sábado, 1 de outubro de 2011

MANUAL PARA APANHAR CRIANÇA EM ESCOLA

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de..hoje sábado.                                             
                                                                                 



                        Eis que a tarefa de apanhar criança em escola transformou-se numa verdadeira ciência, das mais difíceis de aprender. Deu-se que os pais de hoje acreditam que educação se aprende  apenas nas escolas, e não dando exemplos, o que fez com que essa tarefa banal tenha se transformado numa verdadeira guerra. De pais contra professores, de pais contra pais e de pais contra os próprios filhos (pela ausência de modelo a ser seguido). Donde surgiu o primeiro grande postulado do manual,  embrião da futura ciência.

                        “Não existe professor no mundo capaz de impedir que um pai idiota tenha no futuro um filho que o mereça.”

                        Ora, se o espaço da crônica já era exíguo para um manual, quanto mais para uma ciência! Descrevamos, pelo menos, os principais tipos encontrados nessa “guerra”:   

                        1. A  MADAME    DA JAMANTA. A grana não foi suficiente para a família adquirir mais um carro, bonito, prático e funcional para facilitar o trabalho de madame.  Resultado: ela tem de se socorrer mesmo da jamanta do marido: um veículo do tamanho de um ônibus escolar com a diferença de que transporta um filhinho só.         
                        Coitada de madame!  Tem que penar para dirigir o veículo, ingovernável, pelas estreitas ruas da cidade – e haja trapalhadas! Sem outra saída, ela escolhe o caminho mais fácil para resolver a questão: aporrinhar a paciência dos demais motoristas. Sem dispor de uma vaga onde colocar a sua jamanta, a pobre  madame disponibiliza todos os centímetros cúbicos disponíveis ao seu redor, inclusive, o pára-brisa ou o farol do primeiro carro mais próximo. Engarrafamento quilométrico à vista, o pior é ter de agüentar o seu sorriso angelical quando, tenta explicar ao guarda: “Faço isso por amor ao meu filho. Veja como é bonitinho!”

                        2.O IMPERADOR DAS RUAS. Não, não se trata de Adriano, o imperador romano, evocado no romance Marguerite Yourcenar, nem do outro, mais conhecido, o jogador de futebol que um dia jogará no Coríntians. Estamos falando é do imperador das ruas, aquele que acredita que a rua – qualquer rua -  é um prolongamento de sua garagem.  Vai daí que confundir a portaria das escolas, com um prolongamento, agora, de seu império, é um mero exercício de estilo. Estaciona em frente ao portão, e lá se planta pelo tempo que julgar necessário, pouco se lixando para o  troar de buzinas incomodadas com a interrupção do trânsito.
                        Sem pressa, e respaldado pela falta de educação peculiar a quem se julga o dono do mundo ele se nega terminantemente  a estacionar adiante, o que lhe levaria míseros segundos e alguns metros de andança. “Andar é coisa para quem não é imperador” parece dizer ao filho que chega  lentamente , desde já bastante parecido com o pai. Quinhentas buzinadas depois, (dos importunados), ele dá partida no carro, triunfante e sorridente, o saco coçando de tanto fazer os outros esperarem, como se nada tivesse  acontecido.

                        3.O   REI DO ZIGUEZAGUE. Apressadinho é pouco, para ele. O homem  botou na cabeça que apanhar o filho no colégio é a tarefa mais importante que existe na Terra  e que deixá-lo esperando, cinco minutos que seja, porá em risco o futuro da humanidade. Haja loucuras para chegar a tempo! Serpenteia mais do que cobra na areia quente, faz fila dupla nos retornos e promove disputas de velocidade de fazer inveja a qualquer filme policial dos anos setenta. Tudo isso porque passou da hora de buscar o filho e este – coitado! - não pode ficar esperando senão na melhor das hipóteses abre um berreiro e, na pior, enche a professora de tapas.
                        Histérico, angustiado e à beira de um ataque de nervos, o Rei (ou rainha ) do ziguezague, sobe correndo as escadarias do colégio, se desculpando   pelo atraso, só para ouvir da coordenadora: “ O senhor(a) não precisava ter vindo tão cedo. Rafinha está numa brincadeirinha com seus amigos e manda você arrumar o que fazer e aguardar meia horinha a mais.”

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
                                                                                                                      

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