sábado, 20 de junho de 2015

OS ÚLTIMOS MILAGRES DOS SANTOS (ZITO E CIA.)





Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


ZITO, falecido esta semana, volante  do  Santos e da Seleção Brasileira, para quem não sabe,  foi  bicampeão do mundo  nas jornadas de  1958 e 1962.




                                                 





            Estava assistindo na quarta  à constrangedora partida de futebol entre o Brasil e a Colombia, quando a Globo inseriu no intervalo uma homenagem ao finado craque, rememorando uma época vitoriosa e pródiga do futebol brasileiro do qual  Zito foi um dos protagonistas.  Constrangedora por isso mesmo: em contraste com o que estávamos vendo na tela - uma pífia exibição da outrora imponente seleção canarinho - um testemunho do que no passado foi algo  de que nos orgulhávamos possuir:  o melhor futebol do mundo.

            Pois Zito foi um dos últimos dessa fase áurea. Da seleção  brasileira bicampeã em 1962, no Chile, só estão vivos , agora,  Zagalo e Amarildo  ( que, inclusive, deram  o seu testemunho na reportagem).  Zito brilhou não apenas na seleção  brasileira , porém, muito mais no Santos. E é aí que começa a história dos milagres. E dos santos. E  do Santos.

                                             
                                            





            Antes de Pelé, um garoto de dezesseis anos, entrar na história em 1956, o  Santos tinha tudo para se perpetuar como  um time de menor envergadura. O Coríntians  já era o Coríntians, O Palmeiras o Palmeiras mas... Bem, o futebol brasileiro ainda não era o futebol brasileiro. E foi aí que começou o milagre. Da estatura, então, com boa vontade, da Portuguesa de Desportos, ou do América do Rio, o Santos se tornou em apenas uma década o melhor time do mundo, o mais admirado, o maior time brasileiro de todos os tempos, de forma que qualquer tentativa de equivalência em termos de glória futebolística com qualquer outro time brasileiro, em qualquer época, posterior ou anterior,  apenas ressoa como ignorância, descaso, ou desconhecimento.

            Imagine um time pelo qual não torcemos, mas admiramos. Mas que acabamos torcendo porque admiramos. Um time maior que as paixões regionais ou clubistas que pairava,  ao ritmo da bola que ia de Pelé para Coutinho, de Coutinho para Pelé, rumo ao gol inevitável. Tanto assim que, a Revista de Esporte, que era carioca,  proclamava  sem medo de ser feliz: Todo carioca torce pelo Santos. E  o Santos fazia jus ao título jogando as finais do mundial interclubes contra o Milan, não em São Paulo, mas no Maracanã. Para o Brasil todo participar.


                                                    




                        O  Santos, ao contrário dos times com o qual os neófitos de hoje  ousam comparar em termos de glória futebolística ( o São Paulo F.C. com maior insistência, de algum tempo para cá) reinou no futebol mundial  não porque fosse o melhor porque ganhava títulos, mas, sim, porque ganhava títulos por ser o melhor, o que é muito diferente.  As estatísticas cometem uma injustiça quando comparam considerando para efeito de mérito apenas os títulos mundiais e da  América. Ora, o Santos, que foi dois anos seguidos campeão mundial só  não ganhou mais títulos  internacionais desse naipe porque simplesmente não quis. A Libertadores, então, era disputada por apenas um time, o campeão do país. Quando viram a possibilidade de poderem assistir aos jogos do Santos, de graça, mais que depressa os hermanos empurraram seus vices para a disputa. O Santos, um time caro e que dava espetáculo a peso de ouro, recusou-se a jogar contra os Cobreloas da vida e tirou o time da disputa. Enfim, “os santos jamais  desperdiçariam seus milagres contra os ateus da bola”. 

            Claro que o fato de possuir em seu time o maior jogador de futebol de todos os tempos foi fundamental para o milagre de um time do interior ter se tornado uma glória universal e, de longe, o time brasileiro mais admirado no exterior até hoje. Talvez fale melhor de sua arte, alguns ‘milagres’ que de tão inusitados soam até como folclore.
            1.Expulso de um jogo em uma partida  no Peru ( ou Venezuela?) a torcida que pagou para ver Pelé jogar se impacientou e começou a vaiar o juiz. O representante da federação substituiu o juiz e mandou trazer Pelé de volta.

            2.Num jogo no interior paulista pelo campeonato estadual, que o Santos ganhou oito vezes em onze anos e Pelé foi artilheiro nove vezes seguidas,  depois de dar três lençóis em sequencia em diferentes adversários Pelé chutou em gol e a bola caprichosamente não entrou. O juiz validou o lance e quando os zagueiros correram para cima dele, este candidamente respondeu: “Pra mim foi gol e acabou”.

            3.Num jogo no Maracanã diante da famosa – e excelente -  dupla de zagueiros do Vasco, Brito e Fontana, o Vasco vencia por dois a um faltando poucos minutos para encerrar o jogo. Fontana caçoava de Pelé sob o olhar reprovativo de Brito  dizendo: “Você viu um rei, perdido por aí?” Em duas jogadas geniais o ataque do Santos virou o resultado. Depois do apito final, Pelé pediu a bola se dirigiu a Fontana e disse: “ Toma , leva pra tua mãe e diz que foi o rei que mandou.”

            Sem contar que esse time do Santos interrompeu uma guerra na África. Os litigantes em guerra acertaram um armistício de dois dias para que a população pudesse presenciar a atração. Depois, o pau quebrou de novo. O Santos sempre foi um time com tendência a jogar para  a frente,  e ser um celeiro de grandes jogadores malabaristas.  Mesmo depois da era Pelé o time jamais abdicou de seu estilo de privilegiar o toque de bola em detrimento das técnicas defensivistas que, egressas do Rio Grande do Sul, através de técnicos boçais como Felipão e Dunga acabaram causando a desgraça do futebol brasileiro. 

                                                



Essa epidemia – do futebol de resultados - se tornou uma praga entre os nossos times e culminou no resultado que conhecemos na última Copa e na sua reprodução patética de quarta feira passada. Curiosamente, é de Tostão, grande ex-jogador e talvez o mais consciente crítico do futebol brasileiro a hipótese de Neymar vir a se tornar o maior jogador brasileiro da era pós- Pelé. Ora, Neymar, por coincidência, é oriundo do   Santos.


                                              






            Seriam  os santos ainda capazes de fazer milagres? Torçamos que sim.  
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                                                       http://www.joseewertonneto.blogspot.com


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