artigo publicado no jornal O Estado do Maranhão
O coeficiente de segurança, tão conhecido dos estudantes e
dos engenheiros pela letra K, é um número que entra nas equações para
protegê-las dos erros, digamos assim. Uma espécie de “todo cuidado é pouco ”,
da ciência.
Ao contrário
do que se pensa, porém, o coeficiente de segurança não é privilégio apenas de
matemáticos.
Ou você pensa que as dietas, os tantos dias a pão e água, e os
caminhões de remédios a tomar não fazem parte do coeficiente de segurança do
médico? A verdade é que para tudo, mas
pra tudo mesmo nesta vida tem de haver por trás um coeficiente de segurança que,
no fundo é uma salvaguarda para nossa tão frágil
condição humana. Afinal de contas, quem
se garante?
Nestes tempos bicudos, de dúvida e incerteza, os
coeficientes de segurança proliferam por aí:
1.K de um
político. Um bom coeficiente de segurança contra o que o político diz deveria ser, no mínimo, igual
ao inverso do que ele fala. Ou seja, se um político lhe promete um emprego , tenha
certeza de que você vai mofar no olho da rua, se ele lhe promete paz e
tranquilidade, confie em que uma bala perdida estará entrando em sua casa nesse
exato momento.
Já o
coeficiente de segurança do político contra o que ele mesmo diz - nas delações
premiadas, por exemplo-, esse é
dificílimo de calcular . Mesmo o melhor computador do mundo em seus cálculos de
alta complexidade será incapaz de se dar bem na tarefa. Antes, sugerirá que o
político desista da matemática e recorra
aos conselhos da vovó “Que Deus me proteja dos meus amigos, que dos meus
inimigos cuido eu.”
2.K do amor. O coeficiente de segurança de um “Eu
te amo”, com exclamação ou sem exclamação é sempre complicado e deve ser
ampliado nesses dias que antecedem ao dia dos namorados. “Amar é se atirar de cima de uma ponte no
escuro”, já disse uma famosa atriz, portanto o perigo é iminente e toda
desconfiança pouca. Se for para um marmanjo na hora do orgasmo o coeficiente de
segurança do que ele diz deve ser
próximo de zero. Já, para a mulher, seu “eu te amo” depende do saldo do cartão
de crédito que lhe foi prometido.
3.K do Embelezamento. Aqui o coeficiente de
segurança tem de ser no mínimo, o
máximo. Uma boa regra seria dividir por mil o que foi prometido, na razão inversa do potencial de
transformação. Em outras palavras: quanto mais feio(a) você for, maior deverá ser o K a ser aplicado.
Ou seja, se você for uma Joelma e alguém lhe prometer que você vai virar uma
Paola Oliveira, melhor usar ao invés de um coeficiente de segurança um capacete
de segurança. Pelo menos, depois do tratamento você estará protegida para não
apanhar do seu Ximbinha.
4.K da oração. Até para rezar carece coeficiente
de segurança, sabia? O que é um terço,
com 50 e tantas ave-marias mais que um coeficiente de segurança contra a falta
de fé? A verdade é que para certos
pecadores, um terço só não resolve.
De uns
tempos para cá, nos funerais, inventaram-se as palmas, como se o morto, de repente
virando ator de teatro, depois de dar seu primeiro espetáculo pós- vida estivesse
querendo palmas, e não lágrimas. Não deixa de ser o velho K ,
de novo em ação, como se quisessem garantir ao morto (esquecidos os seus mal feitos) uma passagem
direta para o céu. Tempos estranhos, fé mais ainda, cálculos novos!
ewerton.neto@hotmail.com
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