Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
ZITO, falecido esta semana, volante do
Santos e da Seleção Brasileira, para quem não sabe, foi bicampeão
do mundo nas jornadas de 1958 e 1962.
Estava
assistindo na quarta à constrangedora
partida de futebol entre o Brasil e a Colombia, quando a Globo inseriu no
intervalo uma homenagem ao finado craque, rememorando uma época vitoriosa e
pródiga do futebol brasileiro do qual Zito
foi um dos protagonistas. Constrangedora
por isso mesmo: em contraste com o que estávamos vendo na tela - uma pífia
exibição da outrora imponente seleção canarinho - um testemunho do que no
passado foi algo de que nos orgulhávamos
possuir: o melhor futebol do mundo.
Pois Zito
foi um dos últimos dessa fase áurea. Da seleção brasileira bicampeã em 1962, no Chile, só
estão vivos , agora, Zagalo e Amarildo ( que, inclusive, deram o seu testemunho na reportagem). Zito brilhou não apenas na seleção brasileira , porém, muito mais no Santos. E é
aí que começa a história dos milagres. E dos santos. E do Santos.
Antes de
Pelé, um garoto de dezesseis anos, entrar na história em 1956, o Santos tinha tudo para se perpetuar como um time de menor envergadura. O
Coríntians já era o Coríntians, O
Palmeiras o Palmeiras mas... Bem, o futebol brasileiro ainda não era o futebol
brasileiro. E foi aí que começou o milagre. Da estatura, então, com boa
vontade, da Portuguesa de Desportos, ou do América do Rio, o Santos se tornou
em apenas uma década o melhor time do mundo, o mais admirado, o maior time
brasileiro de todos os tempos, de forma que qualquer tentativa de equivalência em
termos de glória futebolística com qualquer outro time brasileiro, em qualquer época,
posterior ou anterior, apenas ressoa
como ignorância, descaso, ou desconhecimento.
Imagine um
time pelo qual não torcemos, mas admiramos. Mas que acabamos torcendo porque
admiramos. Um time maior que as paixões regionais ou clubistas que pairava, ao ritmo da bola que ia de Pelé para
Coutinho, de Coutinho para Pelé, rumo ao gol inevitável. Tanto assim que, a
Revista de Esporte, que era carioca, proclamava sem medo de ser feliz: Todo carioca torce pelo
Santos. E o Santos fazia jus ao título
jogando as finais do mundial interclubes contra o Milan, não em São Paulo, mas
no Maracanã. Para o Brasil todo participar.
O Santos, ao contrário dos times com o qual os
neófitos de hoje ousam comparar em
termos de glória futebolística ( o São Paulo F.C. com maior insistência, de
algum tempo para cá) reinou no futebol mundial
não porque fosse o melhor porque ganhava títulos, mas, sim, porque
ganhava títulos por ser o melhor, o que é muito diferente. As estatísticas cometem uma injustiça quando comparam
considerando para efeito de mérito apenas os títulos mundiais e da América. Ora, o Santos, que foi dois anos
seguidos campeão mundial só não ganhou
mais títulos internacionais desse naipe
porque simplesmente não quis. A Libertadores, então, era disputada por apenas
um time, o campeão do país. Quando viram a possibilidade de poderem assistir
aos jogos do Santos, de graça, mais que depressa os hermanos empurraram seus
vices para a disputa. O Santos, um time caro e que dava espetáculo a peso de
ouro, recusou-se a jogar contra os Cobreloas da vida e tirou o time da disputa.
Enfim, “os santos jamais desperdiçariam seus
milagres contra os ateus da bola”.
Claro que o
fato de possuir em seu time o maior jogador de futebol de todos os tempos foi
fundamental para o milagre de um time do interior ter se tornado uma glória
universal e, de longe, o time brasileiro mais admirado no exterior até hoje. Talvez
fale melhor de sua arte, alguns ‘milagres’ que de tão inusitados soam até como
folclore.
1.Expulso de
um jogo em uma partida no Peru ( ou
Venezuela?) a torcida que pagou para ver Pelé jogar se impacientou e começou a
vaiar o juiz. O representante da federação substituiu o juiz e mandou trazer
Pelé de volta.
2.Num jogo
no interior paulista pelo campeonato estadual, que o Santos ganhou oito vezes
em onze anos e Pelé foi artilheiro nove vezes seguidas, depois de dar três lençóis em sequencia em
diferentes adversários Pelé chutou em gol e a bola caprichosamente não entrou.
O juiz validou o lance e quando os zagueiros correram para cima dele, este
candidamente respondeu: “Pra mim foi gol e acabou”.
3.Num jogo
no Maracanã diante da famosa – e excelente - dupla de zagueiros do Vasco, Brito e Fontana,
o Vasco vencia por dois a um faltando poucos minutos para encerrar o jogo.
Fontana caçoava de Pelé sob o olhar reprovativo de Brito dizendo: “Você viu um rei, perdido por aí?”
Em duas jogadas geniais o ataque do Santos virou o resultado. Depois do apito
final, Pelé pediu a bola se dirigiu a Fontana e disse: “ Toma , leva pra tua
mãe e diz que foi o rei que mandou.”
Sem contar
que esse time do Santos interrompeu uma guerra na África. Os litigantes em
guerra acertaram um armistício de dois dias para que a população pudesse
presenciar a atração. Depois, o pau quebrou de novo. O Santos sempre foi um
time com tendência a jogar para a frente,
e ser um celeiro de grandes jogadores
malabaristas. Mesmo depois da era Pelé o
time jamais abdicou de seu estilo de privilegiar o toque de bola em detrimento
das técnicas defensivistas que, egressas do Rio Grande do Sul, através de
técnicos boçais como Felipão e Dunga acabaram causando a desgraça do futebol
brasileiro.
Essa epidemia – do futebol de resultados - se tornou uma praga
entre os nossos times e culminou no resultado que conhecemos na última Copa e
na sua reprodução patética de quarta feira passada. Curiosamente, é de Tostão, grande
ex-jogador e talvez o mais consciente crítico do futebol brasileiro a hipótese
de Neymar vir a se tornar o maior jogador brasileiro da era pós- Pelé. Ora,
Neymar, por coincidência, é oriundo do Santos.
Seriam os santos ainda capazes de fazer milagres?
Torçamos que sim.
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