artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje,
sábado
Juventude é uma palavra do tipo das que evocam algo que todo
mundo sabe o que é, mas que, quando chamados a explica-la, ninguém consegue
fazê-lo perfeitamente. Mais ou menos
como tempo, infinito, amor, etc. Causa espécie, portanto, que existam países ou
estados que adotem em suas funções públicas órgãos como Secretarias da
Juventude, ou Ministérios da Juventude. Qualquer dia vão inventar o Ministério do Amor, porque
o da Felicidade, esse já existe ( na Venezuela, creio). Ora, como haver uma secretaria direcionada a algo que não se sabe exatamente o que é? Onde
começam as atribuições e onde terminam?
Admitindo
que isso seja um esforço, meritório ,
diga-se de passagem, dirigido a uma faixa etária da vida da população, carente
de assistência, como determinar com precisão essa faixa? Outro dia li um artigo
da BBC News , reproduzido pela Internet em que psicólogos britânicos chegaram à
conclusão de que a adolescência não era mais a mesma, e sua vigência deveria se
estender até os 25 anos. Se isso for verdade, onde começaria a
juventude, hoje? Ou será que acabou? Tento imaginar a confusão na definição das
atribuições peculiares a um serviço que não sabe exatamente a quem se dirige. Tanta dificuldade teria tudo para gerar uma carga adicional que certamente
ocuparia pelo menos um ano de serviço dos funcionários desse órgão: “a
definição do para que e para quem
estamos aqui”. Há de se formar comissões, seminários , estudos e pesquisas e eis que, com isso, se arranjou o que fazer em pelo menos um ano de
atividades bastante pródigas em direção a...A quem mesmo?
Uma outra questão de conteúdo menos pragmático e
mais filosófico, talvez seja a de natureza ética, digamos assim. Ora,
porque uma predisposição direcionada a promover melhorias no bem-estar da
juventude e não da infância ou da velhice
– sabidamente mais necessitados? Não estaria havendo aqui uma espécie de
discriminação contra os menos dotados de vida e saúde , disfarçada sob o eflúvio de uma
sedução benfazeja que sempre acontece quando se usa o termo juventude? Como se
sabe nem os velhos gostam de serem chamados de velhos, mas, seria função dos governos
dourar suas realizações em termos dessa expectativa ou efetivá-las, independente de
faixa etária? Na verdade, tudo fica mais
vago quando, para definição do que se pretende ( ou do que não se pretende), os governos se apropriam dessas palavras que
abrangem muito mais que exprimem. Deve soar mais bonito um ministério ou uma
secretaria da juventude que uma da velhice, mas é sempre bom lembrar o risco instalado
quando se recorre ao que tanto pode
dizer tudo como absolutamente nada, para
que o desempenho final não seja tão vago como as palavras que os
inspiraram.
Apenas para não
perder de vista o mistério que é a juventude, um esforço do cronista com uma
ajuda inicial de Jean Cocteau para lembrar o que poderia ser, o que não é, o
que nunca será, essa tal de juventude,
em singelas tentativas:
1.”A
juventude é uma conquista da maturidade”. Jean Cocteau
2.Juventude
é aquela fase da vida do ser humano que ele nunca sabe exatamente quando
começa; sabe menos ainda enquanto permanece; e faz questão absoluta de jamais
saber quando termina.
3.A vida de
um ser humano é aquilo que sobra, depois
da eternidade de 4 ou 5 anos de juventude.
4.A
juventude não existe. Para os jovens porque não aprenderam o suficiente para
vivê-la. Para os velhos porque não têm vida suficiente para apreendê-la.
5.Onde está
a juventude?. Na vida moderna se passa diretamente de criança adultificada para
adulto infantilizado.
6.A
juventude não é uma época, uma estação para pessoas com pouca idade, mas um
encontro , independente da idade, de alguém com seu próprio deslumbramento.”
7.A
juventude é uma viagem que você fez por pouco tempo , em uma época imprecisa, a
um corpo e alma de alguém, que tinha uma
capacidade surpreendente de fingir que era você.
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