artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Deus nos livre de um papa
brasileiro. Para começar, se sem Papa
todo mundo já pensa que Deus é
brasileiro, como será depois desse dia? Deus passará a ser encontrado neste
país a toda hora e em cada esquina : seja comendo um cachorro-quente
no Sousa ou participando de um pagode na casa do vizinho.
E
haja tratar de pedir sua ajudazinha o quanto antes e para tudo (contando para
isso com a mediação providencial de
“gente da gente”). Seja para declarar o
imposto de renda, ou para incluir mais um filho na cesta básica. Mas, se algum
pedido não for atendido...Coitado de
Deus, mas, principalmente...do novo papa.
Este sim, não
terá mais um minuto de paz sequer para desejar paz para os fiéis, já que levará
mais tempo dando perdão do que orando. Porque gente necessitada disso neste
país é o que não falta. Logo estarão na fila do perdão: mensaleiros, goleiros de times de futebol acusados de assassinato, ministros,
periguetes, artistas de tevê, ex Big-Brothers, perdedores de pênalti e guardadores de carro. A onda de crimes neste país aumentará para valer porque, claro, o perdão divino nunca
esteve tão à mão. Os políticos passarão
a roubar mais ainda porque será fácil dizer diante de uma propina: “De troco passa uma grana que seja no mínimo suficiente para
que eu possa ir à Roma com toda minha
família num jato particular. Lá peço perdão ao papa, que é parente de um cardeal que me deve um
favorzinho, e todos os meus pecados estarão resolvidos.”
E
a relação com a mídia? Será um inferno no céu (sem trocadilhos) para o pobre
papa. De saída, no primeiro carnaval após
ser empossado já será escolhido como
enredo de uma grande escola de samba do Rio e, lógico, convidado para desfilar no sambódromo em cima
de um carro-alegórico. Isso depois de ter feito uma ponta em um capítulo de Salve
Jorge. Em sua homenagem, ao longo do ano, serão compostas músicas e mais
músicas uma das quais adaptada de a Ave-Maria , de Shubert, em ritmo de
reggae gravada por Ivete Sangalo em cima de um trio elétrico.
Após
alguns meses como papa, logo aparecerá um escritor brasileiro, até então desconhecido, para escrever a sua
biografia. E descobrirá que Carlinhos Cachoeira esteve envolvido na sua eleição
e está cobrando uma baita grana do Vaticano para permanecer calado. Um grande diretor
de novelas da TV Globo se adiantará
para pleitear ajuda da Lei Rouanet para fazer um filme baseado na obra. Enquanto
isso, em Roma, causará sensação internacional
uma imensa fila de brasileiros em frente ao Vaticano . Só que, ao invés
de ser uma fila para pedir a benção papal, será de brasileiros querendo ser
santos. De Zé Dirceu a Bruna Surfistinha – que virou religiosa.
Antecipando-se
a um debate nacional cada vez mais acirrado os governadores do Nordeste exigirão em praça pública a
distribuição equitativa dos royalties – ops, dos santos. De padre Cícero a
Tancredo Neves os políticos exigirão que isso seja feito sem discriminação
contra os estados mais pobres. E, principalmente, que isso seja feito a toque de caixa. O governador do Ceará berrará , no domingão do Faustão, que caso Padre Cícero não seja santificado em
dois dias, prescindirá da mediação do papa e falará direto com Deus.
O
pior de tudo é que sequer renunciar como
fez Bento XVI, o papa brasileiro poderá
fazer. É que será perseguido pela lembrança implacável da anterior renúncia de
Janio Quadros com o qual será inevitavelmente comparado. Pensará então que
talvez seja preferível se suicidar.
Mas,
como suicidas não merecem o céu pelas leis da igreja...Melhor jamais ser eleito.
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