artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão,hoje, sábado
A matemática do amor, da matemática inglesa, Hannah Fry,
é livro que pretende explicar o amor a partir de expressões matemáticas(?). Em homenagem ao próximo dia dos namorados,
uma singela tentativa do cronista, para que você não precise gastar dinheiro
com o livro, nestes dias tão bicudos.
1.O AMOR REGRA DE TRÊS
É o mais
comum. Aliás, se não houver um terceiro, pra que serve o amor? Nem amor existe,
na ausência da dúvida crucial, ou seja, da incógnita. Para haver amor, o x da
questão tem de estar lá, indeterminado, misterioso, inalcançável. O verso de um
poeta francês diz que todo amor dura enquanto for capaz de fazer voar de um
coração até o outro a águia dos espaços. Coisa de poeta. Ora, o que é essa tal
águia, senão o xis?
2.O AMOR
PARALELAS.
É aquele em que
predomina certa distância permanente entre os parceiros. Pode ter começado na
infância, nas escolas, no trabalho, às vezes nos três em sequencia, o certo é
que entre os amados sempre permanece
aquele clima do que nunca se resolve. Aproximações, claro, existem, mas nesse
tipo de amor nunca acontece de ambos se tocarem profundamente, sabe como é, né?
Um presentinho aqui, outro ali, uma mensagem de e-mail no Natal, frases cheias
de kkkks, no facebook, mas, nada de concretizarem seus desejos. Talvez porque tenham
medo de descobrir que ao deixarem de ser paralelos perderão justamente o que os
fascina: a distância irremovível. E assim, a vida segue plena de impulsos contidos,
mas esperançosos –no inconsciente - de que um dia se encontrarão no infinito, como
duas paralelas que se prezam. Isso se a
morte não chegasse antes.
3.O AMOR PERMUTAÇÃO.
É aquele pleno
de permutações e mais permutações em nome do amor que, aliás, começou por causa
disso. Um dia ele disse “complete a minha felicidade com o teu sorriso”, ela
respondeu “desde que você pague a minha conta”, e assim por diante. O amor
permutação é rico, portanto, em trocas óbvias: de sexo por celular, de beijo por
um ingresso de show, de ciúmes por um
sorvete, mas, nada de suruba: o amor permutação só admite trocas de parcerias, desde
que seja uma após a outra.
E, assim, sobrevive até chegar o dia das permutações
filiais. “Eu faço de conta que não sei do teu filho com outra, tu fazes de
conta que nosso filho é teu” e corramos para o abraço - seja lá de quem for.
3.O AMOR ANÁLISE COMBINATÓRIA.
‘Combinamos
que nos amamos’, esse é o começo padrão para a frutificação desse tipo de amor.
O resto é matemática. Combinações de 2 três a três; de camas, cinco a cinco; de
filhos a três por quatro. Suruba sim, por que não? O importante é a combinação.
Que, infelizmente, ou felizmente, não
tem nada a ver com a antiga peça íntima que toda mulher usava num tempo em que
essa era a única combinação possível. Mudaram as pessoas ou mudou a matemática?
4.O AMOR
TÁBUA DE LOGARITMOS.
No início
desse tipo de amor tudo tem de ser calculado nos mínimos detalhes. “Se não
tivéssemos que calcular, meu anjo, você
teria casado com um cabeleireiro, e não com um professor, princesa”. E haja
cálculo. Para saber o dia certo de casar, o empréstimo a pedir ao sogro para isso,
quanto vai custar um filho, dois, três. Depois
os juros do carro, da saída com os
amigos, do ‘juro que não faço mais”. Termina quando a mulher descobre que se
era para não ter dinheiro nem para fazer uma chapinha, não precisava ter casado
com um cientista, e sim com um cabelereiro. E, assim, fica explicado porque o
amor tábua de logaritmos sempre começa no cálculo e termina com a tábua – na
cabeça do marido.
5.O AMOR DÍZIMA
PERIÓDICA.
É aquele que
se arrasta, se arrasta...Já faz tanto tempo que ninguém sabe se ainda é amor.
Na verdade é mais costume que amor, e é justamente por isso que perdura. Nenhum
dos dois tem coragem de se largar, não porque seja inebriante, mas por ser a
rotina ainda possível. Cada um sabe de cor e salteado até os pensamentos do
outro e, inclusive, suas fantasias sexuais, mas não têm coragem de
desmascará-las porque também elas se repetem... Como uma dízima.
7.O AMOR
NOVES FORA.
É aquele que
só é jogado fora depois que um dos dois descobre os nove amantes do parceiro.
8. O AMOR
MATRIZ
É aquele que
é a matriz de todos os males. Se tem dor de cabeça, é por causa do amor, se não
come é por amor, se pegou o vírus da zica, idem. Às vezes a filha, de tão boazinha até antecipa: “Mãe, não vai
dar para passar de ano” “Por causa de que filha?” “Por causa do amor”. “Seria
bom você começar a tirar zero em amor e dez em matemática”. “Tarde demais! Matemática
não faz filho, mãe”
9. O AMOR INFINITO.
É aquele que
só existe na poesia de Vinícius de
Moraes, tanto assim que virou clichê “que seja infinito enquanto dure”. O pior
é que os amores infinitos não chegam a durar, hoje, nem enquanto duros. Por
segurança, é bom desconfiar: beijos em
demasia e muito agarra-agarra para consumo público, o infinito é daqueles
que não duram e o amor é desses em que
só a efemeridade é infinita.
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