artigo publicado no jornal O estado do Maranhão #samba #músicasertaneja #noelrosa
O que pode
se entender no Brasil como ‘coisa de
bandido’?
Ser pego
pela lava-jato recebendo propina e jurar que nunca roubou, ou ser solto por
Gilmar Mendes e voltar a roubar? Dizer que uma mala de 50 milhões encontrada no
seu apartamento não é sua, ou dizer que foi doação de campanha? Fugir da
penitenciária via túnel, ser novamente preso e voltar a fugir pelo mesmo túnel,
ou pegar um indulto de feriado, praticar crimes, ser preso novamente e ser solto em outro feriado?
Bem, sendo o
Brasil esse país especialíssimo onde as organizações de direitos humanos têm
mais pena dos bandidos que das vítimas e, sendo também, para um eminente
historiador, “ Um país feito por bandidos para bandidos”, é normal que exista por
aqui uma infinidade de atitudes que alguém poderia chamar de ‘coisa de bandido’.
O que causa espécie são as novidades.
Como a do cantor de música sertaneja
César Menotti que insinuou ter
descoberto mais uma. Isso mesmo. Durante
o programa Altas Horas da TV Globo, César da dupla com Fabiano (?) se saiu com essa: tendo sido convidado a cantar
numa penitenciária foi solicitado a cantar um samba e, como não soubesse,
respondeu aos encarcerados: “Desculpa, é que realmente a gente não sabe cantar
samba. E tem mais, na minha opinião
samba é coisa de bandido”.
Se os presos gostaram da resposta não
se sabe, o que se sabe é que a plateia do programa morreu de rir. Donde se conclui que o
apresentador Serginho, sua turma de convidados e os demais cantores concordaram
com a opinião de Menotti. O que não se sabe é se estão rindo até hoje porque
descobriram mais uma ‘coisa de bandido’ num país de bandidos, ou estavam felizes porque existe tanta
coisa de bandido neste país que se tornou quase obrigatório se achar graça
quando se fala em bandido.
Houve, porém, uma pequena parte da população brasileira que não viu tanta graça nisso. Como a cantora sambista e deputada Leci Brandão a
quem aprouve se manifestar nas redes sociais para dizer ao senhor César Menotti, “...Que samba não é música de bandido. Bandido
para mim é quem compra a mídia para a gente ouvir um tipo de música que não
leva o país a não ter nenhuma reflexão, nenhuma consciência. Isso sim é bandidagem. Bandidagem para mim é fazer com
que cultura seja toda direcionada a quem tem poder. E o samba, graças a Deus,
ainda tem gente que leva reflexão e bons pensamentos para a democracia deste
país", desabafou a compositora.
Tão eloquente
foi a resposta da Leci que nem foi
precisou evocar em seu socorro guardiões
do samba como Noel Rosa, Martinho da Vila ou Dorival Caymmi que um dia sentenciou
“Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça e doente do pé” .
Ao mesmo tempo em que a compositora excluiu o samba definitivamente fora desse
contexto conseguiu enriquecer o Vocabulário Nacional das Coisas da Bandidagem:
Pois,
de fato, a música dessas duplas sertanejas é tão ruim que comprar a mídia, para fazer gente inculta se
regalar com as asneiras que dizem e as porcarias melódicas que cantam, isto sim, definitivamente, é uma
sonora bandidagem.
José Ewerton Neto é autor de O oficio de matar suicidas
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