domingo, 29 de janeiro de 2017

POR ONDE ANDARÁ GERALDO VANDRÉ?




artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

José Ewerton Neto, autor de O entrevistador de lendas




            Por onde andará Belchior? Por onde andará Geraldo Vandré? As perguntas,  parecidas,  referem-se à perplexidade diante do destino nebuloso de dois dos maiores ídolos da MPB.

            A primeira indagação foi objeto de um texto deste cronista publicado neste jornal tempos atrás, cujo assunto esgotou-se depois de dissecado por uma reportagem investigativa da tevê descobrindo, por fim, o paradeiro do ídolo. Já a segunda, talvez fosse melhor  expressa de uma outra forma: O que faz Geraldo Vandré? Ou, melhor ainda: O que fez de si Geraldo Vandré?

            Essa questão me motivou a adquirir o livro  Geraldo Vandré, o homem que disse não! Espicaçava-me um tipo de curiosidade diferente daquela em relação a Belchior porque, no seu caso, não se tratava de sua localização (fugiu, escondeu-se, está numa ilha deserta, morreu?), mas sim, pelo fato de ele comportar-se, deliberadamente,  como se não houvesse mais espaço para o mito Geraldo Vandré em seu corpo. De outras fontes eu soubera que ele se tornara esquivo aos holofotes e à mídia, e preferira o caminho das sombras.



                                                      





            Por que decidira assim? Qual seria a razão oculta por trás de uma decisão tão radical num momento em que personalidades sem conteúdo e  representatividade,  vendem o  corpo - e a alma -,  por quinze segundos de fama?  No caso específico de Geraldo Vandré, um dos ícones do movimento musical contra a ditadura, razões adicionais se misturavam às teorias conspiratórias: (teria sido torturado e ficara neurótico, em consequência? Decepcionara-se com os rumos do país?)
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            Dias atrás eu assisti um premiado  filme reportagem sobre a vida da cantora Amy Winehouse onde implode seu drama pessoal  de incompatibilidade com a fama e o sucesso. O filme escorraça a visão mesquinha dos que só se permitem interpretá-la como uma jovem talentosa que teve tudo e se consumiu em drogas, para revelar a face complexa e etérea do compromisso de alguém com a sua própria arte,  e apenas a ela. Teria acontecido algo parecido  com Vandré?

            O livro não responde, apenas insinua a insatisfação do artista com o rumo que as coisas tomaram. É pródigo em acumular as raras informações disponíveis no ambiente que o cercou após voltar ao Brasil, depois de exilado, mas a chave da solução permanece inacessível por ser Geraldo Vandré um ser inconclusivo, já que as poucas vezes em que  fala nada esclarece.  O fato é que, aparentemente,   tão  perturbado  ficou com o mito de herói criado em torno de si que se converteu, até mesmo, em  cantor da Aeronáutica,  ao mesmo tempo em que passou a repudiar a suspeita de que havia sido torturado pelos militares.  




                                                     





            Numa época  em que cantores (de talento equivalente ao seu e que assumiram a pecha de perseguidos da ditadura como Caetano Veloso e Chico Buarque) continuam colhendo os louros desses méritos, mas  não se constrangem em compactuarem com atitudes de apoio à corrupção,  em nome da ideologia ( caso de Chico), causa espécie que o mais autêntico deles e, portanto,  o mais legítimo , negue veementemente a  violência sofrida e em momento algum busque as vantagens de uma potencial inverdade.  
            O livro chega  em  boa hora, especialmente para aqueles que, jovens então,  os tiveram como ídolos,  mas  as dúvidas permanecem (aliás, oxalá que jamais se extingam): “ Por onde andará Belchior ? Por onde andará Geraldo Vandré?  Por onde andarão os sonhos da juventude?”.

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com              

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