sábado, 24 de janeiro de 2015

O CERTO ERRADO E O ERRADO CERTO




Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado


A velha questão do que é certo e o que é errado, confundiu de alguns dias para cá franceses, muçulmanos, jornalistas, papa, presidentes, cartunistas, palhaços, soldados... enfim, a humanidade inteira. Ávidos por se pronunciarem todos parecem ter esquecido o que de melhor a humanidade criou justamente no sentido de se chegar, pelo menos perto, do que é certo ou errado: as leis.
            Parece óbvio que a partir da Internet e da explosão de exibicionismo do final do século passado estimulado pelas redes sociais ( que proporciona a cada um a veleidade de dar palpite em relação a assuntos sobre os quais não domina ) cada um se arvora a detentor da verdade absoluta em relação a fatos do cotidiano, esquecido de que quando existem dúvidas em relação ao certo e o errado deveriam prevalecer as leis,  por mais esdrúxulas que possam parecer. 




                                                      





 Assim, aqui, lá e acolá,  pipocaram as opiniões sobre o episódio de Paris: “Je suis Charlie”, “je ne suis pas Charlie”, “minha mãe é Charlie, meu pai não é” , “meu papagaio é Charlie, meu gato também”, “o padre é Charlie, mas a freira não”,  etc. só não apareceu um sabe-tudo  para dizer: “Eu não sou nem fui nem nunca serei Charlie até porque meu nome é Zé João, não quero ser ninguém mais do que isso, e Deus me livre de um dia nascer Charlie ou raios que os partam se,  para ter direito a cinco segundos de fama e ser carregado num caixão de defunto perfumado e rodeado de reis e presidentes,  tiver que  levar uma bala no focinho.”
            Deve ser por aí a causa do porquê de tanta gente ter virado - ou não - Charlie durante cinco segundos porque, nesses dias em que todos são influenciados por um mundo virtual que privilegia o escapismo e a aderência a modismos degradantes como o BBBrasil, por exemplo,  a maioria ainda não aprendeu (nem jamais se preocupou em aprender)  sequer o que é. E por não saber o que cada um é (e os seus próprios limites) a bizarria dos delírios de cada um se propaga como epidemia: terrorista vira herói, cartunista de segunda vira gênio, provocação vira talento, time de futebol vira religião, religião vira time de futebol, político vira Deus e puxa-saco vira ministro, ou seja, já que a vida moderna não passa de um imenso BBBrasil todos recusam-se a perceber que não passam de míseros personagens à procura de um autor (como diria Pirandello) .  




                                                   







                        2. Temos que admitir, consternados, porém, que uma das razões para a adoção continuada de soluções pessoais,  seja o fato de que, a essas alturas ( depois de milhões de anos de existência de uma raça que se diz inteligente) existirem leis completamente diferentes em cada país para ordenar o comportamento de seu povo. Mais ou menos como se se chegasse à conclusão de que as leis não foram feitas para controlar os erros dos seus indivíduos, mas sim para se adaptarem ao temperamento e ao caráter desses indivíduos, da mesma forma como nos tempos das cavernas, o que prova que a humanidade jamais evoluirá para  encontrar leis uniformes e universais.
            Assim, o sujeito que é traficante de cocaína na Indonésia por lá é condenado a morte, mas no Brasil não (se duvidar o cara vira herói e tem filme baseado em sua biografia, com Cauã Raymond como personagem). O crime de corrupção idem, no Japão é punido com prisão  perpétua, mas, antes disso  sujeito fica com tanta vergonha do ultraje que na maioria das vezes se suicida. No Brasil, pelo contrário,  um corrupto profissional se reelege quantas vezes quiser,  vira estátua , nome de campo de futebol, recebe homenagens e morre orgulhoso por ter casado com uma perua da sociedade e ter direito a um harém com uma penca de prostitutas novas e pobres, para gastar a grana que usurpou.




                                               





            Sei não, mas acho que já no século XXI, nós humanos, precisamos urgentemente desenvolver  através de nossos melhores filósofos, juristas, cientistas, psicólogos etc. um novo conceito de lei para as regras que vão reger o presente século , pois o que existe até agora provou-se insuficiente. Será que não chegou  a hora e a vez do ‘certo errado e o errado certo’? Assim, claro, não resolve, porém  fica mais fácil.
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com                                                                        http://www.joseewertonneto.blogspot.com


                        

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