É lúcido dizer ainda que a condição física influencia a sentimental, e vice-versa, na busca pela igualdade do direito - de se separar.  

            1.”A mulher passou a  exigir o seu espaço”.
            Depois de muito sofrimento, a mulher lutou e conseguiu o seu espaço. O problema é que, para azar seu, o espaço dentro dos ‘apertamentos’, diminuiu muito. Os aposentos ficaram tão reduzidos que o homem passou a colocar dentro do espaço da mulher tudo o que não consegue guardar no seu. Como nunca ficam bem delimitadas as fronteiras, surgem as inevitáveis brigas. Como, por exemplo, na hora do amor.



                                                  





            - Amor,  sinto dizer isso, mas você , com certeza, está invadindo o meu espaço.
            - Claro! Você conhece outra forma?
            - Tente ser criativo, cara. Sinto, mas não posso ceder um milímetro do meu espaço.
            - Desisto. Vou procurar enfiar meu espaço em outro lugar.

            2. “A convivência sob o mesmo teto”.
            Claro que o teto é muito importante. Há algum tempo atrás o teto costumava ser diferente: podia ser a céu aberto ou, até mesmo o teto do carro. Em ocasiões não tão raras, era cheio de espelhos que estimulavam e excitavam. Nada parecido com o teto atual.

                                                 






            - Querida, o que está acontecendo com você. Por que não tira os olhos desse maldito teto? Antigamente não era assim
            - É que estou procurando o Brad Pitt.
            - Como?
            - Isso mesmo. Para aguentar você em cima de mim bastava olhar para cima e fantasiar com o Brad Pitt. Mas nem pra isso esse teto serve mais. Já reparou como tá sujo e cheio de rachaduras? Desse jeito não tem ator ou cantor que desça de lá. E minhas fantasias, como ficam?
            - Querida, você não deveria falar isso pra mim. Perdoo até o que você disse, vai ver que está estressada além da conta. Para mim o importante é termos resistido aos dissabores e estarmos sob o mesmo teto, independente de suas condições.
            - Já que você insiste, quem sabe se elevássemos.
            - Como? Você sabe que seria impossível: teríamos que mexer com a estrutura do prédio.
            - Estou falando é do “teto” salarial que você me dá, querido.  Tente aumenta-lo. Quem sabe role de novo...

            É por essas e outras – segundo a fonte da pesquisa – que a quantidade de casais separados em São Luis não é maior não só porque o dia só tenha 24 horas, mas porque a noite só tem doze horas, ou melhor, porque a madrugada só tem seis. 

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com

                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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