quinta-feira, 25 de junho de 2015

DE UMA BOA ENTREVISTA






                                                 





Trechos de uma Boa Entrevista
( O MELHOR DAS BOAS ENTREVISTAS - agora quinta-feira neste blog)

Lina Meruane , escritora chilena, escreveu Febre no olho, sucesso editorial nos USA agora traduzido no Brasil pela Cosac Naify sobre o  drama de uma mulher ter tido a visão obscurecida por um derrame ocular, fato semelhante que aconteceu consigo em menor escala. Entrevista concedida ao jornal Rascunho, edição de maio de 2015.



(...)
1.Quais são os elementos da jornada em busca da cura? Ou ainda, a cura existe? Cura do quê?
Não sei se entendo essa pergunta, claro que há curas para muitas doenças físicas e emocionais, mas a cura total não existe: trata-se de um raro equilíbrio, cura-se de uma enfermidade e aparece outra; cura-se de uma angústia e aparece outra. A vida é uma longa doença degenerativa.

2.Caso houvesse uma inversão de papéis em Sangue no Olho ( romance da entrevistada) e fosse a protagonista que cuidasse do outro, como seria? As mulheres se veem em posição mais vulnerável quando acometidas por uma doença ou o gênero não importa?
O gênero importa muito. Historicamente as mulheres prezam o sacrifício como um valor: a mãe deve se sacrificar por seu filho, o pai contribui; a esposa se sacrifica pelo marido mas não deve esperar o mesmo de volta; a filha se sacrifica pelos pais e, sobretudo, pela mãe porque lhe deve a vida enquanto seus irmãos se apoiam nela...Isso está poderosamente inscrito na cultura e se reforça o tempo todo através de discursos múltiplos sociais. Quando as mães conseguem dizer não aos pedidos dos filhos sem se sentirem culpadas? Quando na intimidade de um casal, a mulher logra colocar suas necessidades acima da dos outros como quase sempre fazem os demais? Não são as filhas que se encarregam de cuidar dos pais idosos mais frequentemente?? Não digo que seja sempre assim, o que digo é que custa mais às mulheres deixarem de agir assim porque foram educadas para servir e para sentir que seus desejos e talentos possuam menos valor. Isso segue sendo assim e é difícil de enxergar. Quando tenho alguma dúvida na minha vida pessoal, sempre, como regra, inverto a situação e penso no contrário: o que fariam o meu parceiro, o meu irmão, o meu pai ou o que faria nessa situação se eu fosse um homem? (...) Para não me prolongar foi isso o que eu fiz ao escrever o meu romance, dar uma volta na relação do gênero e ver a situação clássica desde a inversão. O que surpreende os leitores é precisamente essa inversão: aí se enxerga as coisas muito melhor, e elas assustam muito mais.



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