O RETRATO FALADO (DAS EXPRESSÕES MARANHENSES)
artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo.
jornal O estado do Maranhão, ontem, sábado
Uma
foto de primeira página percorreu as primeiras páginas de todos os jornais desta
capital: o retrato falado do assassino do saudoso jornalista Décio Sá. Numa
época em que tanta gente, cujas palavras jorram de suas bocas como “cachoeiras”
, de repente, fazem uso do direito de permanecer em silêncio (vide CPI) , não é
de estranhar que um retrato tenha demorado tanto a ‘falar’. O curioso é que o
retrato é daqueles que dão a impressão de que a gente conhece o sujeito de algum lugar. Tenho uma amiga
que insinuou que caso o dito cujo usasse cabelo mohicano seria a cara do
Neymar. Já uma outra foi mais longe e disse que namorou com o cara. Ainda bem – disse ela - que me arrependi, a tempo. Eu lhe perguntei: “Tem
certeza?” Ele respondeu: “Claro que não, mas se nem a polícia tem...”
Já que os retratos
falados estão na moda , nada como apresentar a terceira versão de mais um
retrato falado das expressões mais comuns desta cidade. Ou seja, se não for exatamente assim, é só fazer de
conta que é.
1.
Radiola. Equipamento de som de grande porte e potência sonora, utilizado
por empresas especializadas em apresentações de reggae.
Equivalente maranhense do trio
elétrico baiano, quando para o reggae. Registre-se que o Bumba-Boi, o ritmo
típico maranhense por excelência, ainda não evoluiu para Bumboiola (Bumba mais
radiola). Mas, pelo andar da carruagem, plumas e paetês, e “garotões saradões”
esse dia não está longe. Bumboiola =
Bumba, radiola e mais alguma coisa ).
2.
Quizilha. Arrelia provocada pelo
atrito de objetos como isopor, o riscar do giz no quadro-negro, etc.
Poeticamente falando, não deixa de
ser uma quizilha divina o riscar de um relâmpago, no firmamento, visto da ponte
Bandeira Tribuzzi anunciando a chuva.
3.
Rabo-de-arraia Manobra executada com
a bicicleta, em que se aciona apenas o freio dianteiro, provocando uma
derrapagem brusca e intencional, de forma parecida com o que se faz nos
automóveis, e tem o nome de cavalo-de-pau. Normalmente,
faz rabo-de-arraia quem não tem apego ao próprio rabo. Já quem faz cavalo de
pau, não passa de um cavalo, mesmo.
4.
Rau- Cabelo pixaim ( geralmente
diz-se com o gesto de mão fechada).
Difícil encontrar hoje em dia, já que
perdeu a batalha contra a chapinha. Mas o cabelo, que é bom, foi para o Ralo. Ou
seja, o rau foi para o ralo.
5.
Reinar. Ímpetos de cometer alguma
coisa, geralmente uma imprudência.
Tudo teria começado com os que
reinavam por aqui nos tempos do império e mandavam e desmandavam. Hoje ficou
para os que pensam que mandam, e que não
são poucos, a julgar pelo que se vê no trânsito. Imprudência é com eles mesmos,
certo, meu Rei?
6.
Remanchear. ( corruptela de
remanchar), delongar, retardar, atrasar.
A expressão teria se iniciado quando
alguém, de propósito, manchava um documento com o interesse de atrasar um processo. Um exemplo atual de remancheamento: O Mensalão.
7.
Rola-Bosta Bezouro que transforma
fezes em pequenas esferas e as empurra para suas tocas.
Ou seja, os rola-bostas da rede
Globo se inspiraram nesse tipo de
besouro para criar o BBBrasil
8.
Sabão, prática de homossexualismo
entre as mulheres.
No começo, por aqui só havia dois
tipos: sabão em pó e sabão em barra. Evidentemente , eles se sofisticaram, se
diversificaram e evoluíram para sabão com pó (com cocaína) e sabão com barra ( na
academia de ginástica)
9.Sambacu brincadeira de mau gosto que
consiste em uma pessoa segurar a outra pelas pernas enquanto a outra o faz
pelos braços, sacudindo-o com violência e deixando-lhe arrastar os fundilhos no
chão.
Nem precisa explicar quem samba.
10. Seco (a) – Estar seco, Desejar alguma
coisa.
Partiu de um fundo irônico. Como
todo mundo sabe quando elas desejam
ficam, ao invés, molhadinhas.
11.
Sendeira – Mulher abandonada pelo
marido.
A expressão teria nascido de uma
corruptela da expressão ‘sem eira, nem beira’, porque é assim que a mulher
ficava nessa situação. Hoje, como todo mundo sabe, quando a mulher se separa do
marido fica com o amante e ainda fica com o dinheiro.
12.
Sigrosa. Masturbação masculina
Teria se originado de uma junção das palavras silêncio com gloriosa,
da época em que para executar isso era necessário recolhimento e silêncio. Nos
tempos atuais o barulho não atrapalha. Ao contrário, virou opção de relaxamento (preparando-se
para o que vem depois) nos desfiles de trios elétricos. Com o som nas alturas e
debaixo dos abadares.
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