Fui presenteado recentemente pela amiga, poetisa e confreira Laura
Amélia Damous com uma dádiva especial: o
livro Listas Extraordinárias, em tudo
e por tudo um livro extraordinário.
A inspiração para esse presente surgiu-lhe de uma crônica que
escrevi neste mesmo jornal em que o assunto foi justamente minha sedução por
listas. A ponto de ter sido cognominado de ‘listador’ pelo também confrade
Joaquim Haickel no prefácio que gentilmente escreveu para o meu próximo livro
de contos, prestes a ser publicado, cujo
título inspirado em um dos contos se chama Pequeno
Dicionário de Paixões Cruzadas, um conto policial narrado em formato de
listas, eis que um dicionário, ao fim , não passa de uma lista de palavras.
Este, por sua vez difere em essência de O Livro das Listas de Irving Wallace citado na crônica anterior, onde as listas são provocadas ou imaginadas a partir da opinião de especialistas
sobre vários assuntos, sendo, portanto, em grande parte fictícias. No presente
livro, não. Um cuidadoso trabalho de pesquisa disponibilizou listas reais (todas
fotografadas) fazendo realçar aspectos da personalidade de seus autores e do
ambiente em que viviam num valioso trabalho biográfico e histórico. São sequências por vezes triviais, mas sempre
curiosas e até mesmo espetaculares pela informação trazida. Desde a lista de
exigências de Einstein para sua esposa até os motivos de internação em um hospital da Virgínia Ocidental de 1864 a
89 há listas para qualquer gosto podendo ser:
Tragicômicas. A lista dos conselhos do famoso ensaísta e clérigo Sidney Smith para
sua grande amiga com depressão guarda ‘pérolas’ como estas: 1) Viva o melhor
que puder... até 2)Por fim, acredite em mim, querida Georgiana.
Imperiosas. Os onze mandamentos de Henry Miller para ele
mesmo evidenciam o esforço que ele demandava para se autodisciplinar, ao se
ordenar: “Não comece a escrever outros livros, não acrescente mais nada a
Primavera Negra”... até findar em: “ Escreva primeiro e sempre. Leitura, música
e amigos, deixe tudo isso para depois “
Patéticas. As listas de esforços de Sylvia Plath e Marilyn
Monroe guardam extraordinária semelhança (as duas se suicidaram) na tentativa
de serem felizes. A de Sylvia começava dizendo: “Mantenha constantemente um ar
de alegria”.
Engraçadas. A lista de símiles de Raymond Chandler que as acumulava
para sua narrativa policial irônica e noir é de morrer de rir: “ sexy como uma
tartaruga, frio como um calção de uma freira, raro como um carteiro gordo, bonita
como uma tina de lavar roupa...” etc. etc.
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