sábado, 8 de outubro de 2011

VOCÊ PODE MATAR ALGUÉM HOJE

artigo publicado no jornal  O estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de...


Caro leitor, você está na iminência de matar alguém hoje. Isso não está passando pela sua cabeça, não é? Mas, acredite, não só você, também eu, ele  ou qualquer outro que dirija um veículo pelas ruas da cidade está perto de tirar a vida de alguém. Mais provavelmente, de um motoqueiro.
                   É essa a realidade nua e crua, quer acreditem ou não, quer queiram tomar providências ou não: todos nós, que dirigimos um carro pelas ruas de São Luis (ou de qualquer outra grande cidade do Brasil) estamos nos aproximando, perigosamente, de eventuais matadores.
                   Precisa dizer que nas últimas vinte e quatro horas ( estou escrevendo esta, numa quarta-feira),  três motoqueiros foram mortos só aqui em São Luis? Precisa dizer que mais de 50% dos leitos dos hospitais públicos de São Luis são ocupados por motoqueiros? Precisa dizer que em São Paulo morre mais de um motoqueiro, por dia? Preciso dizer que já participei de três acidentes com motos ( embora me considere um motorista precavido) e que já tive dois parentes  mortos por motoqueiros?
                   Não, não precisa dizer, todo mundo sabe disso ou então não vê,  , não lê, não escuta. Estranhamente, nenhuma autoridade federal até agora idealizou tomar providências para executar,  em âmbito nacional, um plano para amenizar o que seria considerado uma hecatombe - ou uma praça de guerra -  em qualquer outra nação civilizada. Como se a morte desses milhares de pessoas não representasse um ultraje e uma vergonha para qualquer administração que se preze. Parecem  querer que recaia sobre nossa cabeça – de todos nós, motoristas - a pecha de matador, com todos os traumas que essa realidade implica.
                   Sim, porque chegamos a um ponto em que já não bastam as salvaguardas de respeito às leis de trânsito e cuidado ao dirigir.  Porque as  potenciais futuras vítimas surgem a qualquer momento e a qualquer hora, aos milhares, de todo lugar: da direita, da esquerda, da frente, ou detrás. Súbitos, imprevisíveis, quando não invisíveis ( os que entendem  de trânsito sabem que existe um ponto cego, de onde surgem, muito difícil de detectar e  dificilmente identificável via retrovisor do carro).
                   Ora! – alguém poderia questionar – isso não estaria acontecendo apenas porque os motoqueiros sejam,  em grande parte, uma raça de gente louca, imprevidente e inconseqüente? Não, não se trata disso, qualquer analista das reações humanas em situação caótica sabe perfeitamente que isso acontece justamente porque são seres humanos e como todos os demais ( inclusive os motoristas de carro) sujeitos a impulsos de açodamento e distração. A diferença – e essa diferença é  crucial porque tange o limite da vida  – é que no carro, essa vida está se encontra dez vezes mais protegida.
                   O que caberia então fazer? Ora, se não ocorrem sugestões a quem de direito, qualquer leigo, como eu, pode  arriscar-se  – e elas são muitas: diminuir a quantidade de motos nas avenidas , inibir as facilidades de vendas,  determinar faixas preferenciais e  vias obrigatórias para motos, aumentar a punição dos insensatos com exclusão do veículo, por muito maior tempo, etc. etc. etc.
                   . São essas hipóteses exeqüíveis? Sabemos que em sua totalidade não, que são medidas difíceis de serem executadas num trânsito cada vez mais  conturbado, e que há problemas sociais envolvidos. Mas, o que não é admissível é que de tantas medidas paliativas ou corretivas possíveis, não se pense em uma só para mudar esse estado de coisas. Ao adiar o problema para sempre por falta de vontade política de resolver um problema  e justificando a omissão como sendo necessária para garantir a subsistência e a permanência na escala social atual de tanta gente, as autoridades estão, nada mais nada menos, que  entregando-as à morte antecipada.  
                   E, igualmente pior, transformando pessoas  inocentes em potenciais matadores. Cuide-se e reze muito, caro leitor!   
                                                                                                                                                                ewerton.neto@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário