domingo, 3 de junho de 2012

O RETRATO FALADO


O RETRATO FALADO (DAS EXPRESSÕES MARANHENSES)

artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo.
jornal O estado do Maranhão, ontem, sábado





Uma foto de primeira página percorreu as primeiras páginas de todos os jornais desta capital: o retrato falado do assassino do saudoso jornalista Décio Sá. Numa época em que tanta gente, cujas palavras jorram de suas bocas como “cachoeiras” , de repente, fazem uso do direito de permanecer em silêncio (vide CPI) , não é de estranhar que um retrato tenha demorado tanto a ‘falar’.                        O curioso é que o retrato é daqueles que dão a impressão de que a gente  conhece o sujeito de algum lugar. Tenho uma amiga que insinuou que caso o dito cujo usasse cabelo mohicano seria a cara do Neymar. Já uma outra foi mais longe e disse que namorou  com o cara. Ainda bem – disse ela -  que me arrependi, a tempo. Eu lhe perguntei: “Tem certeza?” Ele respondeu: “Claro que não, mas se nem a polícia tem...”
                        Já que os retratos falados estão na moda , nada como apresentar a terceira versão de mais um retrato falado das expressões mais comuns desta cidade. Ou seja,  se não for exatamente assim, é só fazer de conta que é.

                                                                




1. Radiola. Equipamento de som  de grande porte e potência sonora, utilizado por empresas especializadas em apresentações de reggae.
            Equivalente maranhense do trio elétrico baiano, quando para o reggae. Registre-se que o Bumba-Boi, o ritmo típico maranhense por excelência, ainda não evoluiu para Bumboiola (Bumba mais radiola). Mas, pelo andar da carruagem, plumas e paetês, e “garotões saradões” esse dia não está longe. Bumboiola =  Bumba, radiola e mais alguma coisa ).

2. Quizilha. Arrelia provocada pelo atrito de objetos como isopor, o riscar do giz no quadro-negro, etc.
            Poeticamente falando, não deixa de ser uma quizilha divina o riscar de um relâmpago, no firmamento, visto da ponte Bandeira Tribuzzi anunciando a chuva.

3. Rabo-de-arraia Manobra executada com a bicicleta, em que se aciona apenas o freio dianteiro, provocando uma derrapagem brusca e intencional, de forma parecida com o que se faz nos automóveis, e tem o nome de cavalo-de-pau.    Normalmente, faz rabo-de-arraia quem não tem apego ao próprio rabo. Já quem faz cavalo de pau, não passa de um cavalo, mesmo.

4. Rau- Cabelo pixaim ( geralmente diz-se com o gesto de mão fechada).
            Difícil encontrar hoje em dia, já que perdeu a batalha contra a chapinha. Mas o cabelo, que é bom, foi para o Ralo. Ou seja, o rau foi para o ralo.

5. Reinar. Ímpetos de cometer alguma coisa, geralmente uma imprudência.
            Tudo teria começado com os que reinavam por aqui nos tempos do império e mandavam e desmandavam. Hoje ficou para os que  pensam que mandam, e que não são poucos, a julgar pelo que se vê no trânsito. Imprudência é com eles mesmos, certo, meu Rei?

6. Remanchear. ( corruptela de remanchar), delongar, retardar, atrasar.
            A expressão teria se iniciado quando alguém, de propósito, manchava um documento com o  interesse de atrasar  um processo. Um exemplo atual de  remancheamento: O Mensalão.

7. Rola-Bosta Bezouro que transforma fezes  em pequenas esferas  e as empurra para suas tocas.
            Ou seja, os rola-bostas da rede Globo  se inspiraram nesse tipo de besouro para  criar o BBBrasil

8. Sabão, prática de homossexualismo entre as mulheres.
            No começo, por aqui só havia dois tipos: sabão em pó e sabão em barra. Evidentemente, eles se sofisticaram, se diversificaram e evoluíram para sabão com pó (com cocaína) e sabão com barra ( na academia de ginástica)

9.Sambacu brincadeira de mau gosto que consiste em uma pessoa segurar a outra pelas pernas enquanto a outra o faz pelos braços, sacudindo-o com violência e deixando-lhe arrastar os fundilhos no chão.
            Nem precisa explicar quem samba.

10. Seco (a) – Estar seco, Desejar alguma coisa.
            Partiu de um fundo irônico. Como todo mundo sabe  quando elas desejam ficam, ao invés, molhadinhas.

11. Sendeira – Mulher abandonada pelo marido.
            A expressão teria nascido de uma corruptela da expressão ‘sem eira, nem beira’, porque é assim que a mulher ficava nessa situação. Hoje, como todo mundo sabe, quando a mulher se separa do marido fica com o amante e ainda fica com o dinheiro.

12. Sigrosa. Masturbação masculina
            Teria se originado de  uma junção das palavras silêncio com gloriosa, da época em que para executar isso era necessário recolhimento e silêncio. Nos tempos atuais o barulho não atrapalha. Ao contrário,  virou opção de relaxamento (preparando-se para o que vem depois) nos desfiles de trios elétricos. Com o som nas alturas e debaixo dos abadares.
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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