sábado, 5 de janeiro de 2013

RESISTÊNCIA LITERÁRIA OU...

artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado




Semana passada, fui solicitado por este caderno Alternativo para fazer um resumo literário do ano passou. Tarefa  difícil dadas as limitações de espaço do jornal e as necessárias considerações inerentes à atual complexidade da relação fazer literário x oportunidades, especialmente num ano comemorativo, em que se esperava muito mais.
                Dito e feito, o espaço foi pequeno, mesmo para um breve apanhado e o resumo acabou ficando mais resumido ainda. (Ainda bem que tive como companheiro de tarefa o escritor e mestre em literatura José Neres, ele, certamente, o mais ativo e entusiasta divulgador da literatura maranhense no âmbito universitário com seu blog e seu jornal virtual).  Efetivamente,  alguma coisa de fundamental se  perdeu no texto por mim escrito, quando ao usar o termo  Resistência Literária pretendi enfatizar  a luta dos escritores tendo  como contraponto uma relação, que se já era de indiferença, aparenta  ficar muito próxima de um embate ( da parte deste ) entre o Poder Público e a Literatura Maranhense atual como se , além de não haver interesse por ela, houvesse discórdia ou reação. Só para dar um exemplo:
                Em 2008 (já se faz, portanto, quase cinco anos) um lesado grupo de escritores laureados com o prêmio Concurso Literário Cidade de São Luis FUNC 2007, entre os quis me incluo, deu  entrada na justiça para receber o prêmio a que fizeram jus e que, absurdamente,   não foi pago como de direito. Já na primeira audiência a reação do juiz, evidentemente favorável aos escritores vilipendiados, dava conta da situação kafkiana com que se deparou, ao deplorar que numa terra intitulada Atenas Brasileira os órgãos oficiais de Cultura  fossem capazes de chegar a tal desfaçatez no trato com seus escritores . A partir daí – acreditem! – com os representantes  da administração  local recorrendo em diversas instâncias e, sempre se opondo à decisão da Justiça, o prêmio até agora não foi pago embora o processo já esteja em fase final ( esperamos).  É como se estes burocratas administrativos, ou sei lá que nome se dê a eles, tivessem raiva não dos escritores, mas da própria literatura,  não?
                Depois desse exemplo, acho que fica mais fácil entender a que me referi  quando tratei  de Resistência Literária. Eis o texto que  escrevi, desta vez, na íntegra.
                                                                              

                Resistência Literária: acho que esse foi o grande destaque no cenário da literatura maranhense nos quatrocentos anos de sua capital.  Entenda-se como Resistência o ato de fazer literatura a despeito  dos percalços que são enfrentados,  por demais  conhecidos dos escritores: falta de leitores, dificuldade de divulgação junto à juventude por indiferença  dos coordenadores de ensino das  escolas, ausência de apoio público, concursos literários ‘tradicionais’ que não se realizam (vide FUNC 2012, etc.) – a literatura sendo tratada como um apêndice incômodo para as realizações culturais oficiais cada vez mais ávidas de fogos de artifício, tão barulhentas quanto efêmeras.
                Nesse ambiente, os lançamentos de bons livros realizados ao longo do ano -  atos isolados de cronistas, pesquisadores e poetas , dos quais prefiro não citar nomes para não olvidar talentos merecedores de louvor-, são atos fortuitos dessa resistência, e não decorrentes de um propósito  cultural abrangente,  por parte das instituições que deveriam zelar por isso.  
                Consigo destacar, porém, as raras mais substanciais manifestações dessa resistência literária a partir de organismos ou grupos que mantiveram ‘acesa a chama’: O Café Literário do Odylo Costa filho, que, sob a coordenação de Ceres Costa Fernandes, alcançou em pouco tempo  uma significância para a literatura da ilha que extrapola a  divulgação e  a edição de excelentes livros através  de palestras muito concorridas; as iniciativas da A.M.L que, num esforço para preservação da memória literária maranhense, celebrou o bicentenário de nascimento de João Francisco Lisboa e mantêm um projeto, ora em andamento, de memória fotográfica e em vídeo de alguns de seus personagens mais marcantes, além da reedição da obra do escritor acima citado; as movimentações do Papo Poético que, idealizado por Paulo Melo e Souza, inicialmente no Chico Bar, possibilitaram  a uma geração de jovens poetas e escritores um escoadouro para suas aspirações literárias através de palestras,concursos  e lançamentos de livros onde pontuou a confirmação, para dar um exemplo, de um poeta do porte de  Josoaldo Rego, editado pela Sete Letras, do Rio ; a iniciativa do instituto GEIA de com um concurso literário (único a festejar, de fato, os 400 anos da cidade) premiar  e editar um livro sobre a História de São Luis;  o Guesa Errante,  com sua sina de ser, ao que tudo indica para sempre, o único suplemento literário dos jornais da ilha....
                Em vista disso, a melhor expectativa que resta para 2013 não podia deixar de ser essa: a de que o PODER PÚBLICO se dê conta finalmente de que ainda reside entre nós essa Resistência Literária - a dos escritores desta terra; que  se seduza e se comova com isso a ponto de , pelo menos, ajudá-la a não arrefecer .                                                                                                                                                                          ewerton.neto@hotmail.com



Um comentário:

  1. Valeu, Ewerton. Você, ao se debruçar sobre a movimentação literária na Ilha, em 2012, também está participando do processo árduo de resistência cultural à qual nos dedicamos nesta terra de gestores públicos cegos, surdos e botocudos, realidade que, esperamos, mude um pouco a partir de agora, com uma administração municipal que empunha o slogan da mudança. Grande abraço! Paulo Melo Sousa.

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