Tempos atrás
o Carnaval era exclusivo das marchinhas
e sambas que fazem sucesso até hoje.
O
carnaval em si não mudou tanto,
os tempos é que são outros. Os costumes, estes sim, evoluíram rapidamente,
talvez para pior. Se as marchinhas fossem escritas hoje, seriam como segue, ao
invés de:
1.Ontem:” Olha a cabeleira do Zezé.
Será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é
Maomé. Parece que é transviado, mas isso
não sei se ele é”
.
Hoje: Olha a
cabeleira do Vital
Será que ele
é, será que ele é.
Será que ele
é dançarina, será que ele é travesti
Parece que
ele é tudo isso, mas nem isso eu sei se ele é.
2. Ontem: “Oh, jardineira, por que
estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do
galho, deu dois suspiros, depois morreu!”.
Hoje: Oh,
periguete, por que estás tão triste?
Mas o que
foi que te aconteceu
Foi o coroa
que quebrava teu galho
Deu dois
suspiros, depois morreu.
3. Ontem: “Se você fosse sincera, ô
ô Ô Aurora, ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô , Aurora. Um lindo apartamento com
porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor. Madame antes do nome, você teria agora, ô ô Ô Aurora!”
Hoje: Se
você fosse galinha, oooô, Aurora
Ai meu Deus
que bom que era, ô ô Ô Aurora!
Um apê de cobertura ,com cinema e boate.
E um
personal training pra teus dias de calor
Um chifre bem
na testa, eu ostentaria agora
Oooô, que
Aurora!
4.Ontem: ”Mamãe, eu quero, mamãe, eu
quero, Mamãe, eu quero mamar. Dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro bebê
não chorar. Dorme filhinho do meu coração, pega a mamadeira e vem entrar no meu
cordão, eu tenho uma irmã que se chama Ana, de piscar o olho já ficou sem a pestana.”
Hoje: (Nos
salões do poder público)
Mamãe eu
quero, mamãe eu quero roubar
Me dá a
propina, me dá a propina, dá a propina pro bebê não chorar.
Dorme justiça, do meu coração,
Pega a
propina vem entrar no meu cordão,
Só de ficar vendo
tanta mala de dinheiro,
O meu olho endoideceu,
parecido ao CerverÓ.
5.Ontem: ”Solteira eu não quero.
Casada traz complicação. A viúva tem saudade, a desquitada é a minha solução”.
Hoje: Hetero
eu não quero,
Homossexual
traz complicação
Sexo virtual
pode dar cadeia
Transsexual
é a minha solução.
6.Ontem: ”Vestiu uma camisa listrada
e saiu por aí , em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati. Levava um
canivete no cinto e saia dizendo mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar.
Hoje: Pegou sua
moto incrementada e saiu por aí
Em vez de
tomar chá com cachaça cheirou um monte de pó
Levava um pistola no cinto e um celular na mão
E saiu
dizendo ao chefe da gangue: Pai eu quero matar, papai eu quero matar, papai eu
quero matar!
5.Ontem: As águas vão rolar, garrafa
cheia eu não quero ver sobrar, eu passo mão na saca, saca, saca rolha, e bebo
até me afogar. Se a polícia por isso me prender, mas na última hora me soltar,
eu passo a mão no saca, saca, saca rolha ninguém me agarra, ninguém me agarra
Hoje: (cantada
pelos batalhões das blitzes )
As multas
vão rolar,
Papudinho hoje eu quero ver soprar
Eu passo a
mão no bafômetro e empurro
Até o
coitado se afogar!
Se o
desgraçado pedir pra não prender
E vier me
implorar para soltar
Eu passo a
mão no cassetete e enfio nele
Ninguém me
agarra, ninguém me agarra!
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
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