artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
José Ewerton
Neto, autor de O entrevistador de lendas
Por onde
andará Belchior? Por onde andará Geraldo Vandré? As perguntas, parecidas, referem-se à perplexidade diante do destino
nebuloso de dois dos maiores ídolos da MPB.
A primeira
indagação foi objeto de um texto deste cronista publicado neste jornal tempos
atrás, cujo assunto esgotou-se depois de dissecado por uma reportagem investigativa
da tevê descobrindo, por fim, o paradeiro do ídolo. Já a segunda, talvez fosse
melhor expressa de uma outra forma: O
que faz Geraldo Vandré? Ou, melhor ainda: O que fez de si Geraldo Vandré?
Essa questão
me motivou a adquirir o livro Geraldo Vandré, o homem que disse não!
Espicaçava-me um tipo de curiosidade diferente daquela em relação a Belchior
porque, no seu caso, não se tratava de sua localização (fugiu, escondeu-se,
está numa ilha deserta, morreu?), mas sim, pelo fato de ele comportar-se, deliberadamente,
como se não houvesse mais espaço para o mito
Geraldo Vandré em seu corpo. De outras fontes eu soubera que ele se tornara
esquivo aos holofotes e à mídia, e preferira o caminho das sombras.
Por que
decidira assim? Qual seria a razão oculta por trás de uma decisão tão radical
num momento em que personalidades sem conteúdo e representatividade, vendem o corpo - e a alma -, por quinze segundos de fama? No caso específico de Geraldo Vandré, um dos
ícones do movimento musical contra a ditadura, razões adicionais se misturavam
às teorias conspiratórias: (teria sido torturado e ficara neurótico, em
consequência? Decepcionara-se com os rumos do país?)
.
Dias atrás
eu assisti um premiado filme reportagem
sobre a vida da cantora Amy Winehouse onde implode seu drama pessoal de incompatibilidade com a fama e o sucesso. O
filme escorraça a visão mesquinha dos que só se permitem interpretá-la como uma
jovem talentosa que teve tudo e se consumiu em drogas, para revelar a face complexa
e etérea do compromisso de alguém com a sua própria arte, e apenas a ela. Teria acontecido algo parecido
com Vandré?
O livro não
responde, apenas insinua a insatisfação do artista com o rumo que as coisas
tomaram. É pródigo em acumular as raras informações disponíveis no ambiente que
o cercou após voltar ao Brasil, depois de exilado, mas a chave da solução permanece
inacessível por ser Geraldo Vandré um ser inconclusivo, já que as poucas vezes em
que fala nada esclarece. O fato é que, aparentemente, tão perturbado
ficou com o mito de herói criado em torno de si que se converteu, até
mesmo, em cantor da Aeronáutica, ao mesmo tempo em que passou a repudiar a suspeita
de que havia sido torturado pelos militares.
Numa época em que cantores (de talento equivalente ao seu
e que assumiram a pecha de perseguidos da ditadura como Caetano Veloso e Chico
Buarque) continuam colhendo os louros desses méritos, mas não se constrangem em compactuarem com atitudes
de apoio à corrupção, em nome da
ideologia ( caso de Chico), causa espécie que o mais autêntico deles e,
portanto, o mais legítimo , negue veementemente
a violência sofrida e em momento algum
busque as vantagens de uma potencial inverdade.
O livro chega
em
boa hora, especialmente para aqueles que, jovens então, os tiveram como ídolos, mas as dúvidas
permanecem (aliás, oxalá que jamais se extingam): “ Por onde andará Belchior ?
Por onde andará Geraldo Vandré? Por onde
andarão os sonhos da juventude?”.
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