Um dos
assuntos mais comentados pela imprensa na semana passada foi a falta de
tornozeleiras. Não de tornozeleira para moças, nas lojas de artigos femininos,
mas de tornozeleiras eletrônicas para criminosos. E não a de tornozeleiras para
bandidos comuns, mas para os da Lava-Jato.
Bons tempos esses? Não seriam piores
os tempos em que faltava feijão na mesa
dos brasileiros? Talvez não, talvez sim. A falta de tornozeleiras quando
não falta arroz e feijão mas faltam valores morais, enseja a que se pondere
que, pelo menos, foi criado um novo tipo de oportunidade empresarial para
o empreendedor inventivo.
As oportunidades são muitas. Vamos a
elas!
1.Tornozeleira Eletrônica, categoria
VIP.
É inadmissível que faltem tornozeleiras justamente para gente capaz
de comprar milhares delas, só com o troco da propina recebida. Acostumados a usufruírem
do bom e do melhor imagine o constrangimento de ter que enfiar a canela numa
tornozeleira vulgar, que qualquer bandido de segunda pode usar. Isso sim, é bullyng pra ninguém botar defeito!
(A cara de bebê chorão de Geddel,
por exemplo, após ser preso, é bem uma demonstração disso. Parece que está
reclamando mais por não ter direito a uma tornozeleira adequada do que pela
cadeia em si. É fácil imaginá-lo berrando ao celular. “Maiê! Trabalhei tanto
pra enriquecer e não me deram sequer uma
tornozeleira!”)
Essa oportunidade única se apresenta, agora, ao empresário arrojado que
se disponha a fabricar tornozeleiras com recursos tecnológicos adicionais indispensáveis
à clientela a que se destina: com alívio de posição, jogos eletrônicos ao
alcance dos dedos do pés, pulsações para exercício muscular etc. etc.
2.Dispositivo
Anti Gravação.
Com um desses equipamentos à
disposição Michel Temer não precisaria, hoje, descer do seu pedestal para
assediar deputado a deputado, do alto ao
baixo clero e, até, sub clero. Fáceis de acionar a um comando simples, tal
dispositivo embutiria um tipo de ressonância que tornaria inaudível qualquer
gravação inconveniente. Prático e moderno, tal equipamento tenderia a ser um sucesso no ambiente
de empresários e políticos corruptos onde passaria a ser chamado também, com muita propriedade, de Confunde-Delator.
3.Malas Camufláveis.
A descoberta pela lava-jato de malas
de dinheiro associadas a autoridades fornece a impressão desmoralizante de
roubo muito primário. A fabricação de malas
camufláveis evitaria que essa gente passasse por essa constrangedora vergonha.
Inovações advindas dos avanços tecnológicos já permitem a fabricação dessas
malas, a salvo de qualquer detecção eletrônica.
Claro, seu custo não seria
accessível a ladrões de galinha, mas estamos falando de gente que transporta
nessas malas dinheiro capaz de comprar centenas de malas camufláveis. Sem
contar que a clientela não seria feita apenas de criminosos já constituídos,
mas dos futuros, em potencial. Atualmente,
os fabricantes rezam para que o foro privilegiado continue ad eternum. Sua
produção em larga escala fundamenta-se na regra básica do bandido precavido:
“Melhor prevenir que remediar”. Com foro
privilegiado e sabendo que ninguém vai preso, jamais haverá ladrão capaz de resistir à tentação!
Pelo menos, no Brasil.
ewerton.neto@hotmail.com
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