artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão, quinta-feira
Poucos dias após haver tomado posse na AML, eis que recebo a ligação de alguém ao telefone. Tratava-se de uma voz, a princípio, desconhecida, até que se revelou o dono da mesma: Haroldo Tavares, engenheiro e fundador da Escola de Engenharia Civil de São Luís onde eu havia estudado, antes de transferir-me para Volta Redonda, estado do Rio, onde vim a me graduar em engenharia metalúrgica. Recordei que ele havia sido prefeito de São Luís, mas isso não entrou no assunto. Telefonava-me a propósito de eu ter entrado na AML, sendo engenheiro de profissão, e quis saber de minha trajetória profissional , de como viera a me interessar pela escrita e a desenvolvera, dando-me os parabéns por haver conseguido conciliar atividades à primeira vista tão díspares. Enquanto isso, eu apreendia, durante a conversa, o formidável arsenal cultural do qual ele era possuidor, à esteira de um pendor artístico que me era inusitado, de sua parte.
Mais tarde, soube em distintas conversas através do amigo, escritor e jornalista Luis Mello Neves, que privou de sua amizade, mais detalhes de sua notável simplicidade no trato pessoal; de seu apurado gosto musical, de seu talento artístico ( tocava violino) e da forma como concebia um gestor público: necessariamente um precursor de um estágio futuro de progresso, a ser alcançado, a bem da coletividade. Como homem inteligente que era, tinha perfeita noção do enorme bem que a sua administração trouxera a esta cidade e apenas por vezes demonstrava algum incômodo por ter se excluído da atividade político-administrativa em sua terra, a par de sua capacidade comprovada.
Toda essa lembrança disparou quando tive oportunidade de assistir ao oportuno, essencial e, por vezes comovente, filme concebido pelo cineasta e escritor Joaquim Haickel Haroldo, o que ousou sonhar, sobre a trajetória desse idealizador (ainda mais que idealista) do qual eu conhecera apenas algumas facetas. Relembrando um termo usado por ele (comum na engenharia), em algumas de suas falas no filme, refleti, enquanto assistia ao desenrolar da fita, que esta se realizava em seu propósito e se concretizava plenamente “cisalhando um esquecimento a que tendia ser relegado uma pessoa notável”.
Do objetivo acima descrito, o filme cuida com apuro, num andamento à la Bolero de Ravel (se me perdoarem a intuitiva alegoria) trazendo à baila depoimentos de personalidades como José Sarney, Jaime Santana, José Reinaldo Tavares, Benedito Buzar, Américo Azevedo Neto etc. que se sucedem em progressivos registros que assumem degraus cada vez mais elevados de emoção, contrapondo-se às imagens marcantes de uma São Luís do passado, sacudida pela chegada do progresso. À medida que o filme chegava ao seu final provocava um sentimento uníssono em todos os espectadores: “Que seria desta cidade, não houvesse Haroldo Tavares sido prefeito de São Luís, antecipando um progresso, cuja incompletude insiste em maltratar toda uma nova geração?”
Representando a AML em recente reunião da próxima Feira do Livro não pude deixar de sugerir que este documentário possa ser destacado e exibido na mesma, com duas finalidades: primeiro para sedimentação dos feitos e da memória do grande personagem maranhense que foi Haroldo Tavares e, segundo, pela sua sedução intrínseca, como um belo e significativo registro de obra de arte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário