O GUARDA-CHUVA
Basta o inverno chegar, ei-lo de
novo. Do mesmo jeito que há mais de 200 anos, quando o inglês Jonas
Hanway introduziu seu uso diário, apresenta poucos sinais de evolução
científica, digamos assim. Um acionamento quase automático aqui, uma cobertura
de plástico ali, basta uma olhadela em sua direção para constatar que
continua o mesmo de sempre: sério, sorumbático e deselegante, com uma
indisposição histórica.
Esse seu estoicismo talvez seja decorrente
da indiferença com que é tratado pelos homens, nos dias comuns e ensolarados. Revoltado com esse descaso, assim que começa a guerra entre a água e o
homem torce pela chuva, cagando e
andando para os que o apanham para se proteger. Quando isso acontece demora-se a
abrir, e mais ainda a fechar-se, além de dar um jeito de se esconder nos locais
mais improváveis. Recente estatística descobriu
que 70 % dos guarda-chuvas são esquecidos (ou fogem) do comprador antes de
serem usados pela primeira vez .
Em termos evolucionistas, o único modismo
em que se insere é o de pertencer à classe dos produtos descartáveis, por obra
e graça dos asiáticos. Em qualquer ajuntamento de camelô chinês, lá estão os
guarda-chuvas, aos montes, fazendo concorrência a bonés, pomadas japonesas, bugigangas
paraguaias e mulheres rodando celular
(elas não usam mais bolsinhas). Comprados
a preço de banana, são fabricados em escala mais volumosa que a de produção
de miojo. Têm prazo de garantia, mas este costuma não passar de meia hora - se
não estiver trovejando e relampejando.
Tem-se como verdadeiro, na comunidade
científica, que o uso do guarda-chuva em
pleno século XXI acontece muito mais por uma imposição psicológica. Ao
começarem os raios seguidos de trovões um medo anterior e ancestral se apossa do
inconsciente humano e o indivíduo se socorre da arma que tiver em mãos para
superar seu pavor. Ao segurar no seu cabo e partir para cima do
temporal há um evidente viés
exibicionista. Claro que, ao fim, se
encharca todo, mas a ilusão de que enfrentou de igual para igual as
adversidades impostas pela natureza acaricia seu subconsciente, e isso lhe
basta.
Recentemente, um cientista japonês se
saiu com uma teoria originalíssima para justificar o fato de nenhuma
civilização extraterrestre, haver estabelecido, até hoje, contato com os terráqueos. Segundo
ele, ao tomarem conhecimento da geringonça que os homens usam para se proteger das
tempestades, enviaram para as demais comunidades interplanetárias uma mensagem
com os seguintes termos: “Não percamos tempo tentando contatá-los. Não é
merecedora de atenção uma raça que após 4 milhões de anos não conseguiu
inventar, para se proteger da água, um equipamento
melhor do que um guarda-chuva.”
José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis
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