Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Depois da repercussão da notícia
de primeira página do jornal de
quarta-feira, sobre o V.L.T. um de
nossos repórteres teve a idéia de entrevistá-lo. De início, ao vê-lo abandonado, maltratado e em completa
ociosidade o repórter confundiu-se
.
-
Escute, você é o V.L.T.?
-
Pensei que fosse, mas a verdade é que ando desconfiado que não seja mais. Certa
época houve um ministro da república que dizia que não ‘era’ ministro, mas sim
que ‘estava’ ministro. Comigo se dá o contrário. Não sou V.L.T, estou V.L.T., pelo
menos, até que me permitam sair daqui.
-
Como estás, então, V.L.T?
-
Entregue ao tempo, às chuvas e trovoadas, ao cheiro de mangue, às baratas,
enfim...
-
Por que tão amargurado, amigo?
-
Amargurado? Engano seu, jovem. Nada por aqui é amargo. Se você dissesse ‘salgado’,
aí sim, eu confirmaria: do salitre da água do mar que me enferruja mais
depressa do que eu jamais andei alguma vez na vida.
-
Viemos entrevistá-lo por causa da reportagem do jornal...
-
Então me diga, você acha que fiquei bem
na foto? Sobrou algo de minha antiga opulência? Quando aqui cheguei, há coisa
de um ano, eu parecia “o cara”, desfilando feito Roberto Carlos num carro
alegórico da Beija-Flor. Só que, ao invés de mulatas, quem dançava em torno de
mim eram políticos e puxa-sacos.
-
Você teve seus trinta segundos de fama
V.L.T. , sem dúvida. Pensando bem, algumas horinhas a mais. Mas, tudo
isso passou. Como você se sente agora, fisicamente?
-
Dá para perceber, não é? Desnorteado, enferrujado, confuso, sem rumo e, pior
que isso: sem trilhos.
-
O que aconteceu com seus trilhos?
-
Bem, na melhor das hipóteses o povo furtou. Na outra... Mas, isso é o de menos.
O pior é que me levaram destino e rumo.
-
O que você espera, agora?
-
O que espero? Por ironia do destino estou igual a qualquer passageiro nesta
cidade, esperando indefinidamente que surja um ônibus, um bonde, uma carroça, enfim...
Qualquer coisa que passe por aqui e me leve. Quem sabe, um caminhão de
sucata.
-
Vejo que você está muito descrente,
V.L.T.
-
E não era pra estar? Não faço sequer jus ao meu nome, pois de leve não tenho
nada, trilho não possuo e veículo, só se for para transportar moscas. Deve ter sido por isso que os grafiteiros me
marcaram ( assim como se ferra boi) com
um novo nome que você deve ter visto na foto: SL8WYK 2009-infinito. Você sabe o que
significa? Nem eu, mas esse infinito tem tudo a ver com o período de tempo em
que vão me deixar por aqui. Isso se não me multarem por estar ocupando um
espaço público, pois, como você sabe, para multar eles são muito bons.
-
Como? Que absurdo, e quem pagará?...Afinal de contas, V.L.T, quem é mesmo o seu dono?
-
Meu dono? Ou será que você quis dizer, meu pai? Ora, meu caro, sou igual àquele
filho sem dono da Nega Maluca no samba antigo
de carnaval, passando de prefeito para prefeito , provavelmente até
o final dos tempo, escutando um falar
pro outro: “ Toma que o filho é teu!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário