Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
A velha questão do que é certo e o que é errado, confundiu de
alguns dias para cá franceses, muçulmanos, jornalistas, papa, presidentes,
cartunistas, palhaços, soldados... enfim, a humanidade inteira. Ávidos por se
pronunciarem todos parecem ter esquecido o que de melhor a humanidade criou
justamente no sentido de se chegar, pelo menos perto, do que é certo ou errado:
as leis.
Parece óbvio
que a partir da Internet e da explosão de exibicionismo do final do século
passado estimulado pelas redes sociais ( que proporciona a cada um a veleidade
de dar palpite em relação a assuntos sobre os quais não domina ) cada um se
arvora a detentor da verdade absoluta em relação a fatos do cotidiano,
esquecido de que quando existem dúvidas em relação ao certo e o errado deveriam
prevalecer as leis, por mais esdrúxulas
que possam parecer.
Assim, aqui, lá e
acolá, pipocaram as opiniões sobre o
episódio de Paris: “Je suis Charlie”, “je ne suis pas Charlie”, “minha mãe é
Charlie, meu pai não é” , “meu papagaio é Charlie, meu gato também”, “o padre é
Charlie, mas a freira não”, etc. só não
apareceu um sabe-tudo para dizer: “Eu
não sou nem fui nem nunca serei Charlie até porque meu nome é Zé João, não
quero ser ninguém mais do que isso, e Deus me livre de um dia nascer Charlie ou
raios que os partam se, para ter direito
a cinco segundos de fama e ser carregado num caixão de defunto perfumado e rodeado
de reis e presidentes, tiver que levar uma bala no focinho.”
Deve ser por
aí a causa do porquê de tanta gente ter virado - ou não - Charlie durante cinco
segundos porque, nesses dias em que todos são influenciados por um mundo
virtual que privilegia o escapismo e a aderência a modismos degradantes como o
BBBrasil, por exemplo, a maioria ainda
não aprendeu (nem jamais se preocupou em aprender) sequer o que é. E por não saber o que cada um
é (e os seus próprios limites) a bizarria dos delírios de cada um se propaga
como epidemia: terrorista vira herói, cartunista de segunda vira gênio,
provocação vira talento, time de futebol vira religião, religião vira time de
futebol, político vira Deus e puxa-saco vira ministro, ou seja, já que a vida
moderna não passa de um imenso BBBrasil todos recusam-se a perceber que não
passam de míseros personagens à procura de um autor (como diria Pirandello) .
2.
Temos que admitir, consternados, porém, que uma das razões para a adoção
continuada de soluções pessoais, seja o
fato de que, a essas alturas ( depois de milhões de anos de existência de uma
raça que se diz inteligente) existirem leis completamente diferentes em cada
país para ordenar o comportamento de seu povo. Mais ou menos como se se chegasse
à conclusão de que as leis não foram feitas para controlar os erros dos seus indivíduos,
mas sim para se adaptarem ao temperamento e ao caráter desses indivíduos, da
mesma forma como nos tempos das cavernas, o que prova que a humanidade jamais evoluirá
para encontrar leis uniformes e
universais.
Assim, o
sujeito que é traficante de cocaína na Indonésia por lá é condenado a morte,
mas no Brasil não (se duvidar o cara vira herói e tem filme baseado em sua
biografia, com Cauã Raymond como personagem). O crime de corrupção idem, no
Japão é punido com prisão perpétua, mas,
antes disso sujeito fica com tanta
vergonha do ultraje que na maioria das vezes se suicida. No Brasil, pelo
contrário, um corrupto profissional se reelege
quantas vezes quiser, vira estátua ,
nome de campo de futebol, recebe homenagens e morre orgulhoso por ter casado
com uma perua da sociedade e ter direito a um harém com uma penca de prostitutas
novas e pobres, para gastar a grana que usurpou.
Sei não, mas
acho que já no século XXI, nós humanos, precisamos urgentemente desenvolver através de nossos melhores filósofos,
juristas, cientistas, psicólogos etc. um novo conceito de lei para as regras
que vão reger o presente século , pois o que existe até agora provou-se insuficiente.
Será que não chegou a hora e a vez do ‘certo
errado e o errado certo’? Assim, claro, não resolve, porém fica mais fácil.
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