sábado, 23 de março de 2013

" ESSE CARA " É O VLT


Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


Depois da repercussão da notícia de primeira página  do jornal de quarta-feira,  sobre o V.L.T. um de nossos repórteres teve a idéia de entrevistá-lo. De  início, ao vê-lo abandonado, maltratado  e em  completa ociosidade  o repórter confundiu-se . 
                - Escute, você é o V.L.T.?
                - Pensei que fosse, mas a verdade é que ando desconfiado que não seja mais. Certa época houve um ministro da república que dizia que não ‘era’ ministro, mas sim que ‘estava’ ministro. Comigo se dá o contrário. Não sou V.L.T, estou V.L.T., pelo menos, até que me permitam sair daqui.
                - Como estás, então, V.L.T?
                - Entregue ao tempo, às chuvas e trovoadas, ao cheiro de mangue, às baratas, enfim...
                - Por que tão amargurado, amigo?
                - Amargurado? Engano seu, jovem. Nada por aqui é amargo. Se você dissesse ‘salgado’, aí sim, eu confirmaria: do salitre da água do mar que me enferruja mais depressa do que eu jamais andei alguma vez na vida.
                - Viemos entrevistá-lo por causa da reportagem do jornal...
                - Então me diga, você  acha que fiquei bem na foto? Sobrou algo de minha antiga opulência? Quando aqui cheguei, há coisa de um ano, eu parecia “o cara”, desfilando feito Roberto Carlos num carro alegórico da Beija-Flor. Só que, ao invés de mulatas, quem dançava em torno de mim eram políticos e puxa-sacos.

                                                                          
                - Você teve seus trinta segundos de fama  V.L.T. , sem dúvida. Pensando bem, algumas horinhas a mais. Mas, tudo isso passou. Como você se sente agora, fisicamente?
                - Dá para perceber, não é? Desnorteado, enferrujado, confuso, sem rumo e, pior que isso: sem trilhos.
                - O que aconteceu com seus trilhos?
                - Bem, na melhor das hipóteses o povo furtou. Na outra... Mas, isso é o de menos. O pior é que me levaram destino e rumo.
                - O que você espera, agora?
                - O que espero? Por ironia do destino estou igual a qualquer passageiro nesta cidade, esperando indefinidamente que surja um ônibus, um bonde, uma carroça, enfim... Qualquer coisa que passe por aqui e me leve. Quem sabe, um caminhão de sucata. 
                - Vejo que você está  muito descrente, V.L.T.
                - E não era pra estar? Não faço sequer jus ao meu nome, pois de leve não tenho nada, trilho não possuo e veículo, só se for para transportar moscas.  Deve ter sido por isso que os grafiteiros me marcaram ( assim como se ferra boi)  com um novo nome que você deve ter visto na foto:  SL8WYK 2009-infinito. Você sabe o que significa? Nem eu, mas esse infinito tem tudo a ver com o período de tempo em que vão me deixar por aqui. Isso se não me multarem por estar ocupando um espaço público, pois, como você sabe,  para multar eles são muito bons.
                - Como? Que absurdo, e quem pagará?...Afinal de contas, V.L.T, quem  é mesmo o seu dono?

                                                                         
                - Meu dono? Ou será que você quis dizer, meu pai? Ora, meu caro, sou igual àquele filho sem dono da Nega Maluca no samba antigo  de carnaval, passando de prefeito para prefeito , provavelmente até o  final dos tempo, escutando um falar pro outro:  “ Toma que o filho é teu!”. 
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                                                              http://www.joseewertonneto.blogspot.com


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