1.Na época em que O Vasco da Gama foi
fundado, 1898, o turfe, o ciclismo e o
remo eram as modalidades esportivas que seduziam os jovens na capital da
República. D,Pedro II ainda era o regente quando no Brasil surgiram as
primeiras agremiações dos esportes náuticos.
A sedução pelos esportes náuticos dava-se pela movimentação das elites dos centros
urbanos fugindo da insalubridade em busca do ar puro da orla da baía de
Guanabara. O mar sugeria saúde em
contraponto aos lugares centrais vítimas da sujeira provocada pela contaminação
dos esgotos a céu aberto, proliferando epidemias.
Nas 3 primeiras décadas de sua fundação o Vasco tornou-se uma das
principais agremiações do remo só vindo a aderir ao futebol em 1915 após sua
fusão com o Lusitânia SC, que também nasceu da colônia portuguesa do Rio. Com o
nascimento da República as associações desportivas cariocas começaram a se
estruturar como times de futebol a partir de 1904.
2.No ano 1922, já na primeira divisão
o Vasco venceu todas as disputas que participou. E qual era o seu diferencial? No Vasco todos
participavam diariamente de treinos técnicos e físicos. Em seu livro O negro no
futebol brasileiro Mario Filho escreve: ‘Às vezes, de noite, se a noite era de
lua podiam-se ver os jogadores do Vasco
treinando.” Mas havia uma outro diferencial a ser destacado: a origem de seus
jogadores. Clubes como Fluminense, Botafogo e Flamengo eram formados por jovens
da classe média carioca. O Vasco apresentava um time de gente negra e parda, operários
oriundos da classe pobre, trazidos da periferia da cidade.
A massa sentia-se atraída a acompanhar
o Vasco onde quer que fosse, provocando ressentimento dos adversários. Para
eles o Vasco era um estranho no ninho que, no entanto, vencia e vencia. Assim que tricolores,
flamenguistas etc deram-se conta de que iam para os estádios para assistir a
derrota dos seus para os ‘camisas pretas’ a coisa mudou de figura. A bronca com os
portugueses, gerada por uma onda de xenofobia era que, se não fosse por eles, aquele time formado por operários, pretos e
mulatos não estaria desafiando e vencendo
gente de boa família.
Começou então uma onda de xenofobia e
jacobinismo. Ainda Mário Filho: “O português levava a culpa. Pouco importava
que o time do Vasco com seus brancos,
pardos, mulatos e negros fosse brasileiríssimo.”
O resto já se sabe. Inexplicável má
vontade perdura até hoje contra o clube especialmente na mídia dominante no Rio
e, daí para o país, a ponto de se tentar
transferir para outros times toda aura de popularidade e tradição vanguardista conquistada, em sua
origem, pela equalização dos direitos individuais e pela absorção dos desvalidos.
Bastou um resultado adverso na copa de 1950 para se iniciar o processo de
tentativa de demolição da popularidade do time, (que foi a base dessa seleção
brasileira) escolhendo-se para bode expiatório o grande goleiro Barbosa, eternamente
considerado culpado pelo revés, por causa de sua negritude.
Nada disso arrefece o apego de sua
torcida ao time apesar de recentes dissabores. Combalido financeiramente à
reboque de administrações desastrosas, peculiares
à estrutura avulsa do futebol brasileiro, o Vasco , no entanto, ostenta como
patrimônio , além de sua imensa torcida, um estádio de futebol, São Januário, que é o único dessa envergadura no país, a ter sido construído, tijolo por tijolo, com a
ajuda apenas do suor de seus torcedores.
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