artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Ninguém sabe quando o tempo começou se é que começou. É
sempre bom lembrar que o tempo nunca foi um sujeito digamos assim,
reconhecível. Tem muita gente sábia, inclusive, que acha até que ele nunca existiu.
Ora, que ele não existirá um dia, isso não resta a menor dúvida, pois
morreremos. Mas quanto a sua existência no passado e presente....
Tenho a
impressão de que Albert Einstein, num momento mais de sutileza do que de
sabedoria criou a tal de Teoria da
Relatividade para resolver essa questão. Ao dizer que o tempo é relativo,
ficando em cima do muro, como um bom mineiro, selou definitivamente a sina do
tempo como elemento improvável, sem revelar
que este nunca passou de uma invenção humana.
Relativo, ora bolas! Que você diria a um médico que um dia lhe confirmasse que
o filho era seu, mas que isso era relativo, e - ainda mais-, a depender da
velocidade da luz? Como? – você responderia - A depender de quê cara-pálida? Você
está querendo dizer da velocidade com que essa mulher dá a luz com outro?
2.Durante
milhões de anos pairou sobre nós a
desconfiança de que o tempo era coisa de quem não tinha o que fazer, mas a verdade é que ninguém ligava muito pra
ele. Vivia-se, ou melhor, sobrevivia-se
e isso era mais importante que o tempo. Se sobrava vida, quem ligava para o tempo? As
preocupações só começaram pra valer depois da revolução industrial quando chegaram
as locomotivas. A partir daí,
agora sim, pois precisava se saber que
hora um trem ia chegar e partir. Foi então que os homens adotaram o relógio, sem desconfiar de que estavam entrando numa fria.
3. (Na
verdade, com essa invenção, os homens julgaram estar matando dois coelhos com
uma cajadada só: primeiro a dúvida científica, segundo a filosófica. Quanto à
científica, o relógio foi um achado, pois ao proporcionar a medição comparativa
do que estava acontecendo, tomando como referência uma volta da terra em torno
do seu eixo, o tempo colocava-se a serviço do homem, mais ou menos como sempre foi
exigido que Deus assim o fizesse. Quanto à filosófica, a essas alturas, o “Penso, logo existo” de Descartes já não resolvia a questão
fundamental do orgulho humano. Sim, porque após Darwin ter provado que até um
chimpanzé pensava também, nossa
existência perdeu um tanto de sua aura
de divindade. Ora, se não passamos de chimpanzés, tão feios e tão pouco inteligentes
quanto, que raios estamos fazendo aqui ? Para que serve a nossa existência?)
E foi assim
que, como se tivéssemos finalmente aprisionado o tempo numa caixinha (se temos o
tempo e o controlamos ,devemos existir, ora pois!), recuperamos o nosso orgulho e este se fez cada vez mais presente na vida moderna.
4. Algumas
dezenas de anos se passaram, mas já foram suficientes para comprovar o que não queremos
pensar, mas temos certeza. Oprimidos, neuróticos, limitados, controlados por
uma caixinha presa em volta do braço os homens é que se tornaram escravos de
sua própria criação. Tal e qual prisioneiros, que ganham a liberdade condicional
às custas de serem vigiados por uma
tornozeleira, é como se também fôssemos prisioneiros, carregando
relógios ao invés , a nos determinar o que devemos fazer hoje, amanhã e sempre. Sem
entender o que está ocorrendo, só nos resta vociferar contra o tempo convictos de que se não há outra saída temos de nos vingar dele de alguma forma . “Que
merda de tempo difícil” “Por que esse tempo está passando tão depressa?” “Ah,
se Deus me desse um pouquinho mais de tempo!”
O curioso é
que xingamos o tempo mas esquecemos de acusar o relógio, máquina que inventamos e que nos aprisiona e tortura. Admitindo
que o tempo exista mesmo, bem que ele
poderia responder: “Pare de me xingar, insensato,
e se preocupe um pouco mais consigo mesmo. Livre-se do seu relógio. Sua vida
vale muito mais que ele.”
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