artigo publicado quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão
http://www.blogsoestado.com/ewertonneto/wp-admin/post.php?post=46&action=edit
Na primeira vez em que encontrei o escritor Josué Montello,
no Rio de Janeiro, lembro que à vista do
livro, que lhe apresentei, comentou: “Tem um título muito bonito”, referindo-se
a O menino que via o além.
Mais tarde,
ele me escreveria uma carta muito gentil afirmando haver gostado do livro, mas
não sei se, de fato, o leu, já que escritores consagrados e com múltiplos
afazeres não têm tempo tão disponível assim para leituras, tantos são os livros que lhes mandam, à parte
os que têm de ler por dever de ofício. Mas não deve ter sido por causa do
título, que esse livro recebeu uma
condecoração nesse mesmo ano da FNLIJ Fundação Nacional do livro
infanto-juvenil como “altamente recomendado para leituras em escolas de todo o
Brasil” e , logo a seguir, teve quinze mil exemplares adquirido pela prefeitura
de Belo Horizonte o que provocou da parte da editora uma terceira edição.
Não deve ter
sido pelo título, mas guardo a convicção de que um bom título sempre ajuda, não?
Embora até hoje não tenha ideia conclusiva a respeito do grau de influencia do título,
ou da capa de um livro, na sedução inicial que se estabelece
perante o leitor, guardo a convicção de
que isso encerra mais mistérios ‘do que sonha a vã inteligência humana’. O que induz a pensar que carece da parte do
mercado editorial um estudo mais sério e profundo a respeito desse tema.
Lembrando
que a maioria entra numa livraria hoje quase por descuido, o bom título para
impulsionar as vendas seria aquele capaz de cooptar o leitor deixando-o sem
alternativa diante de uma atração intransferível. Casos exemplares em livros de
autoajuda parecem ter sido elaborados com essa única finalidade. Que alma
desprevenida, religiosa ou não, é capaz de resistir a um título do tipo “Jesus,
o maior psicólogo que já existiu.”? Existe imaginação mais benfazeja do que aquela
que o transporta para um divã, com Jesus
Cristo, ao lado lhe escutando?
Acertar na
mosca, não é tarefa fácil, porém, para alguém que busque a junção do criativo
com o impactante, comercialmente falando, sendo, no entanto, isso perfeitamente
possível. Títulos óbvios para obras geniais existem às pencas: Romeu e Julieta;
Madame Bovary; Os irmãos Karamazov; Tom Jones; e são frequentes nos textos considerados
clássicos, eis que a genialidade do
autor, posicionando-se à espreita no que vem pela frente, se basta e se resolve
por si.
Mas sempre foi possível escrever, também, um grande clássico com nomes
pra lá de belos, como Emily Bronte, em O Morro dos ventos uivantes ( realce-se
aqui a feliz solução encontrada para a tradução do original Wuthering Heights, tornando-o
ainda melhor), ou Em busca do tempo
perdido, de Marcel Proust.
Como os
gênios da literatura acima citados já não surgem hoje em dia com a mesma
profusão, entendo que se deva ter algum cuidado na escolha do nome que se deva
dar a um livro, em paralelo à dimensão daquilo que se pretende ter escrito.
Certo, muitas vezes o excesso de cuidado redunda em fracassos retumbantes, mas
com cuidado - e muita sorte -, é
possível sonhar em um dia alcançar as soluções geniais encontradas por John
Fante em Pergunte ao pó; Scott
Fitzgerald em Suave é a noite; Carson
Mc Cullers em O Coração é um caçador solitário; ou para não citar só os
estrangeiros Olha para o céu, Frederico!
de J. Cândido de Carvalho ou o recente O
Amor e outros objetos pontiagudos, de Marçal Aquino.
Jose
Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas.
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