jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Semana passada, fui solicitado
por este caderno Alternativo para fazer um resumo literário do ano passou. Tarefa difícil dadas as limitações de espaço do
jornal e as necessárias considerações inerentes à atual complexidade da relação
fazer literário x oportunidades, especialmente num ano comemorativo, em que se
esperava muito mais.
Dito
e feito, o espaço foi pequeno, mesmo para um breve apanhado e o resumo acabou
ficando mais resumido ainda. (Ainda bem que tive como companheiro de tarefa o
escritor e mestre em literatura José Neres, ele, certamente, o mais ativo e
entusiasta divulgador da literatura maranhense no âmbito universitário com seu
blog e seu jornal virtual). Efetivamente,
alguma coisa de fundamental se perdeu no texto por mim escrito, quando ao usar
o termo Resistência Literária pretendi enfatizar a luta dos escritores tendo como contraponto uma relação, que se já era de
indiferença, aparenta ficar muito próxima
de um embate ( da parte deste ) entre o Poder Público e a Literatura Maranhense
atual como se , além de não haver interesse por ela, houvesse discórdia ou
reação. Só para dar um exemplo:
Em
2008 (já se faz, portanto, quase cinco anos) um lesado grupo de escritores laureados
com o prêmio Concurso Literário Cidade de São Luis FUNC 2007, entre os quis me
incluo, deu entrada na justiça para
receber o prêmio a que fizeram jus e que, absurdamente, não foi
pago como de direito. Já na primeira audiência a reação do juiz, evidentemente
favorável aos escritores vilipendiados, dava conta da situação kafkiana com que
se deparou, ao deplorar que numa terra intitulada Atenas Brasileira os órgãos
oficiais de Cultura fossem capazes de
chegar a tal desfaçatez no trato com seus escritores . A partir daí – acreditem!
– com os representantes da administração
local recorrendo em diversas instâncias
e, sempre se opondo à decisão da Justiça, o prêmio até agora não foi pago
embora o processo já esteja em fase final ( esperamos). É como se estes burocratas administrativos, ou
sei lá que nome se dê a eles, tivessem raiva não dos escritores, mas da própria
literatura, não?
Depois
desse exemplo, acho que fica mais fácil entender a que me referi quando tratei
de Resistência Literária. Eis
o texto que escrevi, desta vez, na
íntegra.
Resistência Literária: acho que esse foi
o grande destaque no cenário da literatura maranhense nos quatrocentos anos de
sua capital. Entenda-se como Resistência
o ato de fazer literatura a despeito dos
percalços que são enfrentados, por
demais conhecidos dos escritores: falta
de leitores, dificuldade de divulgação junto à juventude por indiferença dos coordenadores de ensino das escolas, ausência de apoio público, concursos
literários ‘tradicionais’ que não se realizam (vide FUNC 2012, etc.) – a
literatura sendo tratada como um apêndice incômodo para as realizações
culturais oficiais cada vez mais ávidas de fogos de artifício, tão barulhentas
quanto efêmeras.
Nesse
ambiente, os lançamentos de bons livros realizados ao longo do ano - atos isolados de cronistas, pesquisadores e
poetas , dos quais prefiro não citar nomes para não olvidar talentos
merecedores de louvor-, são atos fortuitos dessa resistência, e não decorrentes
de um propósito cultural abrangente, por parte das instituições que deveriam zelar
por isso.
Consigo
destacar, porém, as raras mais substanciais manifestações dessa resistência
literária a partir de organismos ou grupos que mantiveram ‘acesa a chama’: O
Café Literário do Odylo Costa filho, que, sob a coordenação de Ceres Costa
Fernandes, alcançou em pouco tempo uma
significância para a literatura da ilha que extrapola a divulgação e a edição de excelentes livros através de palestras muito concorridas; as iniciativas
da A.M.L que, num esforço para preservação da memória literária maranhense, celebrou
o bicentenário de nascimento de João Francisco Lisboa e mantêm um projeto, ora em
andamento, de memória fotográfica e em vídeo de alguns de seus personagens mais
marcantes, além da reedição da obra do escritor acima citado; as movimentações
do Papo Poético que, idealizado por Paulo Melo e Souza, inicialmente no Chico
Bar, possibilitaram a uma geração de
jovens poetas e escritores um escoadouro para suas aspirações literárias através
de palestras,concursos e lançamentos de
livros onde pontuou a confirmação, para dar um exemplo, de um poeta do porte
de Josoaldo Rego, editado pela Sete
Letras, do Rio ; a iniciativa do instituto GEIA de com um concurso literário
(único a festejar, de fato, os 400 anos da cidade) premiar e editar um livro sobre a História de São
Luis; o Guesa Errante, com sua sina de ser, ao que tudo indica para
sempre, o único suplemento literário dos jornais da ilha....
Em
vista disso, a melhor expectativa que resta para 2013 não podia deixar de ser
essa: a de que o PODER PÚBLICO se dê conta finalmente de que ainda reside entre
nós essa Resistência Literária - a dos escritores desta terra; que se seduza e se comova com isso a ponto de ,
pelo menos, ajudá-la a não arrefecer . ewerton.neto@hotmail.com
Valeu, Ewerton. Você, ao se debruçar sobre a movimentação literária na Ilha, em 2012, também está participando do processo árduo de resistência cultural à qual nos dedicamos nesta terra de gestores públicos cegos, surdos e botocudos, realidade que, esperamos, mude um pouco a partir de agora, com uma administração municipal que empunha o slogan da mudança. Grande abraço! Paulo Melo Sousa.
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